O Sagrado Coração de Jesus, a Divina Eucaristia e a Verdadeira Devoção a Nossa Senhora

O Sacratíssimo Coração de Jesus, o Santíssimo Sacramento do Altar e a Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima proposta por São Luís Maria Grignion de Montftort: estas três poderosíssimas devoções, tão incentivadas e amadas pelos maiores santos da Igreja, estão interligadas pelo mesmíssimo fim: a perfeita união a Nosso Senhor Jesus Cristo, fim último de nossa existência.

A devoção ao Sagrado Coração de Nosso Senhor, apesar de ter sido revelada de forma mais explícita por Santa Margaria Maria no século XVII, é uma devoção que está descrita no próprio Evangelho: o discípulo amado, que consola o Sagrado Coração de Nosso Senhor na instituição do Santíssimo Sacramento, em face da tristeza que abatia tão amável Coração e dos ultrajes cometidos por Judas, um de seus discípulos, mesmo nas suas últimas demonstrações de amor para mover aquele coração obstinado pelo mal. De igual forma, o Sagrado Coração, que é representação física e simbólica do amor abrasado de Deus pela humanidade, expõe esse amor que não pode ser contido, jorrando sangue e água de graças ao ser perfurado pela lança, levando à imediata conversão do soldado romano, milagre de um Coração Poderosíssimo.

Na Idade Média, esse Sagrado Coração não deixou de ser amado e venerado, na piedade de diversos santos, dentre os quais se destaca o grande abade fundador de Claraval, em passagem de sua vida narrada por uma testemunha ocular, Menard, abade de De Mores, convento cisterciense da diocese de Langres, na França:

“Bernardo estava ajoelhado no tosco pavimento perante o altar-mor. Subitamente, surgiu na sua frente um crucifixo grande que abraçou ternamente, depois de se por de pé. Em seguida, a figura do Redentor, afastando as mãos da cruz, inclinou-se e passou os braços em redor do santo; este achava-se abraçado ao Sagrado Coração do Crucificado.”

 


Este amor abrasado da Santíssima Trindade não podia mais conter-se veladamente e foi-nos, então, revelado, em todo esplendor e glória, nas visões de S. Margarida Maria Alacoque. Um dos aspectos mais importantes, entretanto, é que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus está intimamente ligada à devoção Eucarística e podemos indicá-lo pelas próprias palavras de Nosso Senhor:

“Eis aqui o Coração que tanto amou aos homens, nada poupando até definhar e consumir-se para dar testemunho do seu amor. E eu, neste mistério de amor (a Eucaristia) da maior parte dos homens só recebo ingratidões, irreverências e sacrilégios, friezas e desprezos com que me afligem neste Sacramento de amor. E o que me é mais doloroso é que esses são os corações a mim consagrados”

III Aparição a Santa Margarida Maria Alacoque na oitava da festa do Santíssimo Sacramento, 16 de junho de 1675

A forma como o Sagrado Coração de Jesus sofre irreverências e sacrilégios é por meio das ofensas à Santíssima Eucaristia. A forma que Nosso Senhor Jesus Cristo institui para reparar as ofensas ao Sagrado Coração é por meio das comunhões reparadoras. Daí podemos concluir, também, que se desejamos amar e honrar o Sagrado Coração de Jesus, devemos amar e honrar o Santíssimo Sacramento do Altar. O Sagrado Coração e a Divina Eucaristia Estão intimamente ligados.

A Divina Eucaristia é chamada também de Santíssimo Sacramento ou maior dos Sacramentos porque é o próprio Deus em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Nosso Senhor Jesus Cristo quer habitar em nossa alma pela Eucaristia e tornar-nos mais semelhantes a Ele. Pela Eucaristia, a Santíssima Trindade, que é infinita, fica contida na pobre alma de uma criatura de modo que, por esse Alimento Sagrado, tornemo-nos um só com Ele.

Antes de habitar em nossa alma pela Eucaristia, entretanto, Cristo habitou no seio da Virgem Santíssima, onde tomou alma e corpo humanos. Ela, antes de todas as criaturas, recebeu Nosso Senhor Jesus Cristo da forma mais perfeita e nos indica também a forma mais segura chegarmos até seu Divino Filho. É por essa razão que São Luís Maria Grignion de Montfort nos propõe, inspirado pela Divina Providência, a Verdadeira Devoção a Nossa Senhora como meio mais seguro e eficaz para chegarmos a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Devemos, portanto, nos aproximar da Divina Eucaristia como Nossa Senhora se apresentou diante da Santíssima Trindade, com humildade e devoção, com temor e afeto: Ecce Ancilla Domini, fiat mihi secundum Verbum tuum. Por isso São Luís de Montfort indica a comunhão por meio da Virgem Santíssima, pois, se Cristo quis vir aos homens por meio de tão augusta criatura, é por meio da mesma Augusta Rainha que devemos receber o Divino Rei.

No Tratato da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, São Luís nos apresenta o exemplo do camponês e da rainha, ao explicar sobre o que essa devoção nos alcança:

Maria purifica nossas obras, embeleza-as e fá-las ser aceites por seu Filho

É como se um aldeão, querendo obter a amizade e benevolência do rei, fosse ter com a rainha e lhe entregasse uma maçã, que constitui todo o seu rendimento, para que a oferecesse ao rei. A rainha, depois que tivesse aceite esta oferendazinha, tão pobre e tão singela, poria a maçã numa grande e bela salva de ouro e seria assim que a ofereceria ao rei em nome do aldeão; e então, essa maçã, embora por si mesma indigna de ser apresentada a um rei, logo passaria a ser uma oferenda digna de sua Majestade, em atenção à salva de ouro onde se encontra e à pessoa que a veio apresentar.

Ora, se esse princípio se aplica às boas obras que fazemos e apresentamos a Nossa Senhora, para que as apresente a seu Divino Filho, mais ainda se aplica quando oferecemos a nós mesmos por meio da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem: sendo o fim da devoção ao Sagrado Coração de Jesus a união ao seu Sagrado Coração, sendo o fim da devoção Eucarística a união a Nosso Senhor Jesus Cristo, que está ali presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade e sendo o fim da Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima a união à Sabedoria Encarnada, Nosso Senhor Jesus Cristo, podemos apresentar, portanto, na comunhão eucarística, o nosso próprio coração à Virgem Santíssima, com toda a sua pequenez, sujeira e defeitos: a Virgem Santíssima irá purificá-lo, embelezá-lo com a veste da graça e colocá-lo na grande salva de ouro das virtudes teologais para ser, enfim, entregue e consumido pela majestade, a Santíssima Trindade abrasada em amor pelos homens, por todos os séculos sem fim.

Essas três salutares devoções estão, por isso, intimamente ligadas: O Sacratíssimo Coração de Jesus, o Santíssimo Sacramento do Altar e a Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima.

Viva o Sagrado Coração de Jesus Eucarístico encarnado no seio da Virgem Santíssima!

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