Cardeal Burke considera “inconcebível” acordo do Vaticano com a China.
Fonte: LifeSiteNews
O acordo entre o Vaticano e a China recentemente assinado sobre a nomeação de bispos foi “absolutamente inconcebível” e “uma traição a tão numerosos confessores e mártires que sofreram por anos e foram postos à morte” pelo Partido Comunista, disse o cardeal Raymond Burke.
A Santa Sé assinou um “acordo provisório” no dia 22 de setembro com a República Popular da China sobre a nomeação de bispos, após meses de especulação e apreensão entre os católicos.
Através do acordo, o Papa Francisco também decidiu readmitir à comunhão com a Igreja Católica os bispos “oficiais” do governo chinês, que foram ordenados sem mandato pontifício1.
O acordo tem sido criticado por muitos especialistas e outros católicos, especialmente o reformado cardeal de Hong Kong, Joseph Zen, feroz crítico de longa data do acordo, que o considerou uma traição e rendição.
De acordo com o The Australian, o Cardeal Burke disse não ter explicações de o porquê o Papa ter aceito um acordo cedendo ao governo chinês o poder do Vaticano de nomear bispos – algo que a Igreja jamais deveria fazer com qualquer outro líder.
Sorondo, chefe da Academia Pontifícia de Ciências Sociais do Vaticano, um argentino e amigo próximo de Francisco, disse no início do ano que o atual regime comunista da China é o “melhor em implementar a doutrina social da Igreja”, e elogiou a China como “extraordinária”.
“Esta é uma declaração totalmente absurda”, disse o Cardeal Burke sobre os elogios de Sorondo à China como modelo da justiça social católica. “O comunismo ateu é a antítese da justiça social”.
A Igreja na China sempre sofreu duras perseguições, raros foram os momentos de paz para os católicos chineses. Quando da revolução comunista de 1949 sob Mao-Tsé, a Igreja teve de padecer sob as insídias cruéis dos dirigentes do partido. Inúmeros mártires e confessores tiveram de sofrer os piores tormentos por professarem a fé católica. Os bispos, sacerdotes e fiéis tiveram de retornar à ilegalidade.
Cerca de uma década após a revolução, o governo comunista chinês tentou dominar a Igreja subjugando-a. Criou-se, assim, a Associação patriótica Católica Chinesa, totalmente separada de Roma, negando a autoridade do Papa. Alguns bispos da época tristemente cederam e abandonaram a Igreja em troca do reconhecimento do governo. Outros, porém, bravamente resistiram na ilegalidade, mantendo a fé que receberam e a submissão ao Papa.
Ainda são poucas as informações que se tem da Igreja neste período sob o regime comunista, uma vez que os bispos que se mantiveram fiéis tinham de exercer suas atividades na ilegalidade. Muitas vezes tendo de ordenar novos bispos em caráter de urgência. Enquanto isso, a igreja oficial do partido mantinha o seu cisma consagrando novos bispos que eram nomeados pelo partido, sem aval do Papa.
Este acordo entre a China comunista e o Vaticano lamentavelmente ignora o passado de sofrimento e perseguição aos católicos chineses e, mais ainda, dá poder ao seu algoz, que diversas vezes já foi condenado duramente, tal a incompatibilidade entre a doutrina católica e o comunismo materialista. Quão duras não foram as condenações de Pio IX na encíclica Qui Pluribus, de Leão XIII na Quod Apostolici muneris ou de de Pio XI na Divinis Redemptoris, além de tantas outras condenações?
O antigo titular da sé de Hong Kong, cardeal Joseph Zen, tendo total conhecimento da situação, lamentou o acordo considerando-o como “suicídio” e “ato vergonhoso de rendição”2. É de se questionar a situação dos fiéis chineses que durante tantos anos viveram na ilegalidade, fragilizados, agora encontram-se em grande confusão.
Vemos uma reedição muito pior do Pacto de Metz: o acordo que, outrora, negligenciou gravemente o erro do comunismo em troca de um falso ecumenismo, desta vez não só deixa de condenar o erro, mas dá grave poder a ele. Não é possível que a verdade possa ceder seus direitos ao erro sem se renegar. Quando se cede no pouco, se cede no muito. Cedendo no muito, o erro faz seu domínio onde deveria haver resistência.
Sobre o acordo do vaticano com a china é um escândalo. Mas o que se passa com os nossos bispos e cardiais. Só o cardeal burk e o de hong kong se manifestaram contra o acordo. Vivemos tempos de um adormecimento da fé.