S. Francisco de Sales, doutor
Bispo, doutor da Igreja e Padroeiro da Boa Imprensa Católica
Nascimento
21/08/1567, Sabóia, França.
Morte
28/12/1622, Lyon, França.
Beatificação
1662, pelo Papa Alexandre VII
Canonização
1665, pelo papa Alexandre VII
Festa Litúrgica
29 de Janeiro
Onde Foi Congregado
Colégio dos Jesuítas em Clermont- Ferrand, França
São Francisco de Sales nasceu em 21 de Agosto de 1567 no Castelo de Sales, em Saboia, França, próximo a Annecy. Foi o primogênito de treze filhos do casal Francisco de Boisy e Francisca de Sionas.
Seus pais, além de nobres, possuíam grande piedade, principalmente sua mãe, que nos primeiros meses de gravidez, ofereceu a Deus o menino que trazia no ventre, de modo que Nosso Senhor o preservasse do pecado, privando-a, se preciso fosse, do prazer de se ver mãe a permitir que a criança fosse um dia corrompida.
Ele nasceu de sete meses, dando à família e aos médicos que o cuidavam grande preocupação durante os primeiros anos, tamanha era sua fraqueza. Após essa fase, cresceu robusto, tendo adquirido uma singular beleza e um encanto próprio, que arrancavam admirações. Mas não era só isso que cultivava. Possuía algo bem maior, uma natureza interior muito boa, rara modéstia, doçura e absoluta submissão aos pais e mestres, além de ser brilhante e estudioso.
O papel de sua mãe, a condessa de Sales, e o talento estudantil de São Francisco
A condessa tinha para seu filho um imenso cuidado, de modo que não o perdia de vista um instante. Ela serviu ao Santo de grande exemplo, levando-o à Igreja, inspirando-lhe um respeito profundo à casa de Deus, fazendo leituras da vida dos santos e fazendo-o acompanhá-la nas visitas aos pobres.
Francisco correspondeu muito bem aos ensinamentos da mãe, pois foi um menino cuja devoção e piedade eram avançadas para sua idade. Tinha um grande amor para com os pobres, sempre dispensando o que lhes era necessário, até mesmo privando-se de comida para lhes fornecer. Era tão extraordinário que quando caía em erros próprios dos meninos, punha-se a ser castigado ao invés de buscar uma saída.
Sua mãe tinha tanto cuidado para com Francisco que teve receio de enviá-lo a escolas públicas, de modo que preferia a contratação de mestres capazes de lhes ensinar as letras humanas em casa. Contudo, o pai persuadiu-a a aceitar que o filho fosse enviado a uma escola para ser bem instruído nas ciências.
Portanto, aos seis anos foi direcionado ao colégio da Roche e logo após para o de Annecy, onde recebeu o sacramento da confirmação. Obteve um ótimo progresso escolar, pois possuía uma excelente memória e sempre complementava as lições aprendidas com os mestres mediante outras leituras e exercícios.
Lia bastante também os livros sobre os santos para nutrir sua piedade. Foi nesta época que S. Francisco iniciou a sentir o chamado ao exercício do sacerdócio. Em 1578, aos onze anos de idade, seu pai o enviou a Paris para terminar os estudos.
Antes disso, sua mãe, que permaneceria mais distante de Francisco, redobrou o zelo para firmá-lo na virtude. Sempre exortava-o a fugir das ocasiões de pecado e repetia-lhe o que a rainha Branca dizia a São Luís: “Meu Filho, preferiria ver-vos morto a saber que cometestes um único pecado mortal.”
Estudou retórica e filosofia no colégio jesuíta, onde conheceu a Congregação Mariana e foi congregado. Demonstrou mais uma vez um grande êxito. Aprendeu ainda hebraico, grego e teologia.
A vida espiritual de São Francisco de Sales
Como já dito, Francisco ocupava-se bastante da vida espiritual, por meio de exercícios de piedade e pela leitura da vidas dos santos. Tinha grande prazer em meditar e ler as Sagradas Escrituras. Depois delas, tinha um grande apreço pelo Livro Combate espiritual, do padre Scupoli, do qual nunca se separava. Preocupava-se em estar na companhia de pessoas virtuosas, principalmente do padre Ange, anteriormente marechal na França, que havia largado as patentes para tornar-se capuchinho. A amizade com o padre e as conversas sobre mortificação, levaram Francisco a usar cilício três vezes por semana.
Além disso, fez voto de castidade perpétua na Igreja de Santo Estêvão des Grés, colocando-se logo em seguida sob a proteção da Santíssima Virgem, rogando-lhe que fosse sua advogada, a fim de que obtivesse a graça da continência.
Posteriormente, o Santo passou por um momento sombrio, no qual sentiu uma violenta agitação, caindo numa secura e melancolia desesperadora, compreendendo que Deus havia lhe incluído entre os réprobos. Francisco pôs-se a temer grandemente, chorando noites e dias. Adoeceu de icterícia e já não conseguia mais comer e beber. Seu tormento passou quando visitou a Igreja de Santo Estêvão novamente, onde encontrou-se com um quadro de Nossa Senhora. Naquele instante, renasceu sua confiança e mais uma vez Francisco prostrou-se diante da Virgem Maria e, rezando a oração Lembrai-vos, pediu-Lhe que intercedesse por seu servo diante de Deus para que pudesse amá-lO verdadeiramente.
Aos 17 anos terminava os estudos acadêmicos, de modo que foi encaminhado pelo pai para estudar em Pádua, onde passou a ser acompanhado por um padre chamado Antônio Possevin, com o qual estudava filosofia de São Tomás e firmava sua vida espiritual em busca de um caminho de perfeição.
Ali, Francisco preparou uma regra de vida, que ficaria conhecida depois como Regra de Pádua, enraizada em estar sempre na presença de Deus e em implorar o auxílio da graça no início de cada ato praticado.
Nesta cidade, o conde foi acometido por uma grave enfermidade, a ponto de ser desenganado pelos médicos. Francisco mostrou-se resignado com a vontade de Deus e alegrava-se com a possibilidade de contemplá-lO logo. O Santo dizia que após a sua morte seu corpo deveria ser entregue à faculdade de medicina para que fosse útil pelo menos após a morte. Milagrosamente, a sua saúde foi recomposta, tendo logo depois reiniciado os estudos, recebendo o grau de doutor em direito civil e canônico aos 24 anos, após conseguir ótimos resultados na provas, demonstrando a sua superioridade de inteligência, que arrancava admirações dos estudiosos de Pádua.
A escolha pelo sacerdócio
Sendo Francisco um homem bastante promissor, o pai logo lhe conseguiu um rico partido e a provisão de um cargo de conselheiro no senado de Chambéry. O jovem recusou ambos, diante do seu desejo em sacerdote.
Sabendo que seu pai não gostaria da ideia e não desejando desobedecê-lo, foi até seu primo, Luis de Sales, cônego da catedral de Genebra, o qual, após grandes dificuldades, conseguiu ajudar Francisco.
Deu início a sua formação e logo após receber o diaconato, foi incumbido dos sermões da Missa, os quais lhe renderam muitos frutos. Sua fala era agradável, ao mesmo tempo que era forte, viva e animada, mas sem ostentação de si. Era um homem humilde que antes de pregar, renovava preces fervorosas perante Deus. Compreendia que seus estudos não seriam suficientes se não se pusesse aos pés do crucifixo com frequência.
Foi então ordenado sacerdote em 18 de dezembro de 1593. Desde então, rezava a Missa todos os dias, o que ocorria corriqueiramente de manhãzinha para que logo após atendesse as confissões de quantos se apresentassem.
Tinha grande apreço por percorrer as aldeias mais distantes, demonstrando mais uma vez o que havia aprendido com sua mãe, cuidando dos mais ignorantes e demonstrando caridade para com os enfermos e pobres. Convivia com as pessoas mais rudes, considerando-os como filhos. Para todos dispensava imensa doçura.
O estado colérico de São Francisco de Sales
Mal sabiam todos que Francisco nascera com um caráter colérico, ou seja, tendente à impaciência, tamanha era sua doçura para com os homens.
Tornou-se o mais meigo dos homens por meio do silêncio, que utilizava para lutar contra as súbitas emoções de impaciência. Ele dizia que ao se evitar falar, a tormenta passava sem que proferisse palavras de ódio e rancor, evitando que se escapasse fontes de amargura. Ao calar-se, a cólera afastava-se logo e então ele desfrutava de uma pura e duradoura alegria.
A luta contra o calvinismo em Chablais
Após um ano de ordenação, S. Francisco erigiu em Annecy a chamada Confraria da Cruz, responsável por instruir os ignorantes, consolar os enfermos e prisioneiros. Por isso, um líder calvinista escreveu um libelo anônimo contra a honra que os católicos prestavam à Cruz. Para tanto, Francisco o refutou com sua primeira obra, a Defesa do Estandarte da Santa Cruz.
Considerando que naquele século, a França estava sofrendo com a investida protestante, sacerdotes foram chamados pelo Bispo Cláudio Granier a realizarem missão no distrito de Chablais, tomado quase totalmente pelo calvinismo. São Francisco de Sales revelou-se pronto e posteriormente também seu primo Luís.
Sendo assim, Francisco foi posto como chefe da missão, de modo que seu pai, sabendo do que ocorria e temendo pela vida do filho, fez de tudo para retirá-lo desta linha, mas o santo convenceu-o da importância.
Sendo assim, iniciou a missão como os apóstolos, entrando na região a pé, sem cavalos nem armas. Teve a oportunidade de em Allinges subir uma montanha separada das outras, de onde observou inúmeras igrejas abatidas, mosteiros em ruínas, cruzes derrubadas e uma outra série de construções destruídas pela heresia daquele século.
Os trabalhos foram iniciados oficialmente em Thonon, capital de Chablais, uma cidade inteiramente devastada pelo calvinismo. Francisco costumava se dirigir aos destinos com um sacola nas mãos onde estavam somente sua bíblia e o breviário. Sempre antes de retornar à Allinges, onde dormia todas as noites, rezava a Santa Missa. Apesar das perseguições, não deixou de usar o hábito próprio de sacerdote, de modo que tinha os cabelos sempre curtos e a barba grande, pouco diferindo dos outros, facilitando que entrasse nas casas calvinistas e conquistasse alguns para a Igreja Católica. Usava, como sempre, de sua paciência para com os hereges, não se utilizando de ultrajes e maus tratos, nem de termos injuriosos.
Por algumas vezes, sofriam com ameaças de armas, o que fazia Luís estremecer, mas Francisco sempre o tranquilizava. Frequentemente, deixava de retornar a Allinges e partia para outros destinos, sofrendo com neve, gelo e ventos terríveis, que o deixavam por vezes imobilizado, a ponto de morrer. Sofria mais ainda com a dureza dos corações de alguns aldeões que mesmo ao ouvir os gritos de socorro de Francisco não abriam suas portas durante noites muito frias.
Aconteceu numa vez que, enquanto se retirava para Allinges, um calvinista, admirado com a obra de Francisco, o parou pedido que lhe instruísse na religião católica. Demorou-se tanto que a noite os surpreendeu à entrada da floresta, e tornou-se tão escura que foi impossível descobrir o caminho. Entretanto, Francisco, ao contrário de Luís e um criado que os acompanhava, estava cheio de confiança e os consolava, prometendo livrá-los do perigo como Deus livrou Daniel da fossa dos leões1. A lua então se levantou, ao ponto que encontraram uma construção arruinada, onde havia ainda restos de cúpula capaz de abrigá-los. Entraram e lá passaram o resto da noite. Francisco, todavia, não conseguiu dormir, porque percebeu, ao luar, que aquelas ruínas eram as de uma igreja destruída pelos hereges. Passou a noite gemendo, como o profeta Jeremias sobre as ruínas de Jerusalém2.
Após ajudar dois homens a se reconciliarem e converterem, São Francisco recebeu a chance de conferir palestras a calvinistas numa casa bastante frequentada. O entusiasmo do Santo era tão grande que muitos ficaram maravilhados em saber que a Igreja não admitia as atrocidades perpetradas pelos protestantes huguenotes em seus sermões, pois a doutrina verdadeira era cheia de bom senso e moderação.
Diante do sucesso de sua pregação, ministros huguenotes mandaram matar o homem que cedia a casa a Francisco. Um calvinista foi incubido para a missão, parente do primeiro. Para isso, levou-o para um passeio solitário e de forma surpreendente, o senhor dirigiu-se ao outro dizendo que sabia para que havia sido mandado e pediu que não temesse, pois se a sua religião o levava a matar amigos e parentes, a dele o obrigava, a exemplo de Jesus Cristo, a perdoar aos mais cruéis inimigos. No ato, o calvinista confessou e pediu perdão, prometendo a mais inviolável amizade.
O sucesso de Francisco prosseguia, de modo que dois profissionais foram contratados para matar o santo, mas católicos avisados o escoltaram até chegar a Allinges. Em determinado ponto de um bosque, os dois matadores saíram de onde estavam escondidos portando espadas. São Francisco então proibiu que as pessoas que o acompanhavam se servissem de armas, tendo direcionado-se aos homens dizendo, com intensa doçura: Enganai-vos, meus amigos; aparentemente nada tendes contra um homem que, bem longe de vos ter ofendido, seria capaz de dar a vida por vós. Tais palavras enalteceram os assassinos que, após algum tempo imóveis, jogaram-se aos pés do santo, pedindo-lhe perdão e prometendo-lhe serem servos fiéis, dispostos a segui-lo onde fosse.
São muitas outras histórias acerca da investida benéfica do Santo na região e da quantidade de pessoas que foram convertidas por suas palavras, que se diz terem sido por volta de setenta e duas mil. Algumas outras vezes também tentaram matá-lo sem sucesso.
Por isso, o pai de Francisco e o próprio bispo de Genebra instavam-no a retornar para Annecy. O pai chegou a lhe dizer que seria felicíssimo ter santos em sua casa, mas preferia que fossem confessores e não mártires.
O Bispo D. Francisco de Sales
Quatro anos após ter iniciado a missão em Chablais, Francisco foi para Roma, no final de 1598. Ali, o Papa Clemente VIII, aplicou-lhe o exame canônico, em março de 1599, tendo Francisco obtido êxito em todas as questões. Foi, portanto, nomeado bispo de Nicópolis e coadjutor de Genebra, ou seja, apenas seis anos após tornar-se sacerdote.
Após a morte de seu bispo Dom Cláudio de Granier, em 1601, D. Francisco assume seu posto em Genebra-Annecy. Somente em 1602, no dia 08 de dezembro, foi efetivamente sagrado bispo.
Dom Francisco de Sales foi um pastor incansável, de modo que visitou todas suas 450 paróquias, além de ter organizado uma formação adicional ao clero de sua região, proclamando-lhe que o aprendizado era seu oitavo mandamento. Além disso, preocupou-se em reformar os mosteiros e a catequese, passava horas no confessionário atendendo aos fiéis, dialogava com os calvinistas, pregava diversas homilias em várias cidades da região, realizava direção espiritual presencial ou por correspondência.
Em uma de suas pregações, conheceu a baronesa Joana de Chantal, que havia tornado-se viúva aos 28 anos e sofriam, ela e seus 4 filhos, frequentemente com maus tratos do sogro. Tornou-se seu diretor espiritual o Santo Bispo, sendo que em 1607, Francisco sugeriu a Joana que fundasse um novo modo de ordem contemplativa que cuidaria com veemência da moças e viúvas, tendo a permissão de saída para visitas a pobres e doentes. A ordem foi fundada em 06 de junho de 1610 sob o nome de Ordem da Visitação de Santa Maria, porém, em 1618, foram suprimidos os aspectos de apostolado externo, diante da ampla rigidez das decisões canônicas.
Neste ano, São Vicente de Paulo foi ouvir as pregações de advento em Paris feitas por Dom Francisco de Sales. A partir daí, tornaram-se muito amigos, tanto que o Bispo confiou o mosteiro da Visitação de Paris a São Vicente. Em 1622, Vicente tornou-se superior permanecendo por quarenta anos, até sua morte.
Mesmo com a intensidade que a função de Príncipe de Genebra lhe conferia, conseguiu escrever dois importantes livros para vida espiritual: Introdução à Vida Devota, publicado em 1608, e Tratado do Amor de Deus, em 1616. Foi, antes de tudo, muito preocupado com as almas devotas e com todos aqueles que foram designados por Deus ao seu episcopado.
Ao fim da vida, o Santo Bispo mantinha-se viajando sempre em favor da Igreja e de sua região. No dia 27 de dezembro de 1622, em Lyon, após ver pela última vez a Madre Joana de Chantal, que se encontrava no Convento daquela cidade, S. Francisco passou mal e recebeu os sacramentos. Um dia depois, com 55 anos de idade e vinte de bispado, veio a falecer.
Em 29 de janeiro de 1662, foi beatificado, e em 19 de abril de 1665, o papa Alexandre VII canonizou São Francisco de Sales. Já em 19 de julho de 1877, Pio IX deu-lhe o título de Doutor da Igreja. Por fim, em 1923, foi declarado padroeiro da Boa Imprensa e dos jornalistas católicos por Pio XI.