Sermão para a Festa da Exaltação da Santa Cruz

Celebramos hoje a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Por isso, precisamos ter em mente, antes de tudo, que na Cruz de Cristo estão presentes duas realidades, das quais só uma constitui o objeto próprio dessa comemoração. Por um lado, o que vemos na Cruz do Senhor é um crime terrível, o crime do deicídio, perpetrado por aqueles judeus furiosos — e com eles toda a humanidade pecadora — que há dois mil anos fizeram de tudo para calar a Palavra encarnada. Este mistério tremendo, é claro, não é nem poderia ser o que a Igreja hoje venera e festeja. Sucede, porém, que Deus dispôs em sua sapientíssima Providência que do maior pecado que poderíamos cometer, o ignominioso assassinato de seu Filho bem-amado, viria a maior de todas as bênçãos: a salvação e as graças superabundantes que escorrem, como seiva de vida, das chagas gloriosas do Redentor. Daí, pois, que na Cruz de Cristo tenhamos, por outro lado, a expressão de um amor infinito.

É nas palavras da consagração eucarística, pronunciadas pelo Senhor na ceia de sua última Páscoa, que o mistério da Cruz é expresso com clareza:

“Tomai e comei, isto é o meu corpo […] Bebei dele”, do cálice da Nova e Eterna Aliança, “porque isto é o meu sangue […], derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mt 26, 27s).

Com efeito, Deus “amou tanto o mundo”, diz-nos hoje o evangelista São João, “que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. Ora, se é o amor de Cristo, presente agora de forma incruenta na Missa, o que veneramos e exaltamos ao, prostrados em adoração, festejarmos sua Santa Cruz, então é claro que não podemos voltar criminosamente a crucificá-lO em nosso coração, fazendo-nos escravos do pecado, do qual Ele nos veio libertar. Com a alma transbordante de alegria por nos sabermos amados com tão grande amor, façamos o firme propósito de evitar por todos os meios o pecado, que levou Nosso amantíssimo Senhor a pregar-se num madeiro, a fim de que, entre dores lancinantes, brotassem de suas chagas as delícias de caridade que gozaremos em plenitude no Reino que Ele mesmo nos franqueou.

Poderíamos dizer, para usar um jogo de palavras, que na festa da Exaltação da Santa Cruz contemplamos o mistério não da ascensão, mas da assunção de Jesus: se, depois de ressuscitado, Ele ascende por si mesmo ao céu, na crucificação, ao contrário, Ele se deixa ascender, pregado à cruz, como grande sinal posto à vista de toda a humanidade. “É necessário que o Filho do Homem seja levantado”, diz o Senhor em seu colóquio noturno com Nicodemos, e a razão disto não é outra senão o amor com que Deus amou o mundo, a ponto de dar “o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. Olhar para a cruz com fé é reconhecer a caridade infinita de Deus para conosco e abrir-se àquele espírito de gratidão que lhe devemos não só pelos bens naturais de que, em sua providência ordinária, Ele nos cumula, mas, acima de tudo, pelo benefício sobrenatural da Redenção: Ele mesmo, movido de amor por nós, se fez carne num tempo histórico concreto, tomou sobre si os nossos pecados e pagou-os todos no madeiro da cruz, anulando o quirógrafo da nossa condenação e demonstrando, da maneira mais sublime possível, o quanto nos quer bem. Os pagãos podem, contemplando o mundo circundante, deduzir com toda razão a bondade do Criador; mas nós, que recebemos uma luz mais alta, conhecemos já a radicalidade do amor divino: na cruz, o Filho de Deus encarnado

“não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos […]. Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos […]. Tomou sobre si nossas enfermidades […]. Foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades” (Is 53, 2-5).

Que possamos, iluminados pela graça, enxergar atrás desse crime horrendo, chamado pelo profeta Isaías de “iníquo julgamento” (cf. Is 53, 8), essa tão grande e tão admirável dignação da divina misericórdia para conosco, essa inconcebível e inabarcável ordem da imensa caridade do Pai, a quem aprouve reconciliar consigo todas as criaturas ao preço do sangue do seu Amado, por cujo amor foi finalmente restabelecida a paz entre tudo quanto existe na terra e nos céus (cf. Col 1, 20).

É necessário saber estar presente a esta exaltação, pois há duas posturas:

  1. A da Virgem;
  2. A dos algozes e judeus.

Peçamos a Nosso Senhor a postura firme de sua Santa Mãe.

 

Padre Bráulio Maria, na Festa da Exaltação da Santa Cruz, dia 14 de Setembro de 2025.

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