Diluir a doutrina moral da Igreja não atrairá os jovens
Fonte: ACI Digital
O Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Robert Sarah, assinalou que “diluir” a doutrina moral católica, também no campo da sexualidade, não conseguirá atrair os jovens. Segundo Catholic Herald, em sua intervenção em 16 de outubro no Sínodo dos Jovens que acontece no Vaticano, o Purpurado africano afirmou que a Igreja e seus pastores devem “propor corajosamente o ideal cristão que corresponde à doutrina moral católica e não aguá-lo, escondendo a verdade para atrair os jovens ao seio da Igreja”.
O Cardeal recordou que, antes do início do Sínodo, alguns jovens pediram à Igreja para ser clara em seu ensinamento sobre “algumas questões que são particularmente próximas de seus corações: a liberdade em todos os aspectos e não apenas nas relações sexuais, a não discriminação baseada na orientação sexual, a igualdade entre homens e mulheres também na Igreja etc.”.
Entretanto, outros “pedem não apenas um debate que seja aberto e sem preconceitos, mas uma mudança radical, um verdadeiro giro de 180 graus na Igreja e seus ensinamentos nestas áreas”. Embora o ensinamento da Igreja possa não ser compartilhado por todos, reconheceu o Cardeal, ninguém pode dizer que não é claro. Porém, pode haver “uma falta de clareza por parte de alguns pastores ao explicar a doutrina”, o que requer “um profundo exame de consciência”.
O Prefeito recordou a história do jovem rico do Evangelho a quem o Senhor pede que venda tudo, dê aos pobres e o siga. “Jesus não aliviou nenhuma de suas exigências em seu chamado” e a Igreja também não deveria fazer isso, explicou o Cardeal.
Os jovens, continuou, têm um alto grau de saudáveis ambições em relação a “justiça, transparência na luta contra a corrupção e respeito à dignidade humana”. “Subestimar o alto idealismo dos jovens” é um grave erro e uma falta de respeito que “fecha a porta a um processo real de crescimento, maturidade e santidade”.
“Ao respeitar e promover o idealismo dos jovens, pode-se conseguir que se tornem o recurso mais precioso de uma sociedade que quer crescer e melhorar”, destacou a autoridade vaticana.
No Sínodo dos Jovens, quando muitos pretendem fazer triunfar na Igreja um relativismo moral disposto a relaxar e mesmo abrir mão dos princípios da moral católica a fim de não entristecer e afastar ninguém, o cardeal Sarah, após ter recusado um cargo no sínodo, uma vez mais pronuncia palavras de bom senso.
A ideia de diluir a moral e a doutrina a fim de “atrair” e de “não afastar” fiéis é uma nota característica do Americanismo, movimento condenado por Leão XIII, mas que permaneceu bem vivo e ganhou força cada vez maior com à medida que o modernismo ganhava força na Igreja. No sínodo, essa tendência continua a se desenvolver, como temos visto de maneira ininterrupta desde o Concílio, ora através de maneiras sutis, ora de maneiras diretas.
De maneira sutil, através da expressão de desejos dos jovens que pedem mudanças apoiadas sobretudo no fato de – que pena – as pessoas não seguirem mais o que a Igreja ensina. Com base nessa discrepância entre o que a Igreja ensina e o que efetivamente é feito pelos fiéis, ao invés de reforçar o que a Igreja ensina, propõe-se mudanças e relaxamentos na visão moral sobre temas como namoro, contracepção, aborto, homossexualidade, coabitação e casamento – Como não lembrar dos desejos expressos por uma minoria que tiveram grandes efeitos na igreja desde o tempo de Pio XII e sobretudo durante o Concílio e as reformas que dele se originaram?
De maneira direta, através de ações como a adição inédita do termo LGBT a um documento oficial, de posições escandalosas de alguns “radicais” e a pressão a fim de amenizar o tratamento aos homossexuais, sempre com o apoio da mídia progressista. Nessa via de dupla tendência, uma sutil e outra feroz, renova-se outra vez o “espírito do Concílio”.
Se é verdade que a história se repete, veremos como isso terminará: um documento impreciso com expressões abertas a interpretações que favorecerá uma ala radical ao mesmo tempo que não despertará muitas reações dos bispos mais conservadores. As conquistas dos liberais talvez nem sejam muitas, mas certamente serão irreversíveis. Veremos coisa similar no Sínodo da Amazônia.
Escreveu Paul Claudel, escritor e poeta católico francês: “O jovem não foi feito para o prazer, mas para o heroísmo“. Heroísmo de não ceder, mesmo quando todos cedem, heroísmo de não diminuir as verdades do Evangelho porque já não soam tão agradáveis aos ouvidos. Heroísmo, por fim, de se manter rígido, tanto quanto necessário, sem jamais perder a caridade, a fim de atender às palavras de Nosso Senhor: Esforçai-vos para entrar pela porta estreita!