Três características de uma Congregação

É extremamente necessário ter uma idéia clara do que uma Congregação Mariana deve ser. Sobre isso, a História das Congregações Marianas e suas Regras autênticas dão a mesma descrição.

1. Especial devoção a Nossa Senhora. O primeiro requisito e o maior propósito desta associação é nutrir devoção a gloriosa e Bem Aventurada Mãe de Deus.

A devoção a Nossa Senhora se mostrará de variadas formas. Em alguns, como em Santo Estanislau, será um tenro e fervoroso amor. Em outros, será na forma de um intenso esforço para se fazer mais e mais semelhante a Virgem Santíssima.

Alguns, como São Francisco de Sales, irão se impressionar pelo fato de a Mãe de Nosso Redentor ser maravilhosamente amável aos pecadores: eles serão zelosos pela salvação de sua alma. Alguns, como Santo Afonso de Ligório, serão atraídos pela sua absoluta pureza e liberdade do pecado: lutarão para se manter longe da mancha do pecado e afastarão os demais para longe das ocasiões de pecado. Alguns, como São Pedro Fourier, serão instigados pelo amor por Maria, a praticar a caridade para com seus próximos. Alguns, como São Luís Grignion de Montfort, irão, no excesso de seu amor, dedicar-se a Ela como seus escravos perpétuos – e, portanto, de muitas formas sua devoção se tornará evidente e relevante. Como esta devoção se apresenta, não importa; a coisa essencial é que no coração de um congregado haverá uma devoção muito especial a Nossa Senhora.

 

2. Almejar uma bondade mais que ordinária nos seus membros é a segunda característica de uma Congregação Mariana. Certamente todos os Congregados entendem desta forma e, quando ingressam em uma Congregação Mariana, realmente desejam viver uma vida melhor do que aquela que os católicos comuns levam. E eles devem, pois uma especial devoção a Nossa Senhora não seria algo mais que um sentimento, se não urgisse ao que é bom e elevado.

Entretanto, caso o primeiro fervor de um congregado esfrie e ele caia de volta a ordinariedade, é dever do Padre Diretor ganhá-lo de volta a uma vida elevada, por Nossa Senhora. Uma vida elevada aqui não significa necessariamente uma vida religiosa; isto é reservado àqueles congregados que se unem pelos três votos da religião. A vida elevada dos congregados, enquanto vivendo neste mundo, é a vida de Perfeição Cristã.

 

3. Uma certa exclusividade é a terceira característica. Sem isso, não é possível manter o nível elevado. A massa comum de pessoas não pode ser toda levada às coisas elevadas. Consequentemente, é necessário limitar a admissão de membros e excluir qualquer um que se sinta satisfeito com o que é ordinário.

Muitas vezes é preciso tomar uma posição e ser firme nisso, especialmente pelo fato de ser um Congregado trazer consigo uma certa distinção religiosa e social, como geralmente acontece. Muitos desejarão juntar-se por nada além de ganhar esta distinção. Esta exclusividade da qual estamos falando aqui não é de uma classe, de riqueza, de posição no mundo ou de vestimenta; mas apenas de zelo para com Nossa Senhora e por sua melhor imitação. Existem, é verdade, Congregações nas quais este princípio é negligenciado ou não muito estimulado. Mas não fariam jamais um bom trabalho que poderiam e iriam fazer, caso mantivessem essa característica. Apresentamos aqui uma breve história da vida de um Congregado, São João Batista de Rossi.

O Papa Bento XIV foi um membro da Primeira Congregação Mariana no Colégio Romano e ficou tão encantado com os frutos da Congregação que expressou o desejo de que todos os rapazes do colégio deveriam ser membros de uma Congregação. Foi feito conforme o Santo Padre desejou. Mas, contrário ao seu desejo e intenção, o efeito foi desastroso. Não havia mais aquele incentivo à bondade, aquela distinção dada à piedade e mérito e aquele potente fator na vida humana – o bom exemplo recebido de outros que são considerados superiores. Toda a aspiração pela santidade estava destruída. Os padres do Colégio Romano logo perceberam o desastre que a mudança tinha causado. O que eles fizeram? Eles retomaram à idéia antiga e a puseram à força, mesmo com as condições diferentes. Eles estabeleceram uma Congregação dentro da Congregação e a chamaram de Limitada. Os membros da Limitada tornaram-se, então, os verdadeiros Congregados – e tudo estava bem. São João Batista de Rossi era um dos mais fervorosos deles, assim como um outro Congregado, São Leonardo de Porto Maurício, havia sido antes dele.

A moral da história é a seguinte: se uma Congregação Mariana não está restrita a uma intenção a mais do que a bondade ordinária, aquele encarregado dela deve eliminar gradativamente os relaxados e sem vontade de buscar este fervor superior. Se ele não conseguir fazê-lo, então ele poderia, como foi geralmente feito antigamente, formar um corpo interior separado. Ele poderia torná-los a menina dos seus olhos e trabalhar, com a ajuda de Nossa Senhora, para render a eles tudo o que é bom e excelente na vida Católica. Ele pode elevá-los à mais alta perfeição da Regra; edificá-los recebendo frequentemente os Sacramentos, praticando a sagrada Meditação e os dois Exames, e assistindo à Santa Missa diariamente. Seus exemplos, ele deve ter certeza, serão seguidos pelos demais e terá gradativamente um suficiente número de Congregados dignos do nome e todos fervorosos. Então ele terá uma verdadeira Congregação Mariana. Enquanto isso, ele está a cargo de uma associação de Católicos que tem ligação, de fato, canonicamente, com um sistema maior na Igreja, mas não são – estejamos convencidos disso – não são uma Congregação de Nossa Senhora no sentido próprio. Eles não são aquilo que as Regras prescrevem que eles deveriam ser e a história mostra que verdadeiros Congregados estão e sempre estiveram em todos os lugares e sempre.

Foi dito acima que esta exclusividade tão essencial para o bem estar de uma Congregação Mariana não deve ser de classe. Há, entretanto, uma separação mesmo de classe que faz serviço ao objetivo proposto. É a separação que pertence a um corpo de mesma idade ou de mesmos pertences – por exemplo, uma Congregação de jovens senhoritas. Para se manter tal corpo e conduzi-lo com sucesso, deve-se admitir a ele nada além de jovens senhoritas – demais moças ou senhoras mais velhas não seriam admitidas. O mesmo se aplica a uma Congregação de jovens rapazes, a uma Congregação de meninos, a uma Congregação de universitários, às variadas séries de uma escola, a Congregações paroquiais, etc.

Este tipo de exclusividade é vista como importante em todo lugar e em todos os casos. A razão não é difícil de se encontrar. Os Membros de uma Congregação naturalmente encontram um ao outro e se associam, não apenas em encontros regulares, mas também ao ir para a Igreja, para a capela ou ao retornarem, e em muitas outras ocasiões, quando se juntam por propósitos caritativos – mesmo nos entretenimentos, os quais eles mantêm de tempos em tempos. Agora, não se deve esperar que as pessoas que não são de mesma idade ou condição de vida se encontrem socialmente. Deve-se ter cuidado, então, para não se fazer uma Congregação muito “aberta a todos”.

Se já se tem uma Congregação assim, não se poderia dividi-la nos seus elementos constituintes? Um aumento no trabalho da parte do Padre Diretor permitiria a ele conduzir duas Congregações ou mais, todas com sucesso, ao invés de apenas uma que ele tem agora, com seus elementos heterogêneos demais para uma condução comum.

Trecho do livro “Hints and Helps for those in Charge of the Sodality of Our Lady” (1907), do Pe. Elder Mullan, S.J.,
Traduzido por um Congregado Mariano

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