A influência da música em nós
A música é um grande dom de Deus aos homens que, como os demais dons divinos, pode ser bem ou mal utilizado. A música, em particular, alcança o mais profundo da alma e tem o poder de a moldar para o bem, dando-lhe benefícios, ou para o mal, causando grandes prejuízos. Os males causados no corpo e na mente pelo rock já foram analisados à extensão. Podemos ter certeza que o rap, o funk ou a música eletrônica são ainda mais destrutivos.
O Prof. Francês Alfred Tomatis em sua pesquisa ajudou a desvelar a influência da música na mente e no corpo; ele chegou à conclusão que o cérebro funciona de modo análogo a uma bateria, que se carrega e drena de acordo com os sons. O som, ao chegar no ouvido interno, excita as células ciliadas do órgão de Corti, que envia estas vibrações por conexões neurais ao cérebro. Tomatis descobriu que havia certos tipos de música capazes de carregar ou descarregar o cérebro – isto é, torná-lo mais eficiente quanto a atenção, foco, capacidade de raciocínio e resposta – de acordo com a frequência, ritmo e batida. Mozart e Canto Gregoriano teriam, então, como que um poder de “recarregar” o cérebro. Rock, Rap, Techno e músicas similares fariam o contrário.
De fato, Canto Gregoriano e a música de Mozart, por exemplo, são essencialmente vocais e harmônicas, ainda quando tocadas em instrumentos, daí vem seu efeito dinâmico. Devemos sempre nos lembrar que a essência espiritual da música reside na melodia e não no ritmo, que serve apenas para regular a duração e prover uma estrutura formal e coerente.
O que se pode dizer, então, do Jazz e músicas que dele descendem? Em primeiro lugar, ritmo dado por instrumentos de percussão em tempo binário são baseados em marchas, que não contemplam o descanso, levando a um estado de êxtase. O canto, em si, é amplificado e cheio de fórmulas circulares: o mesmo tema é constantemente repetido de maneira quase hipnótica e grudenta, induzindo um estado de transe que toma maior intensidade. As frequências normalmente são baixas e por isso possuem o efeito de “descarga”. Em apresentações ao vivo como em shows e festivais, ainda há a influência de jogos de luz, que mais do que cansarem a vista, desestabilizam e até anulam a noção de espaço, como que removendo o ouvinte da realidade. Isso sem falar nas drogas, que tantas vezes acompanham estas apresentações.
A prova desse efeito devastador da música não é difícil de se encontrar. A agitação provocada pela música muitas vezes leva a um estado de irracionalidade completa. Quem não se recorda das cenas de Woodstock ou shows similares em que os ouvintes pareciam como que arrebatados da realidade, movendo-se de maneira frenética e irracional ao som das batidas? Também quem não lembra dos moshes nos shows de rock, em que os ouvintes – levados por uma grande agitação – iniciam uma grande roda de briga, em que desferem socos e empurrões uns nos outros por pura diversão? Certamente não há necessidade de maiores exemplos, mas as imagens que infelizmente são comuns em apresentações de música eletrônica, funk, rap mostram um padrão bastante claro.
A música eletrônica merece especial atenção, uma vez que – por não possuir letras – foge aos “preceitos” dados por “moralistas” de que toda música é boa, desde que sua letra não contenha imoralidade ou induza ao pecado. Isto é falso. O que torna uma música boa ou não é não a sua letra, mas a filosofia que a compôs e é expressa não apenas nas palavras usadas, mas em todos os elementos rítmicos, melódicos e harmônicos que a compõe. Em apenas um conjunto de sons, eletronicamente gerado, pode haver – e frequentemente há – uma revolta maior a Deus e à ordem que a mais satânicas das músicas de rock.
Como cristãos, devemos permanecer fieis à ordem natural da música, que de maneira nenhuma dificulta seu enriquecimento contínuo. A totalidade de sons e timbres certamente não foi ainda toda explorada. Há, ainda, muita beleza e ordem a ser criada em todas as possibilidades rítmicas, melódicas e harmônicas. Fora, porém, dessa ordem não é possível haver verdadeira beleza, nem arte.
São Pio X deu grande importância à restauração e cultivo do tipo de música que é intrinsecamente sagrada e à importância de uma boa educação musical. Repetindo o que a Igreja disse por meio dos santos padres, São Pio X ecoa-nos o que disse São Basílio e São João Crisóstomo:
Sabendo o Divino Espírito Santo quão difícil é para o homem ser levado à virtude e quantas vezes ele se desvia do caminho por suas inclinações naturais a prazeres sensíveis, ele misturou os preceitos da religião com os agradáveis efeitos da melodia de tal maneira que, por meio do ouvido, aceitássemos mais facilmente o salutar conteúdo de suas palavras.
Aprendai a cantar salmos cheios de sabedoria para vossos filhos. Se vós os tornardes familiar às palavras sagradas cantadas desde o início de suas vidas, mais facilmente alcançarão eles coisas mais elevadas
Diodoro de Tarso, um grande bispo do século IV, ensina-nos:
O cântico sagrado desperta na alma um ardente desejo por aquilo de que se canta; acalma as paixões que foram despertadas pela carne; bane os maus pensamentos sugeridos a nossa mente por nossos inimigos invisíveis; inunda a alma de graças, tornando-a fecunda em muitas maneiras; faz aqueles engajados no combate espiritual capazes de suportar as mais terríveis provações e dá, por fim, aos religiosos e aos fiéis um remédio contra as doenças da vida mundana
Hinos e cânticos sagrados tem na alma – assim como no cérebro, segundo a renomada pesquisa do Prof. Tomatis – um grande efeito de elevação. Santo Hilário ensina-nos que a música sacra contém em si a doutrina e o conhecimento das boas obras. A música é uma expressão de fé – e São Paulo o confirma ao dizer que fé vem pelo ouvido! Embora haja, certamente, músicas profanas que podem ser consideradas neutras, resta claro que toda música é construída com uma filosofia, ou ao menos toma alguma filosofia por pressuposto e se constrói em suas bases. Uma filosofia contrária à dignidade do Evangelho é incapaz de produzir uma música edificante que mereça ser escutada por um cristão: É com este filtro que nosso bom senso deve ser construída, para separar a música boa e conveniente de se ouvir da música má e corruptora. É esta perspicácia que pode e deve ser alcançada por meio da educação musical, que veremos em outro artigo.
Se a música pode ter tão grande efeito positivo em nossa alma como vimos acima, resta claro, em primeiro lugar, que devemos buscar, ardentemente, nutrir nossa alma de boa música. Para esse fim, São Pio X mais uma vez dá-nos um direcionamento. Na Tra le Sollicitude, explica-nos a ordem de beleza e santidade da música sacra: Em primeiro lugar e acima de todos, o Canto Gregoriano; em segundo lugar, a polifonia sacra, que encontrou em Palestrina sua maior expressão; por fim, a música erudita, tanto mais excelente quanto mais próxima ao canto gregoriano.
A segunda consequência que se tira desta realidade é o atento cuidado que devemos ter com a música de tendência oposta. Pois se Deus deu a música o poder de influenciar a alma desta maneira, se usada para o mal, o efeito será devastador, arrastando o homem ao vício, à sensualidade, à agitação, ao apego às paixões. Isso é realidade não apenas para a música profana, mas mesmo para a música dita cristã, que tem sido cada vez mais frequentemente construída com base filosófica estranha à Ortodoxia Católica, sendo assim ainda mais perigosa, por passar inadvertida.
Uma vez que tenhamos bem entendida a necessidade de compreender bem a música e como ela pode ser utilizada como meio eficaz para a transmissão de ideias e a influência do cérebro e da alma, podemos melhor aproveitá-la para nossa própria santificação e edificação, rejeitando a música que nos atrapalha em nosso caminho até Deus.