Traditionis Custodes: Vazamentos planejados?

Cardeal Arthur Roche, prefeito do Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos

Cardeal Arthur Roche, prefeito do Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos

Fonte: Katholisch.de 

Tradução e grifos por salvemaria.com.br

Artigo de Katholisch.de:

O Vaticano concedeu uma exceção às restrições à Missa Tradicional em Latim impostas pelo decreto Traditionis Custodes do Papa Francisco a uma paróquia no Texas.

A exceção, solicitada pelo bispo Michael Sis em 6 de fevereiro, foi concedida à paróquia de St. Margaret of Scotland, na Diocese de San Angelo, Texas.

Nenhuma outra exceção desse tipo pelo Papa Leão XIV foi registrada desde o início de seu pontificado.

“O Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos me informou, por meio de um decreto de 28 de maio de 2025, que meu pedido foi concedido por mais dois anos de dispensa do artigo 3§2 do motu proprio Traditionis Custodes, para que a Missa segundo o Missale Romanum de 1962 possa ser celebrada na igreja paroquial de St. Margaret of Scotland, em San Angelo”, disse Sis, que anteriormente serviu como membro do Comitê de Doutrina da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, em uma declaração compartilhada com a CNA.

“Assim como antes”, acrescentou, “a concessão dessa dispensa baseia-se em um esforço contínuo para promover a plena apreciação e aceitação dos livros litúrgicos renovados por decreto do Concílio Vaticano II e promulgados pelos papas São Paulo VI e São João Paulo II.”

Sis observou ainda que, ao submeter seu pedido de extensão ao Vaticano, fez isso “com espírito de total abertura à vontade de Deus”.

Ele continuou: “Confio no discernimento do nosso Santo Padre, o Papa Leão, e daqueles que o assistem em seu ministério de unidade através dos diversos dicastérios da Santa Sé.”

O vazamento pode ser estratégico: durante anos, só eram conhecidas as respostas muito negativas da Conferência Episcopal Francesa à pesquisa realizada pela então Congregação para a Doutrina da Fé sobre a “Missa Antiga” – totalmente em linha com Francisco. Mal assume um novo papa, que volta a dar vida às tradições abandonadas por seu predecessor – da procissão de Corpus Christi à entrega dos pálios aos novos arcebispos, passando pelo local tradicional de férias – surge uma nova imagem.

Francisco justificou sua restrição à “Missa Antiga” com os resultados da pesquisa que ele mesmo havia encomendado. Se for autêntico o resumo oficial dos resultados agora publicado pela jornalista vaticana Diane Montagna, então ele enfatizou de forma unilateral os aspectos negativos: a maioria dos bispos aparentemente não tinha objeções à liberalização promovida por Bento XVI. Até mesmo a Conferência Episcopal Alemã, que não é suspeita de simpatizar com o tradicionalismo, teria se manifestado a favor da manutenção da coexistência entre a forma ordinária (pós-conciliar) e a extraordinária (pré-conciliar). O vazamento em um momento oportuno poderia, portanto, preparar ou incentivar uma nova mudança no status litúrgico quo por parte do Papa Leão XIV, dependendo de sua origem.

Seria tão grave assim corrigir a reforma de Francisco, por exemplo, retornando às normas de Bento XVI? Há quase exatos quatro anos foi publicado o motu proprio Traditionis custodes, com o qual Francisco comprou briga com os amigos da Missa Antiga. Agora, após esses quatro anos, veem-se os efeitos: a esperança expressa pelo Papa de uma pacificação dos conflitos não se concretizou. As frentes se endureceram – não menos por causa das minuciosas e mesquinhas determinações emitidas pelo Dicastério para o Culto Divino: até mesmo a questão de se a Missa Antiga pode ou não aparecer no boletim paroquial foi regulada por Roma. E o fato de que a exclusão das igrejas paroquiais não contribui para diminuir divisões deveria ter sido evidente desde o início.

Hoje está claro: Traditionis custodes fracassou, ao contrário da solução pastoralmente sensata do Summorum Pontificum – e, diante das respostas daquela época, isso já poderia ter sido previsto. O medo de variantes litúrgicas é infundado. O que causa divisão não é a diversidade, mas a exclusão. Na verdade, o chamado “único rito romano” promovido por Francisco já possui hoje diversas formas: as antigas variantes do rito ambrosiano (de Milão) e do moçárabe convivem com as novas formas de missa inculturadas no Congo, na Austrália e no México. A diversidade litúrgica enriquece a Igreja. A liturgia antiga e a nova podem se fecundar mutuamente. O vazamento pode agora ser o impulso para que o Papa Leão XIV, aberto às tradições, tente novamente alcançar uma paz litúrgica.

 

Comentário ao Recorte

Neste mês, o Motu Proprio Traditionis Custodes completa quatro anos. Haveria momento mais propício para que esses relatórios viessem à tona? Coincidência? Pouco provável.

Quem os divulgou? Não seria tolice apostar em alguém dentro do próprio Vaticano — alguém que não está satisfeito com o modo como esse documento foi aplicado. E não seria a primeira vez: após sua morte, descobriu-se que o cardeal Pell era o autor de um memorando anônimo que criticava duramente condução da Igreja sob o pontificado anterior.

Os sinais estão aparecendo. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

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