Quando a Mãe é abandonada, o Filho não é mais compreendido
Se Jesus Cristo é o Filho de Deus por sua eterna e inefável geração no seio do Pai, ele é também o Filho do Homem por seu nascimento temporal no seio de uma mulher. Esta mulher é Maria, mãe, porém virgem. É dela, e dela apenas, que Cristo toma sua natureza humana. É por Ela que o Filho Unigênito de Deus se tornou Filho do Homem. Ela é a verdadeira Mãe de Deus. Por essa razão, Maria ocupa no cristianismo uma posição que é única, elevada e essencial.
Assim como o caráter de Cristo como Filho do Homem é inseparável do caráter de Filho de Deus, assim também é Maria inseparável de seu Filho. Com efeito, Nossa Senhora participa do Mistério da Encarnação com um direito que é a verdadeira essência deste mistério. É por isso que a Santíssima Virgem Maria é associada de maneira tão íntima com a economia da salvação e, consequentemente, com nossa vida sobrenatural que Cristo nos dá, como Deus, através de sua natureza humana. Assim como Jesus, devemos ser filhos de Deus e filhos de Maria. Ele é tanto um quanto outro de uma maneira perfeita. Se quisermos ser semelhantes a Ele, devemos, também, ter essa dupla filiação.
Nossa piedade não seria verdadeiramente cristã se não incluísse a Mãe do Verbo que se fez carne. A Devoção a Nossa Senhora, portanto, não é apenas importante, mas essencial, indispensável, se quisermos beber abundantemente da fonte da Vida Divina. Separar Cristo de Sua Mãe em nossa devoção é tão grave quanto tentar dividir a pessoa de Cristo. Fazer isso seria perder de vista a função essencial de sua Sagrada Humanidade na dispensação das Graças Divinas.
Quando a Mãe é abandonada, o Filho não é mais compreendido. Não foi esse o triste fim dos protestantes? Ao rejeitarem a devoção a Nossa Senhora com o pretexto de preservarem intacta a dignidade de nosso único Mediador, não acabaram eles perdendo a fé até mesmo na Divindade de Cristo?! Se Cristo Jesus é nosso Salvador, nosso Mediador, o Primogênito, na medida que assumiu nossa natureza humana, como poderíamos realmente amá-lo ou atingir semelhança perfeita a Ele se não tivéssemos especial devoção àquela que de quem Ele recebeu a natureza humana?
Devemos imitar Jesus em todas as coisas. O Verbo Eterno escolheu Maria como sua Mãe, da mesma maneira devemos escolhê-la como nossa mãe e ter a ela uma devoção filial.
E como fazer isto? De manhã, após a Missa, quando tenho Jesus em meu coração, apresento-me diante da Santíssima Virgem Maria para me consagrar a ela e digo:
Eis aqui vosso filho, ó Virgem Maria! Eu sou vosso filho! Aceitai ser minha Mãe assim como aceitastes ser Mãe de Jesus. Sou indigníssimo de vossa generosidade, mas sou membro do Corpo Místico de vosso Filho, e ele mesmo disse: “o que fizerdes ao menor dos meus, fizeste-o a mim mesmo”. Eu sou o menor de todos, aceitai-me e dai-me vossa filiação materna.
Todos devem buscar determinar para si mesmos as práticas de piedade mais adequadas para expressar sua confiança na Mãe de Deus e sua reverência e amor por Ela. Devemos tomar cuidado, porém, de não nos sobrecarregar com estas práticas a fim de não as fazê-las mal, mas sim buscar as melhores para nós e mantermo-nos fiéis a elas, especialmente ao Santo Rosário1.
No Santo Rosário, bendizemos Nossa Senhora para sempre unida ao seu Filho. Repetimos com amor e incessantemente a saudação dada a ela pelo celestial mensageiro da Encarnação; contemplamos Nosso Senhor em todo o ciclo de seus mistérios a fim de nos unirmos a Ele; Congratulamo-nos com a Virgem Santíssima em sua íntima associação a esses mistérios e fazemos ações de graças à Santíssima Trindade por todos os privilégios da Mãe de Jesus.
Tal amor devemos ter pelo Santo Rosário que terminar um dia sem rezá-lo deveria ser, para nós, uma decepção, um fracasso. Alguns dizem: O Rosário é coisa para crianças. Eu concordo. Mas o que diz Nosso Senhor? A menos que vos torneis como as pequenas crianças, jamais entrareis no Reino de Céus – E, não tenho dúvidas, todos queremos entrar lá. Rezemos, pois o Santo Terço. Com confiança. Com constância. Com amor filial.
Ó Maria, minha Doce Mãe, fazei que eu salve a minha alma!
Bem-Aventurado D. Columba Marmion (†1923),
no prefácio do livro Les Mysteres du Rosaire
tradução por um congregado mariano