O prêmio ao senador pró-aborto e o problema das entrevistas improvisadas do Papa

Fonte: Wanderer

Artigo do dia 01 de outubro do blog Wanderer sobre a polêmica envolvendo o cardeal Cupich, o senador pró-aborto Richard Durbin e a entrevista improvisada de Leão XIV:

A história é conhecida e, ao mesmo tempo, decepcionante. O cardeal Blaise Cupich, arcebispo de Chicago, decidiu conceder uma medalha — algo muito típico dos norte-americanos — ao senador Richard Durbin como “prêmio por suas realizações”, em reconhecimento ao seu trabalho nas políticas de imigração (ou seja, pelo seu antitrumpismo), apesar do histórico de votos claramente favoráveis ao aborto que o referido senador possui. Vários bispos dos Estados Unidos condenaram a iniciativa do cardeal: a Igreja não pode homenagear alguém que apoia publicamente a prática do aborto. Finalmente, ontem, soube-se que o próprio Durbin recusou a honraria, provavelmente motivado pela forte oposição que encontrou dentro da Igreja norte-americana.

A questão é que o Papa Leão, entrevistado por vários jornalistas à saída de sua residência em Castel Gandolfo, respondeu brevemente e de modo improvisado:
“Compreendo as dificuldades e tensões. Mas creio que, como já disse no passado, é importante considerar muitos temas relacionados aos ensinamentos da Igreja. Alguém que diz ser contra o aborto, mas é favorável à pena de morte, não é realmente pró-vida. Alguém que se opõe ao aborto, mas concorda com o tratamento desumano dado aos imigrantes nos Estados Unidos — não sei se isso é ser pró-vida. São questões muito complexas, e não sei se alguém possui toda a verdade sobre elas. Mas eu pediria, antes de tudo, que se respeitem uns aos outros e que busquemos juntos, como seres humanos, como cidadãos dos Estados Unidos e do estado de Illinois, e também como católicos, a proximidade com todos esses temas éticos. E que encontremos, como Igreja, o caminho a seguir. O ensinamento da Igreja sobre cada um desses temas é muito claro.”

Não vale a pena analisar detalhadamente os argumentos do Santo Padre, simplesmente porque, nesta ocasião, eles não foram expostos com clareza. Suas palavras acabam demonstrando o que já havíamos comentado na semana passada: o cardeal Robert Prevost recebeu uma formação teológica frágil, no momento mais confuso do pós-concílio, e em um ambiente pouco propício à boa teologia. Por isso dizíamos que não se pode esperar frutos sólidos de uma raiz tão debilitada. Afirmar que “não sei se alguém tem toda a verdade sobre isso” revela, ao menos, uma certa carência de fundamentos teológicos: toda a verdade sobre todos os temas está em Jesus Cristo, de quem a Igreja é a legítima intérprete. É curioso, contudo, que o Papa reconheça que “a doutrina da Igreja é muito clara”, mas pareça não ter plena consciência do que ela ensina em cada ponto.

A ideia de que não existe uma verdade absoluta e definitiva conduz a dúvidas no campo moral e, consequentemente, relega a religião ao âmbito do subjetivo — onde o essencial se torna apenas o respeito mútuo e a convivência pacífica. Assim, corre-se o risco de desligar a comunhão eclesial da verdade revelada, reduzindo-a a uma mera tolerância, como se cada um pudesse ter sua própria visão sobre o aborto. Em última instância, a fé acaba sendo entendida como uma disposição cordial, e não como adesão à Verdade.

Desejo, contudo, insistir que Leão XIV é um homem de boa vontade. Esses equívocos decorrem, creio eu, de sua insuficiente formação teológica — o que, em si mesmo, não seria um grande problema. Ao longo da história da Igreja, houve Papas que não eram teólogos, mas que falavam com prudência, quase sempre por meio de documentos cuidadosamente preparados. E, quando falavam de improviso, faziam-no diante de um grupo restrito de pessoas, o que limitava o alcance de suas palavras. Hoje, porém, os Papas são ouvidos por milhões de pessoas, e uma frase mal colocada pode gerar grande confusão, como infelizmente ocorreu neste caso.

Permito-me então, com humildade filial, dirigir uma súplica ao Santo Padre: que evite falar de improviso sobre temas delicados. A Igreja, com sabedoria, instituiu há séculos a figura do “Mestre do Sagrado Palácio”, hoje chamado Teólogo da Casa Pontifícia — sempre um dominicano —, cuja função é justamente assessorar o Papa em questões de fé, moral e magistério, além de revisar teologicamente os documentos pontifícios.

Santíssimo Padre, quando desejar manifestar sua opinião sobre determinado tema, não é necessário redigir um documento que passe por revisões e censuras, mas é conveniente que antes o consulte com seu teólogo pessoal. Isso evitará, e evitará à Igreja, muitos problemas.

Santíssimo Padre, talvez Vossa Santidade não possua o conhecimento teológico necessário em certas matérias, e, sobre aquilo que não se conhece bem, é mais prudente guardar silêncio.

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