O Dom da Fortaleza como a vitalidade da vida cristã

Exspecta Dóminum, viriliter age (Ps. 26, 14)

Para discorrer sobre esse dom, é preciso antes refletir sobre sua virtude correspondente. Cada um dos dons o possui, a saber:

  • o dom de temor aperfeiçoa a virtude da temperança;
  • o dom de fortaleza aperfeiçoa a virtude da fortaleza;
  • o dom de piedade aperfeiçoa a religião, virtude anexa da justiça;
  • o dom de conselho aperfeiçoa a virtude da prudência;
  • os dons de ciência e entendimento aperfeiçoam a virtude da fé;
  • o dom de temor está em conexão com a virtude da esperança;
  • o dom de sabedoria aperfeiçoa a virtude da caridade.

A virtude da fortaleza

Também é chamada de força da alma, força de caráter, ou virilidade cristã, ou coragem cristã. (ESVC, 35). Segundo Tanquerey (TTAM, 510), “esta virtude […] é uma virtude moral sobrenatural que robustece a alma na conquista do bem árduo, sem se deixar abalar pelo medo, nem sequer pelo temor da morte”.

O objeto desta virtude é reprimir as impressões do temor, que tendem a paralisar os nossos esforços para o bem, e moderar a audácia que, sem ela, facilmente se converteria em temeridade.

Os atos desta virtude se reduzem a dois principais: empreender e tolerar coisas dificultosas. Existem efetivamente, no caminho da virtude e perfeição, numerosos obstáculos difíceis de vencer, que incessantemente renascem. É necessário não ter medo deles, ir até ao seu encontro, fazer corajosamente o esforço necessário para os vencer: é o primeiro ato da virtude da fortaleza.

Supõe-se, desse ato:

  1. Decisão, para nos resolvermos prontamente a cumprir o nosso dever, custe o que custar;
  2. Coragem, generosidade que faça esforços proporcionais às dificuldades e vá crescendo com estas, viriliter agendo;
  3. Constância, para continuar o esforço até o fim, não obstante a persistência e contra-ofensivas do inimigo.

Também é preciso saber tolerar por Deus as numerosas e árduas provações que Ele nos envia, os sofrimentos, as doenças, as zombarias, as calúnias de que somos vítimas.

Sustentar um assalto é muitas vezes mais difícil ainda que acometer, e há três razões, segundo Santo Tomás: 1) resistir supõe que somos atacados por um inimigo superior, ao passo que quem ataca se sente superior ao adversário; 2) quem sustenta o embate está já a braços com as dificuldades e sofre por causa delas, quem ataca não faz mais que prevê-las; ora, o mal presente é mais temeroso que o previsto; 3) suportar supõe que um fica imóvel e inflexível sob o embate, por tempo notável, por exemplo, quando alguém está cravado no leito por uma longa doença, ou quando alguém experimenta violentas ou longas tentações; quem empreende uma coisa difícil faz um esforço momentâneo, que geralmente não dura muito tempo.

Nosso Senhor elogia diversas vezes a fortaleza. Falando de São João Batista, ele diz: “que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?” Que há de comum entre um fraco caniço e aquele cuja voz ressoava no deserto? São João Batista era um forte.

Nosso Senhor também foi o modelo de fortaleza por excelência. Os evangelhos, quando falam de Nosso Senhor no sermão da montanha, dizem que “ele falava como aquele que tem o poder e não como os escribas e os fariseus”. Nosso Senhor foi um forte.

Forte na palavra e na ação, forte contra o demônio, contra o mundo, contra a carne. Ele mesmo faz o elogio ao forte: “Quando um homem forte e bem armado guarda sua casa, tudo está em paz.” Esta é a imagem do justo que guarda seu coração contra toda tentação e cilada do inimigo.

Mas especialmente, de modo sublime, foi forte na sua Paixão, suportando os mais terríveis sofrimentos, morais e físicos, com paciência e docilidade, sempre desejando mais que fosse feita a vontade de seu Pai.

A virtude da fortaleza é adquirida pelos atos repetidos dos que combatem, trabalham para levar uma vida honesta, para realizar as obras que o solicitam. Esta virtude precisa ser bem maior quando se opera, com meios humanos, a obra da nossa salvação. Deus também não desampara seus filhos que, chegando à idade da razão, se deparam com diversos obstáculos a transpor. Deus dá, no batismo, a virtude da fortaleza: em cada alma batizada já existe a potência de ser forte, que precisa ser posta em ato e cultivada pelos exercícios. O cristão já é um forte; ele tem a virtude da fortaleza, pode trabalhar, lutar. É bom que saibamos bem disso porque se acaso nos vejamos fracos, se não fazemos tudo que podemos para realizar nosso dever, é porque não utilizamos deste recurso que Deus pôs em nós.

Aspectos da virtude nas almas principiantes

A virtude da fortaleza se manifesta, nas almas em via purgativa, de três maneiras:

  1. O combate ao temor das fadigas e perigos: o homem possui bens mais preciosos que dinheiro, saúde, reputação e mesmo sua vida. Os bens da graça nos são um prelúdio da eternidade, todo esforço para alcançá-los é pouco, tendo em vista a recompensa.
  2. O combate ao temor das críticas e zombarias: em particular, o combate ao respeito humano, a preocupação com a boa imagem e boa fama em detrimento dos bens sobrenaturais.Importa muito, em particular os jovens, formar o desprezo ao respeito humano, a viril coragem de afrontar a opinião pública e seguir suas convicções sem temor e sem tacha.
  3. O combate ao temor de desagradar os amigos: mais vale agradar a Deus que aos homens. Quem nos impede de cumprir inteiramente nosso dever não passa de falso amigo. Não se deve buscar a vã popularidade dos homens, pois só a Deus é devida toda glória e honra.

Virtudes anexas da fortaleza

Magnanimidade

Chamada também de grandeza de alma, ou nobreza de caráter, é uma disposição nobre e generosa para empreender coisas grandes por Deus e pelo próximo. Difere da ambição, que é, pelo contrário, essencialmente egoísta, e procura elevar-se acima dos outros pela autoridade ou pelas honras; o desinteresse é o caráter distintivo da magnanimidade, a qual pretende prestar serviço aos outros.

Supõe-se uma alma nobre, com ideal elevado e ideias generosas; uma alma corajosa, que sabe pôr a sua vida em harmonia com as suas convicções. Ou seja, não se manifesta apenas em sentimentos nobres, mas também em ações nobres, em todas as ordens: na ordem militar, por ações brilhantes; na ordem cívica, por grandes reformas ou grandes empresas industriais, comerciais, etc; na ordem sobrenatural, por um ideal elevado de perfeição, que incessantemente procuramos realizar, por esforços generosos para nos vencermos e sobrepujarmos a nós mesmos, para adquirirmos virtudes sólidas, praticarmos o apostolado em todas as suas formas, fundando e dirigindo obras de zelo; isto tudo, sem temor de comprometer a renda, a saúde, a reputação, a própria vida.

O defeito oposto é a pusilanimidade que, por temor excessivo dum revés, hesita e fica na inação. Para evitar situações desagradáveis, comete-se em realidade a maior das inépcias, que é não fazer nada ou quase nada, levando assim uma vida inútil. É evidente que vale mais expor-se a algumas humilhações que ficar na inação.

Magnificência

Quem tem a alma nobre e o coração grande, pratica a magnificência, que nos leva a empreender coisas grandiosas e, por isso mesmo, a fazer grandes despesas, que essas obras exigem.

Se essas obras são inspiradas por orgulho ou ambição, não são virtudes. Mas quando se pretende a maior glória de Deus e o bem dos nossos semelhantes, sobrenaturalizamos esse desejo natural das grandezas e, em vez de capitalizarmos constantemente os nossos haveres, despendemos fidalgamente o dinheiro em grandes e nobres empresas, obras de arte, monumentos públicos, construções de igrejas, hospitais, escolas e universidades, numa palavra, tudo quanto favorece o bem público: é então uma virtude, que nos faz triunfar do apego natural ao dinheiro e do desejo de aumentar os rendimentos.

Excelente virtude, recomendada aos ricos, porém não é preciso ser rico para ter essa virtude. S. Vicente de Paulo não o era, contudo, não há um só homem que tenha praticado tanto e tão acertadamente como ele uma magnificência verdadeiramente real para com todas as misérias do seu tempo, e fundado obras que tivessem resultado tão duradouro. Quem tem alma nobre encontra recursos na caridade pública, e parece que a Providência se põe ao serviço das grandes dedicações, quando se sabe confiar nela.

Os defeitos opostos são a mesquinhez e a profusão.

  • A mesquinhez, ou miséria, trava os arranques do coração, não sabe proporcionar as despesas à importância da obra que se há-de empreender e se alguma coisa faz, é sempre pequena e acanhada.
  • A profusão, pelo contrário, impele-nos a fazer despesas excessivas, a prodigalizar o dinheiro sem conta, sem proporção com a obra empreendida, indo até por vezes além dos próprios recursos. Chama-se também de prodigalidade.

Paciência

A paciência é uma virtude cristã que nos faz suportar com igualdade de alma, por amor de Deus e em união com Jesus Cristo, os sofrimentos físicos ou morais.

Todos nós padecemos suficientemente para sermos santos, se o soubermos fazer corajosamente e por motivos sobrenaturais; muitos, porém, não sofrem senão queixando-se, praguejando, amaldiçoando até por vezes a Providência; outros sofrem por orgulho ou cobiça e perdem assim o fruto da paciência.

O verdadeiro motivo que nos deve inspirar, é a submissão à vontade de Deus, e, para nos ajudar a isso, a esperança da recompensa eterna que coroará a nossa paciência. Mas o estímulo mais poderoso é a meditação de Jesus, sofrendo e morrendo por nós. Se Ele, a própria inocência, suportou tão heroicamente tantas torturas físicas e morais, por nosso amor, para nos resgatar e santificar, não

é justo que nós, que somos culpados, e com nossos pecados lhe causamos os sofrimentos, nos sujeitemos generosamente a padecer com Ele e pelas suas mesmas intenções, para colaborarmos com Ele na obra da nossa purificação, e termos parte na sua glória, depois de a havermos tido nos seus sofrimentos?

As almas nobres e generosas acrescentam ainda um motivo de apostolado: sofrem, para completarem a Paixão do divino Salvador e trabalharem assim na redenção das almas. Aqui está o segredo da paciência heróica dos Santos e do seu amor à cruz.

A paciência dos principiantes – Deve-se aceitar o sofrimento, como vindo de Deus, sem murmúrio nem revolta, sustentada pela esperança dos bens celestes; aceita-o, para reparar as suas faltas e purificar o coração, para dominar as suas inclinações desordenadas, em particular a tristeza e o abatimento; aceita-o, apesar das repugnâcias da sensibilidade, e, se pede que o cálice se afaste, acrescenta que, suceda o que suceder, se sujeita à vontade divina.

Na vossa paciência, possuireis as vossas almas”. Através da paciência, podemos unir nosso sofrimento ao de Nosso Senhor na cruz, elevar e tornar útil tudo de ruim que nos acontece, pois é assim que Cristo deseja que se opere a obra da nossa santificação. Que nossas dores e nossas orações queimem como incenso e se eleve a Deus em reparação pelos nossos pecados.

Constância

A constância, ou perseverança, consiste em lutar e sofrer até o fim, sem sucumbir ao cansaço, ao desalento ou à moleza.

A experiência mostra, efetivamente, que, depois de esforços reiterados, a alma se cansa de praticar o bem, ou se enfastia de ter de conservar constantemente a vontade em tensão; é observação de Santo Tomás: “Diu insistere alicui difficili specialem difficultatem habet” (persistir em algo difícil tem uma dificuldade especial).

E, contudo, não é sólida a virtude enquanto não tem sanção de tempo, enquanto não está consolidada por hábitos profundamente arraigados. Esse sentimento de cansaço produz muitas vezes o desânimo e a moleza; o fastio, que se experimenta em renovar os esforços, distende as energias da vontade, e produz um certo abatimento moral ou desalento; então o amor do prazer e a saudade de estar dele privado retomam o predomínio, e a alma deixa-se ir ao sabor das suas más tendências.

Para reagir contra esta fraqueza:

  1. É necessário, em primeiro lugar, lembrarmo-nos que a perseverança é um dom de Deus, que se obtém pela oração; devemos, por conseguinte, pedi-lo com instância, em união com Aquele que foi constante até à morte, e por intercessão daquela que chamamos com razão Virgem fiel.
  2. É preciso, em seguida, renovar as convicções sobre a brevidade da vida e a duração sem fim da recompensa que coroará os nossos esforços; se temos toda a eternidade para descansar, vale bem a pena fazer alguns esforços e passar algumas contrariedades na terra. Se, apesar de tudo, nos sentirmos fracos e vacilantes, é pedir com insistência a graça da constância, cuja necessidade tão vivamente experimentamos, repetindo a oração de S. Agostinho: “Da, Domine, quod iubes, et iube quod vis” (Dá, Senhor, o que ordenas, e ordena o que queres).
  3. É pormo-nos, enfim, corajosamente à obra com novo ardor, apoiados na graça omnipotente de Deus, apesar do pouco resultado aparente das nossas tentativas, lembrando-nos de que Deus nos exige o esforço e não o resultado. Não esqueçamos, contudo, que temos às vezes necessidade duma certa expansão, repouso e distração: “homo non potest diu vivere sine aliqua consolatione” (o homem não pode viver por muito tempo sem alguma consolação). A constância não exclui, pois, o descanso legítimo: “otiare, quo melius labores” (descansar para trabalhar melhor); tudo está em tomá-lo em conformidade com a vontade de Deus, segundo as prescrições da regra ou dum prudente diretor.

Meios de se obter e aperfeiçoar a virtude da fortaleza

  1. O segredo da nossa fortaleza reside na desconfiança de nós mesmos e na confiança absoluta em Deus. Incapazes, sem o auxílio da graça, de fazer qualquer coisa boa, na ordem sobrenatural, participaremos da força do próprio Deus e seremos invencíveis, se tivermos cuidado de nos apoiar em Jesus Cristo: “Omnia possum in eo qui me confortat” (Tudo posso naquele que me fortalece). Eis o motivo por que os humildes é que são fortes, quando à consciência da sua fraqueza ajuntam a confiança em Deus. São, pois, estes os dois sentimentos que se devem cultivar nas almas.
    1. Tratando-se de orgulhosos e presunçosos, é insistir na desconfiança de si mesmos;
    2. A tímidos e pessimistas propõe-se com insistência a confiança em Deus, explicando-lhes estas consoladoras palavras de S. Paulo: “lnfirma mundi elegit Deus ut confundat fortia, et ea quæ non sunt ut ea quæ sunt destrueret” (o que era fraco aos olhos do mundo, escolheu-o Deus para confundir os fortes, e o que não é nada, para reduzir a nada o que é).
  2. A esta dupla disposição é mister juntar convicções profundas e o hábito de proceder em conformidade com essas convicções.
    1. Convicções fundadas nas grandes verdades, em particular o fim do homem e do cristão, a necessidade ele sacrificar tudo para alcançar esse fim; o horror que nos deve inspirar o pecado, único obstáculo ao nosso fim; a necessidade de sujeitar a nossa vontade à de Deus, para evitarmos o pecado e conseguirmos o nosso destino, etc. Estas convicções é que são, efectivamente, os princípios diretores do nosso proceder, e os motores que nos dão o impulso necessário para triunfar dos obstáculos.
    2. Eis o motivo por que importa habituar-nos a proceder conforme essas convicções; não nos deixaremos, pois, arrastar pela inspiração do momento, pelo ímpeto brusco da paixão, pela rotina ou interesse pessoal; mas, antes de fazermos qualquer coisa, digamos: quid hoc ad aeternitatem? Esta ação, que vou praticar, aproxima-se de Deus, da minha eternidade bem-aventurada? Se sim, faço-a; se não, abstenho-me. Assim, referindo tudo ao último fim, vivemos conforme as nossas convicções, e somos fortes.
  3. Para melhor se vencerem as dificuldades, é bom prevê-las, encará-las de frente, e armar-se de coragem contra elas; mas sem as exagerar, e contando com o auxílio que Deus não deixará de nos dar em tempo oportuno. Dificuldade prevista é dificuldade meio vencida.
  4. Enfim não esqueçamos que não há nada que nos torne intrépidos como o amor de Deus: “fortis est ut mors dilectio” (o amor é forte como a morte). Se o amor torna a mãe corajosa e denodada, quando se trata de defender a seus filhos, que não fará o amor de Deus, quando se encontra profundamente enraizado na alma? Não foi ele que fez os mártires, as virgens, os missionários, os santos? Quando S. Paulo conta as provações que passou, as perseguições e sofrimentos que suportou, perguntamo-nos qual era a força maravilhosa, que lhe sustentava a coragem no meio de tantas adversidades. Ele próprio no-lo diz: era o amor de Cristo: “Caritas enim Christi urget nos” (A caridade de Cristo nos constrange). E eis aqui o motivo por que está sem inquietação quanto ao futuro; porquanto, que há aí que o possa separar do amor de Cristo: “quis nos separabit a caritate Christi?”. E enumera as diferentes tribulações que pode prever, acrescentando que “nem a morte, nem a vida, nem os anjos … nem as coisas presentes, nem as futuras, nem a violência… nem criatura alguma nos poderá separar do amor de Deus em Jesus Cristo Nosso Senhor”. O que S. Paulo dizia, qualquer cristão o pode dizer, contanto que ame lealmente o seu Deus; e então participará da força do próprio Deus: “quia tu es Deus, fortitudo mea” (pois Vós sois Deus, a minha fortaleza).

O dom da fortaleza

É um dom que aperfeiçoa a virtude da fortaleza, dando à vontade um impulso e uma energia, que lhe permite fazer ou sofrer alegre e intrepidamente grandes coisas, a despeito de todos os obstáculos.

Diferença da virtude da fortaleza

Ela provém não dos nossos esforços auxiliados pela graça, mas da ação do Espírito Santo que se apodera da alma pelo alto e lhe dá um império particular sobre as faculdades inferiores e sobre as dificuldades externas. A virtude não tira uma certa hesi­tação, um certo receio dos obstáculos e dos reveses; o dom substitui a tudo isso a decisão, a segurança, a alegria, a esperança certa do triunfo, e assim produz os maiores resultados. Eis o motivo por que de S. Estêvão diz a Sagrada Escritura que, na hora de sua morte, estava cheio de fortaleza, porque estava cheio do Espírito Santo: “Stephanus autem plenus gratia et fortitudine, cum autem esset plenus Spiritu Sancto” (Estêvão, cheio de graça e força, e cheio do Espírito Santo).

Operar e sofrer

Operar e sofrer, até mesmo no meio das dificuldades mais espinhosas, e às custas de esforços por vezes heróicos, tais são os dois atos a que nos leva o dom da fortaleza.

  • Operar, isto é, empreender sem hesitação nem temor as coisas mais árduas; por exemplo, praticar o recolhimento perfeito numa vida muito movimentada, como S. Vicente de Paulo ou Santa Teresa; guardar inviolavelmente a castidade no meio dos encontros mais escabrosos, como Santo Tomás de Aquino e S. Carlos Borromeo; permanecer humilde no meio das honras, como S. Luís ; afrontar os perigos, os tédios, as fadigas, a própria morte, como S. Francisco Xavier; calcar aos pés o respeito humano, desprezar as honras, como S. João Crisóstomo, que não temia senão uma coisa: o pecado.
  • Não se requer menos fortaleza para suportar: longas e dolorosas enfermidades , como Santa Ludovina, ou sofrimentos morais , como os que toleram certas almas nas provações passivas: ou simplesmente para observar por toda a vida, sem quebra, todos os pontos da sua regra. O martírio é considerado como o ato por excelência do dom de fortaleza, e com razão, pois se dá por Deus. o bem mais caro, a vida; mas derramar o sangue gota a gota, consumindo-se completamente pelas almas, como fazem, após S. Paulo, tantos humildes sacerdotes e piedosos leigos, é um martírio ao alcance de todos, que nem por isso é menos meritório.

Cultivo do dom da fortaleza

Como a nossa fortaleza não vem de nós mesmos, senão de Deus, é evidentemente necessário buscá-la nele, reconhecendo humildemente a nossa impotência . Serve-se, efetivamente, a Providência dos instrumentos mais fracos, contanto que eles tenham consciência da sua fraqueza e se apoiem no único que os pode fortificar.

Tal é o sentido destas palavras de S. Paulo: “O que é insensato aos olhos do mundo, escolheu-o Deus para confundir os sábios; e o que é fraco segundo o mundo, escolheu-o Deus, para confundir os fortes, e o que é vil e desprezível segundo o mundo escolheu-o Deus, e as coisas que não são, para reduzir a nada aquelas que são, para que nenhuma carne se glorie na sua presença”.

É sobretudo na sagrada comunhão que podemos haurir em Jesus a fortaleza de que precisamos para triunfar de todos os obstáculos. S. Crisóstomo representa os cristãos, ao saírem da sagrada mesa, fortes como leões, porque participam da fortaleza do mesmo Cristo Senhor Nosso.

É necessário também lançar cuidadosamente mão das mil pequeninas circunstâncias em que, pela continuidade do esforço, se pode exercitar a fortaleza e a paciência.

É o que fazem os que:

  • se submetem alegremente a uma regra desde pela manhã até à noite,
  • se esforçam por estar atentos nas suas orações e recolhidos por todo o dia adiante,
  • guardam o silêncio, quando lhes dá vontade de falar,
  • evitam fixar a vista em objetos que lhes excitam a curiosidade,
  • sofrem sem queixas as intempéries das estações,
  • se mostram amáveis para com aqueles que lhes são natural­mente antipáticos,
  • recebem com paciência e humildade as repreensões que se lhe dão,
  • se acomodam aos gostos, aos desejos e temperamentos dos outros,
  • suportam sem irritações a contradição,
  • se aplicam a triunfar das suas paixõesinhas, pelo vencimento próprio.

Fazer tudo isto , não uma vez de passagem, mas habitualmente , fazê-lo não somente com paciência , mas com alegria, é já heroísmo; e então não será difícil ser heróico nas grandes circunstâncias, quando se apresentarem teremos conosco a fortaleza do mesmo Espírito Santo: “Accípietis virtutem supervenientis Spiritus Sancti in vos et eritis mihi testes” (Recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós e sereis minhas testemunhas).

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Precisamos do sopro do Espírito da fortaleza para construir em nós o homem interior, levar uma vida interior verdadeira, profunda. Peçamos ao Espírito Santo para fazer esta obra em nós, que não é outra coisa do que a preparação do homem eterno e de nos fazer viver com Deus de uma maneira contínua. Isto se fará, com a condição de sermos instrumentos, como o pincel que o Artista divino tomará para desenhar os traços do homem interior; peçamos isto a Ele!

Ó Espírito Santo, dom do Pai e do Filho, concedei-nos ser fortificados por esta força que vem de Vós, a fim de que nos tornemos almas interiores, para que realizemos com nossos pobres meios esta obra prima que se chama uma alma interior sobre a terra, que será amanhã, no céu, uma alma santa.

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