Carta de um sacerdote aos seus coroinhas
Meu filho, antes de entrarmos nos pormenores, eu quero que você saiba o porquê de termos acólitos. Pense um pouco… Será que eu preciso de você para trazer o pão, a água, o vinho para o altar? Não. Eu poderia fazer isso eu mesmo. Será que eu preciso de você para trazer os vasos sagrados para o altar? Não. Eles poderiam já estar perto de mim, sabia? Será que eu preciso de você para levar as velas, a cruz, segurar o Missal? Quer que eu seja sincero? Não… Não preciso de você para tocar o sino, lavar minhas mãos, acompanhar-me na comunhão… Eu poderia fazer isso tudo sem você.
Pode ser que, para você, não seja nada agradável ouvir isso. Pode ser que você dedique muito tempo para esse serviço, estude e se esforce para bem cumpri-lo, e agora o padre lhe diz que não precisa de você?! São palavras difíceis. Mas deixe-me lhe explicar.
Você não foi chamado por Deus para ser útil. Você foi chamado para me ajudar a conduzir o ato mais importante da Terra: A adoração a Deus. Se você conseguir compreender isso, todo o resto que precisa entender virá naturalmente. Você veja, todos nós trabalhamos juntos para levar o povo de Deus à adoração a Deus – não sou apenas eu, você também é responsável. Entenda isso, e você perceberá que todas as outras coisas que você faz são secundárias. Eu confio em você para algo muito maior, mais nobre, mais bonito e verdadeiro.
Nossa adoração na Terra reflete a Adoração Eterna no Céu. O que fazemos aqui, no Santo Sacrifício da Missa, é uma espécie de eco do que se passa no Céu. Lá, o Cordeiro de Deus é oferecido em um único sacrifício atemporal e eterno. Lá, os santos e os anjos adoram ao redor do Trono do Cordeiro. Lá, não há sol, lua ou estrelas, pois o próprio Cordeiro é a Luz. O altar que você vê aqui é um reflexo do altar que existe lá. O sacerdote é um reflexo de Cristo, sumo sacerdote, e quem é você?
Você, coroinha, representa e reflete na Terra todo o exército celestial
Isso mesmo, você representa e reflete todos os santos e todos os anjos. E não há mais ninguém que possa fazer isso, além de você. Pense um pouco nisso. Não são meras palavras. Pense na honra e na responsabilidade que isso envolve.
Uma vez que você representa o exército celestial de santos e anjos, eu quero que você se comporte como tal. Claro, eu sei que você não é ainda um santo. Você briga com os seus irmãos. Alguns de vocês são provocadores e outros são covardes. Você mente, sente preguiça, fica com raiva, tem maus pensamentos e talvez más ações. Você desobedece seus pais e, às vezes, é egoísta e cruel. No entanto, você tem um papel a desempenhar na Divina Liturgia, porque apesar de tudo isso, você é chamado para refletir algo muito maior. Você é chamado a refletir a santidade de todos os que estão no Céu, apesar de todas estas inclinações negativas. E se, ouvindo isso, você é golpeado com um sentimento de temor pelo que eu estou pedindo de você, pense como eu, sacerdote, me sinto, porque eu sou um pecador como você, e eu sou chamado a algo ainda maior: Ser o próprio Cristo para as pessoas.
Você é chamado ao que milhares de Santos suspiraram ter a vida inteira. Você, mais do que nenhum outro leigo, é chamado a ser imitador de Cristo. Você, ao estar mais perto do altar que todos os demais, também é o que recebe mais graças de todos.
Já que você já sabe a verdade, eis o que vamos fazer. Em primeiro lugar, quando você entrar na igreja, você vai imediatamente colocar sua batina. Ela é sua roupa de trabalho. Servir no templo do Senhor é ser como o menino Samuel que serviu no templo de Deus com simplicidade e bondade. Quando você se move na casa de Deus, faça-o com uma solenidade simples. Não carrancudo e falso piedoso, mas também não sendo um bobo infantil. Basta fazer o que deve fazer – lembrando que você está na casa de Deus, um lugar sério para um negócio sério. Quando você arrumar a credência, acender as velas, organizar os livros e se preparar para a Missa, lembre-se que as pessoas nos bancos estão observando você. Sua reverência, zelo e amor pelo que faz será notada e fará com que todo o povo adore a Deus de modo muito melhor. Então, antes da missa começar, volte para a sacristia. Vamos fazer tudo o que falta fazer, rezar e esperar que a Divina Liturgia comece.
Quando você estiver na Procissão de Entrada, lembre-se que você está guiando todo o povo à presença de Deus. A nossa pequena procissão remonta à procissão de David e os sacerdotes para dentro da cidade sagrada de Sião, ou ainda, a procissão de Nosso Senhor entrando em Jerusalém. A cruz estará erguida, e você vai andar com uma postura solene e imponente, como um verdadeiro soldado, por que você está levando todos nós à presença do Rei dos reis e Senhor dos senhores. Reflita sempre para onde você está indo naquele momento, e vá comigo para lá, com a graça de uma criança e a dignidade de um príncipe. Aonde você vai, vamos atrás.
Você é chamado a uma Cruzada. Uma cruzada de ufania por Nosso Senhor. O que significa ufania? É um sentimento, um estado de alma pelo qual a pessoa tem uma fé que não duvida de nada, um orgulho santo de servir a Deus. O Cruzado, quando ia para a Guerra, partia cheio de ufania. Ufania de ser servo de Nosso Senhor. Ufania, portanto, não é um sentimento de posse ou orgulho, mas um sentimento de profunda humildade, de se reconhecer servo.
Você, meu filho, está na Igreja Militante, uma Igreja que lutará até a consumação dos séculos, porque Ela foi posta para lutar contra o mal. Não se sinta, jamais, sozinho. Sinta esta ufania de ser filho da Igreja, de poder dizer que mesmo se todos os homens na Terra abandonassem a fé, você jamais abandonaria, e teria ao seu lado uma multidão incontável de todos os santos que vieram antes de você, e que você representa na hora da Missa. Você permanecerá firme e, na sua luta contra o mundo, dirá como antigamente os cruzados: Deus vult! Deus o quer!
Você, meu filho, é chamado a representar os santos e os anjos. É chamado a representar e defender a Santa Igreja, numa época em que se fala do progresso como contrário a Ela. Você, pelo seu portar, pelo seu falar, pelo seu agir, terá o desafio constante de enfrentar a luta. Uma luta que seguirá por toda a sua vida. A questão essencial da nossa vida é salvar a nossa alma para a eternidade. Que seja essa a nossa principal proposta e a maior preocupação de nossas vidas.
Enquanto isso, o mundo vai perdendo a fé e a confiança em si mesmo, e olhará para a segurança que você tem, olhará para a sua fé e começará a ouvir cada vez mais a voz que lhe guia, a voz da Roma Católica, guardiã da Fé Católica, a voz da Roma Eterna, mãe e mestra da sabedoria e da verdade. E assim, algo matura, algo se transforma, algo germina. Você é a semente da primavera que germina embaixo do rigoroso inverno do nosso tempo.
Quando você se sentar no presbitério, lembre-se que as ações falam mais alto que palavras. Você pode não ter muitas tarefas para fazer, mas mesmo que não faça nada, você está servindo a nosso Senhor. Simplesmente por sua presença, sua reverência, seu zelo e piedade, você vai ajudar a liderar a adoração e encorajar aqueles que você vê. Quando você tem uma tarefa para fazer, faça com simplicidade e confiança, como convém a um servo do rei. Lembre-se: Se você é desleixado e casual em sua atitude e postura, todos vão perceber isto, e você será o responsável por distrair as pessoas, tirando a atenção delas de Cristo para você, e a Missa não é sobre você é sobre Cristo.
Lembre-se de que o que fazemos na Missa é a coisa mais importante da sua vida. Todo o resto vem depois disso. “Buscai primeiro o Reino de Deus, e todo o resto vos será acrescentado”. Na missa, você vê que a beleza, a verdade e amor são três tesouros insuperáveis, e são três coisas que você não pode comprar. E o que você faz também não se pode comprar. Você não recebe pagamento algum, mas recebe uma recompensa que dinheiro nenhum pode comprar: a recompensa de saber que seu coração é reto diante de Deus, e que você passou uma hora no limiar do Céu.
Eu lhe digo, enfim: Ufania e Coragem! Vá, que Nossa Senhora sempre lhe acompanhe. Deus vult! Deus o quer! Ufania pela Igreja! Ufania por Nossa Senhora! Ufania por Cristo!!!
Texto baseado no post “What I tell my altar servers”, do Pe. Longenecker