Sentir com a Igreja
Sentir com a Igreja, em latim sentire cum ecclesia, também chamado de sentido cristão é a capacidade de conhecer, julgar, discernir, pensar e resolver qualquer coisa na vida conforme a Fé Católica e a Doutrina Cristã; mais do que isso, é buscar, sempre e em todo momento, ver as coisas tal como Nosso Senhor vê, julgar não apenas pelas conveniências ou pelos mandamentos, mas verdadeiramente buscar conformar todos os costumes, opiniões, pensamentos e desejos com os que a tem a Igreja Católica e seu Divino Fundador.
A palavra sentir não deve ser compreendida como um sentimento, mas como verdadeiro alinhamento da inteligência e da vontade em tudo o que diz respeito à vida moral. É o critério de vida, o julgamento do que se deve fazer ou evitar, do que é bom ou mal, do que é desejável ou indesejável, de como se deve pensar as coisas. O sentir com a Igreja é como que uma fé viva, sempre alerta em todos os casos da vida, atenta aos detalhes e princípios das coisas que confere ao que a possui uma prudência, uma segurança, uma coerência em seu modo de viver, de se comportar, de se relacionar, de trabalhar, de se divertir, enfim, um verdadeiro espírito cristão que nunca é pego de surpresa ou seduzido pelas más tendências e influências que encontra.
Assim o resume o Manual do Congregado Mariano:
A vida do bom cristão há de ser uma vida de fé ardente e incondicional e de obras inteiramente conformes à fé e a moral cristã. Há de ser a vida do filho amoroso da Santa Igreja de Deus, louvando o que ela louva e reprovando o que ela reprova, sentindo como ela sente em todas as coisas, procedendo com desassombro na vida pública e particular como filho obediente, fiel, ardorosamente leal à tão Santa Mãe, e, finalmente, defendendo-a em toda parte dos ataques dos inimigos, com o mesmo brio com que defenderia o nome e a honra de sua mãe.
Atualmente, muitas vezes a expressão sentir com a Igreja é mal empregada, sobretudo para a defesa da aceitação cega de doutrinas e tendências no mínimo duvidosas em documentos e pronunciamentos de alguns dos líderes da Igreja. Sentir com a Igreja não é seguir os tempos, mas seguir a Doutrina Imutável, é compreender que o que sempre foi errado continua sendo errado hoje, independente de estarmos em “outros tempos”.
Sentir com a Igreja é compreender que assim como Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre, assim também a Igreja será sempre a mesma, jamais tomará por certo o que antes tomou por errado, jamais defenderá o que combateu. Sentir com a Igreja, portanto, pode-se bem resumir assim, é defender e viver conforme a Doutrina, a Moral, a Disciplina e a Fé que sempre foram defendidas pela Esposa de Cristo, recusando em tudo o espírito do mundo – mesmo quando esse parece ter conseguido seu lugar na Igreja.
Regras para o sentido verdadeiro que devemos ter na Igreja Militante, conforme Santo Inácio
Santo Inácio em seus Exercícios Espirituais nos dá ricas orientações de como podemos bem viver “sentindo com a igreja”:
O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado. Donde se segue que o homem tanto há-de usar delas quanto o ajudam para o seu fim, e tanto deve deixar-se delas, quanto disso o impedem.
Por isso, é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe está proibido; de tal maneira que, da nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida curta, e consequentemente em tudo o mais; mas somente desejemos e escolhamos o que mais nos conduz para o fim para que somos criados.
Deposto todo o juízo próprio, devemos ter o espírito preparado e pronto para obedecer em tudo à verdadeira Esposa de Cristo, nosso Senhor, que é a nossa santa Mãe a Igreja hierárquica.
Devemos ser mais prontos para aprovar e louvar as diretrizes, recomendações e o comportamento dos nossos Superiores do que para os criticar. Porque, mesmo que a conduta de alguns não fosse tal como deveria ser , falar contra ela, ou em pregações públicas ou em conversas, na presença de simples fiéis, originaria mais críticas e escândalo do que proveito. E assim, o povo viria a irritar-se contra os seus superiores, quer temporais quer espirituais. De maneira que assim como é prejudicial falar mal dos Superiores, na sua ausência, diante do povo humilde, assim pode ser proveitoso falar da sua má conduta às pessoas que lhes podem dar remédio.
Para em tudo acertar, devemos estar sempre dispostos a acreditar que o que vejo como bom seja mal, se a Igreja hierárquica assim o determinar. Porque creio que entre Cristo, nosso Senhor, esposo, e a Igreja, sua esposa, não há senão um mesmo Espírito que nos governa e dirige para a salvação das nossas almas. Porque é pelo mesmo Espírito e Senhor nosso, que nos deu os dez mandamentos que é dirigida e governada a nossa Santa Mãe Igreja.
Embora devamos estimar sobretudo o serviço intenso de Deus, nosso Senhor, por puro amor, devemos contudo louvar muito o temor de sua divina Majestade porque não somente o temor filial é coisa piedosa e santíssima, mas mesmo o temor servil, quando outra coisa melhor e mais útil não se pode conseguir, ajuda muito a sair do pecado mortal. E, uma vez que se sai dele, facilmente se chega ao temor filial que é totalmente aceite e agradável a Deus, nosso Senhor, por ser inseparável do amor divino.