A Regra e a Devoção a Nossa Senhora

A alma da Congregação Mariana são suas Regras. Em seu quase meio milênio de história, foram elas que garantiram a continuidade de sua autêntica espiritualidade. Não há dúvidas que desde a primeira revisão das Regras Comuns, em 1587, o mundo sofreu mudanças sem precedentes; muitas das condições e costumes que antes havia passaram. Encontramos mudanças profundas em questões práticas e em regulamentos de autoridade. No entanto, certos elementos, chamados essenciais, jamais mudaram e nem poderiam. Dentre esses elementos essenciais, o segundo é a Devoção a Nossa Senhora.

Diz-nos Gregório XIII, na Bula de Ereção Canônica da Congregação Omnipotentis Dei (1584) que a Congregação foi iniciada por um vivo sentimento de afeto pela Beatíssima Virgem Maria, Mãe Deus. Este amor singular a Nossa Senhora é indispensável e é, sem dúvidas, tomado como o principal meio junto à recepção dos Sacramentos para atingir o objetivo principal da congregação, a Perfeição Cristã e também como um fim particular. A perfeição cristã é uma perfeição autenticamente mariana, isto é, fundada e arraigada na imitação das virtudes de Nossa Senhora e no seu serviço.

Diz-nos Pio XII na Bis Saeculari:

Essas congregações se chamam marianas não só porque da bem-aventurada Virgem Maria assumem o título,  mas muito principalmente porque todos os seus membros professam uma singular devoção para com a Mãe de Deus,  e a ela se ligam com total consagração, em virtude da qual se comprometem, ainda que não sob pecado, a combater com todo o esforço, sob a bandeira da santíssima Virgem, pela perfeição cristã e salvação eterna própria e dos outros. Por essa consagração, o congregado fica para sempre obrigado para com a santíssima Virgem, a não ser que seja despedido por indigno, ou que, por ligeireza de ânimo, ele mesmo abandone a congregação.

Destas palavras, fica claro que erra aquele que julga ser a Congregação Mariana uma associação cujo principal objetivo é honrar Nossa Senhora. A Devoção a Nossa Senhora é, talvez, a marca mais sensível da Congregação, mas deve ser tida como um meio – o melhor dos meios – para atingir o objetivo proposto pelas regras. É por isso que nesta série de artigos sobre os elementos essenciais, a Devoção a Nossa Senhora ocupa o segundo lugar, não o primeiro. Isto não é diminuir a importância de Nossa Senhora para nós: Ela nos é tudo. Mas nossa Boa Mãe deseja nos levar ao seu Divino Filho, e sua especial proteção a todos os que se consagram a ela na Congregação é um penhor seguro disso. Muitas associações há que levam o nome da Santíssima Virgem. A Congregação Mariana brilha sobre todas não por ser mais devota e piedosa – embora, de fato, muitas vezes o seja – mas porque assume de maneira radical a Imitação da Santíssima Virgem, luta sob seu estandarte, a seu serviço, pela perfeição cristã e salvação eterna de seus membros, em primeiro lugar, e dos demais fiéis cristãos.

Diz-nos a Regra de 1587:

Art. I – Por esse motivo é muito conveniente que os irmãos dessa Congregação não apenas tenham à Santíssima Virgem particular reverência e honra, mas também apliquem com a integridade de vida e dos costumes a imitar o exemplo de suas excelsas virtudes e busquem frequentemente excitar uns nos outros seu amor e devoção e gravar em suas almas um vivo zelo pela exaltação de seu Santíssimo Nome.

 

Diz-nos de igual modo Bento XIV na Bula Áurea Gloriosae Dominae (1748):

E eles, de fato, levando o Nome adorável de Jesus por todas as terras e todos os mares ante reis e nações, não deixaram de anunciar juntamente o dulcíssimo Nome de Maria, e a cada vez que pregavam a luz da fé e a pureza de costumes, propagaram também maravilhosamente em todas as regiões do mundo o culto e o amor à Mãe de Deus, […] Consagrando-a de um modo especial a seu culto e serviço, guiados pela que é Mãe do amor formoso e do conhecimento e do temor de Deus, a ensinam a esforçar-se por alcançar o cume da perfeição cristã, para lograr o verdadeiro fim de sua eterna salvação.

 

Utilizando quase as mesmas palavras da Regra de 1587, evidenciando novamente a autêntica espiritualidade da Congregação ao longo da história, diz-nos a Regra de 1855:

Art. I – Uma vez que da Virgem Santíssima, Mãe de Deus, principal patrona desta Congregação, esperamos patrocínio e proteção – por Ela ser a Mãe de Misericórdia, por amar aqueles que a amam, ser guardiã e protetora daqueles que pia e religiosamente buscam seu auxílio, é de suma importância que os membros de sua Congregação devam não apenas verdadeiramente a venerar, mas também buscar, por uma conduta irrepreensível de suas vidas, imitar o exemplo de suas maravilhosas virtudes e incentivar um ao outro o amor a Ela.

Art. VI – Mas, uma vez que os membros da Congregação devem ter como seu maior estudo a honra a Deus e, depois dEle, da Virgem Santíssima, uma vez que eles dedicaram-se a Ela a pertencem por títulos muito especiais, o Padre Diretor e o Presidente não devem medir esforços para aumentar e estender essa devoção. Eles, portanto, devem cuidar que as mais solenes festas de Nosso Senhor e da Virgem Santíssima sejam celebradas pelos membros do Sodalício com especial fervor e devoção.

 

E ainda a Regra de 1910:

Art. I – As Congregações Marianas, instituídas pela Companhia de Jesus e aprovadas pela Santa Sé, são associações religiosas que têm em vista fomentar nos seus membros uma ardentíssima devoção, reverência e amor filial para com a B. Virgem Maria, e, por esta devoção e pelo patrocínio de tão boa Mãe, tornar os fiéis, reunidos em nome dela, bons cristãos […]

Art. XL -A Santíssima Virgem Maria é padroeira principal das Congregações Marianas; os Congregados devem, pois, ter-lhe uma devoção muito particular, esforçar-se por imitar suas exímias virtudes, colocar nela toda a sua confiança e animar-se mutuamente a amá-la e servi-la com piedade filial.

 

A devoção a Nossa Senhora é, portanto, um elemento essencial na Congregação. O melhor e mais seguro meio para atingir os objetivos propostos pela Regra. Fonte e destino de todas as nossas ações. Nossas reuniões, atos de piedade, terços, ofícios, orações, retiros, missas, estudos, academias e seções, enfim, tudo na Congregação tem na Devoção a Nossa Senhora sua origem e vitalidade. Assim como a Prima-Primária, fundada por um especialíssimo afeto a Nossa Senhora, que nossas Congregações sejam capazes de fazer tudo por amor a Nossa Senhora, em especial os dois fins da Regra: Santificar-se no próprio estado e fazer apostolado.

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