História da Congregação Mariana
A Congregação Mariana que depois se chamou Prima-Primária, foi modestamente iniciada no Colégio Romano no ano de 1563, pelo Pe. João Leunis, belga, da Companhia de Jesus, entre os estudantes das turmas inferiores (gramática) do mesmo Colégio Romano. Seu objetivo principal não era ensinar os clássicos, mas despertá-los com o amor de Deus e zelo pelas almas. Apenas uma pequena turma de gramática, apenas um jovem padre jesuíta, apenas um grupo de garotos, mas daquele pequeno ato de devoção, favores e graças sem precedentes foram dispensados a milhões de almas!
No ano seguinte de 1564 constituiu-se em verdadeira Congregação e foi colocada sob a proteção e tutela da Santíssima Virgem. Para lhe assegurar a estabilidade, e lhe dar incremento cada vez maior e mais florescente, estabeleceram-se no mesmo ano varias regras, quase fundamentais que davam à Congregação o seu caráter genuinamente Mariano; regras estas que desenvolvidas e aperfeiçoadas ao longo dos anos uniram as congregações marianas no mundo inteiro em um laço de disciplina e caridade, sob bençãos dos sumo pontífices e inúmeras indulgêncies e privilégios dispensados ao longo dos séculos. Estas regras são observadas ainda hoje pelas congregações que resistiram ao vendaval que devastou a vinha dos sodalícios de Nossa Senhora.
Em 1569, começaram os congregados a reunir-se na igreja do Colégio Romano cujo titulo era da Anunciação de Nossa Senhora, sob a imagem que ainda hoje se conserva. Foi esta pequenina igreja o santuário predileto de S. Luiz Gonzaga, o qual nos quatro anos que passou no Colégio Romano, a costumava visitar ao menos quatro vezes ao dia, e suas paredes e pavimento banhado das copiosas lagrimas que ele derramava especialmente no tempo do Santo Sacrifício da Missa, foram mudas testemunhas das orações ardentes e suspiros abrasados que aquela angélica alma dirigia ao seu Deus. Foi por alguns anos este mesmo santuário o lugar onde repousaram os despojos mortais do querido santo, e onde permaneceram até ao dia 5 de agosto de 1649. Nesta mesma igreja se dedicou uma capela a S. Luís por ocasião da sua beatificação.
Em 1584, a instancias do P. Cláudio Acquaviva, Superior Geral da Companhia de Jesus, foi confirmada pelo Santo Padre Gregorio XIII com Bula Apostólica Omnipotentis Dei datada do dia 5 de dezembro de 1584 em virtude da qual se instituiu canonicamente a Congregação na mencionada igreja da Annunziata, e foi enriquecida com muitas indulgências e privilégios.
Do tempo da sua instituição canónica até ao dia 8 de dezembro de 1854 contavam-se já agregadas à Prima-Primaria 5025 congregações. Mas o que deve causar maior maravilha é que do dia 8 de dezembro de 1854 até ao dia 1 de janeiro de 1904 as sobreditas agregações subiram ao prodigioso numero de 20869; das quais 1 4,048 têm por padroeira principal a Virgem Maria no mistério da sua Imaculada Conceição.
A pequenina semente das Congregações lançada a terra na segunda metade do século XVI bem depressa cresceu em árvore gigantesca e bracejou seus ramos nos recantos mais apartados da terra. Em toda parte, aonde quer que tenha penetrado o zelo de um missionário, ali podemos nos deliciar com alguns dos mais doces frutos que cresceram nessa árvore de vida. Começando pela Cidade Eterna, espalharam-se pela Itália, França, Alemanha, enfim, toda a Europa, chegando depois às Américas, à China e a todo o Oriente, sempre ligadas a Prima Primária para juntamente com ela receber todos os benefícios e indulgências tão ricamente dados pelos Santos Padres ao longo da História.
Sixto V, Clemente VIII e Gregório XV confirmaram as mesmas graças e privilégios, mas foi Bento XIV que não só confirmou as graças concedidas por seus predecessores, com teceu inúmeros elogios e outorgou ainda à Prima Primaria novos poderes:
É incrível, a grande utilidade, que, para os homens de todas as condições, resulta desta louvável e piedosa instituição. Uns, seguindo desde a mais tenra idade, sob a proteção da Bem-Aventurada Virgem Maria, o caminho da inocência e da Piedade, conservam até o fim um proceder IRREPREENSÍVEL, digno de um discípulo de Jesus Cristo e de um servo de Maria, merecendo com tão santa Vida a coroa da perseverança final.
Bula Áurea – Gloriosæ Dominæ
Inúmeros outros elogios, graças e privilégios foram ainda acrescentados a Congregação, e em parte, foi por esse enorme relevo que as Congregações tiveram entre seus membros muitos nobres. Príncipes e Duques também se santificaram pela regra e pelo Manual.
No Brasil as Congregações existiram desde 1583, quando a primeira foi fundada no Colégio dos Jesuítas na Bahia por S. José de Anchieta. Elas permaneceram nos diversos Colégios dos Jesuítas durante o período de Colônia, até 1759. Naqueles anos, os Padres da Companhia foram retirados do Brasil. Em 31 de maio de 1870, foi em Itu, São Paulo, no Colégio São Luís também dos Padres Jesuítas, que a primeira CM do Brasil nos tempos modernos foi fundada. A partir daí se expandiu para além dos colégios, abrangendo principalmente paróquias por todo o país.
Em consequência de tão particular amor da Sé Apostólica às Congregações, estas rapidamente se propagaram e estenderam por toda a terra. Homens ilustres em santidade tiveram-nos as Congregações em S. Francisco de Sales, S. Afonso Maria de Ligório, S. Fiel de Sigmaringa, S. João Francisco de Regis, S. Leonardo de Porto Maurício, S. João B. Rossi, S. Pedro Fourier, S. Camilo de Lelis, S. Luís Gonzaga, S. João Berchmans, S. Estanislau Kostka, S. João Eudes, S. João de Brito, S. Luís Grignion de Montfort, S. Teresa de Lisieux e muitos outros santos, mártires, virgens, confessores de fé e fundadores de ordens além de nobres, como D. João IV de Portugal, D. João da Áustria (vencedor da batalha de Lepanto), Garcia Moreno, magistrados, generais, centenas de cardeais, como o cardeal Merry del Val e D. Sebastião Leme e mais de 30 papas.
Podemos dividir a história da Congregação Mariana em quatro grandes períodos.
- O primeiro, de 1563 até 1773, desde a fundação até a supressão da Companhia de Jesus, período de amadurecimento e expansão, promulgação das primeiras regras e dos primeiros favores dos sumos pontífices.
- O segundo período, de 1773 até 1948, da supressão da Companhia até seu reestabelecimento e a Bis Saeculari Die, de Pio XII, caracterizada por um breve período de crise (por conta da supressão da Companhia de Jesus, principal nutriz da Congregação à época, e depois por um período de forte ressurgimento que atingiu ápice após a proclamação do dogma da Imaculada Conceição.
- O terceiro período, de 1948 até 1967, época em que a Congregação foi arrebatada por um grande entusiasmo advindo da Constituição Apostólica de Pio XII, mas, tendo iniciado um profundo processo de renovação desviou-se gradualmente do caminho até ser totalmente contaminada pelo modernismo crescente em toda a Igreja, mudando sua espiritualidade e perdendo sua identidade e princípios pouco após o Concílio Vaticano II.A Congregação Mariana foi, na prática, obliterada em 1967 e poderíamos marcar o mês de outubro de 1967 como a data de sua extinção, não fossem as congregações que resistiram e as outras que, depois, foram fundadas nesse mesmo espírito de resistência.
- A quarta fase, a que vivemos atualmente, é a fase de reconhecimento e resistência. Reconhecimento que, em todo o mundo, as poucas congregações que existem são as únicas que guardam a verdadeira espiritualidade venerável das Congregações Marianas do passado e Resistência, em guardar também essa espiritualidade, mesmo com a extinção da Prima-Primária. Praticamente toda nova Congregação que surge mundo afora surge com esses princípios.
No Brasil, tendo sido a resistência das Congregações Marianas às mudanças muito grande, foi necessária uma resposta, e esta foi o estabelecimento de novas regras em 1992 e o reconhecimento das Comunidades de Vida Cristã como as legítimas sucessoras da Congregação Mariana. Isto traz às Congregações Marianas no Brasil a dura tarefa de resistir não só às mudanças que foram feitas em 1967, mas também resistir à resistência feita a estas mudanças entre os anos de 1970 e 1992.
Apesar de todas as dificuldades, muitos foram os créditos das Congregações e por eles podem computar-se os frutos morais e sociais que elas produziram no seio da Igreja e dos povos e ainda hão de produzir. Queremos, neste pequeno resumo, dar eco às palavras do grande cardeal do Rio de Janeiro, D. Sebastião Leme, congregado mariano:
Ah! A fita azul dos congregados marianos! Saudemo-la. Ela levará a nossa alma para o Céu! Ela salvará a mocidade! A fita azul salvará o Brasil!