A fidelidade à Igreja e a virtude da obediência na vida de Santo Edmundo Campeão
16 de julho de 2025, dia em que comemoramos a festa de Nossa Senhora do Carmo, completou-se quatro anos do motu proprio Traditiones Custodes, do Santo Padre, o Papa Francisco, que restringe as celebrações no rito antigo. Para muitos fiéis, este documento veio como uma lança ao coração, um golpe desferido contra o que a Igreja tem de mais precioso, a missa.
Diante de tal situação, gostaria de fazer uma analogia entre este documento (Traditiones Custodes) e a vida de Santo Edmundo Campeão, mártir inglês, jesuíta e congregado mariano.
Santo Edmundo foi um padre na Inglaterra no pior período possível para ser católico, padre e jesuíta. A Inglaterra, outrora abençoada por Deus a partir de grandes missionários e mártires, como o santo pioneiro Santo Agostinho da Cantuária e o mártir São Tomás Becket, também da Cantuária, teve seus dias marcados pelas perseguições àqueles fiéis à Igreja. Edmundo também, honrando os grandes santos que ali pisaram, foi missionário e mártir.
Tendo deixado a Inglaterra para entrar na Companhia de Jesus, recebe em Praga, a notícia de que deveria retornar à sua terra natal, pois os jesuítas iniciariam uma missão lá. Esta missão era árdua, pois a rainha era simplesmente Isabel I, grande perseguidora da fé católica.
Ao ser recebido em sua cela, se depara com a frase “Edmundus Campianus, martyr romanus”. Por conta de um sonho em que Nossa Senhora aparece a ele, sabia que voltaria para Inglaterra para morrer.
O santo inicia a missão. Edmundo vestia-se sem batina, como um civil, adotou um nome diferente e exercia seu ofício de padre às escondidas, tendo apoio de algumas poucas famílias. Ao sair do chamado priest’s hole, porão das casas onde se rezava a missa, o padre Edmundo é surpreendido por guardas reais que o levam à rainha. Padre Edmundo deveria aguardar nas masmorras até ter seu julgamento.
Em cárcere envia uma carta à rainha, em que diz:
“E pelo que diz respeito à Companhia de Jesus, é preciso que saibais que fizemos um pacto, todos os jesuítas do mundo, cujo número deve ultrapassar os cálculos da Inglaterra, de levar com alegria as cruzes que puserdes sobre nós e de nunca desesperar da vossa conversão, enquanto tivermos um só homem para ser despedaçado nos vossos suplícios ou definhar e morrer nas vossas masmorras. O custo é calculado, a empreitada começou: é Deus e é impossível resistir. Assim a fé foi implantada e assim será restaurada.”
E diante das acusações, complementa:
“Sou inocente das traições de que sou acusado. Sou católico e sacerdote da Companhia de Jesus. Nesta fé tenho vivido e com ela quero morrer.”
O padre Edmundo é levado para Tyburn, pequena vila em Londres onde os condenados eram executados. Um clérigo anglicano se aproxima e recomenda seu arrependimento, santo Edmundo nega e se põe a rezar. Questionam-no então:
‘”por quem reza este homem?”‘
O santo responde:
“Sim, por Isabel, sua Rainha e minha, a quem desejo um longo e tranquilo reinado, com toda prosperidade.”
Estica-se a corda, morre um homem, vive um santo.
Que grande lição tem a nos ensinar este santo sacerdote. A fidelidade à rainha era clara, o poder do monarca existe, é legítimo e inegável. E embora a rainha tivesse o poder de legislar, não lhe era lícito que o fizesse em matéria de fé, uma vez que este campo não lhe cabia. Porém, o que devia o santo fazer? Questionar sua autoridade? Organizar protestos? Ora, padre Edmundo era católico e jesuíta, este não era seu perfil. Permaneceu Edmundo, fiel ao Papa, à Igreja, a Cristo sem maldizer em momento algum sua rainha.
É famosa a frase do santo ao ser condenado:
“‘A única coisa que temos agora a dizer é que, se nossa religião nos torna traidores, somos dignos de ser condenados […] Ao nos condenar, você condena todos os seus próprios antepassados – todos os antigos sacerdotes, bispos e reis [..]”
Sigamos nós também o exemplo de Santo Edmundo, fiéis à Igreja de Cristo, sobretudo ao Santo Padre, qualquer que seja, e saibamos, em momentos de crise, resistir a tudo que nos impeça de amar e servir a Nosso Senhor integralmente, e digamos agora e para sempre: nesta Fé vivi e nesta Fé quero morrer.