O Santíssimo Sacramento e nós
Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens
Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles, e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos (Ap 21,3)
Onde está o santo tabernáculo em que Deus habita com os homens? Nos céus? Sim, verdadeiramente. Mas também na Terra; no entanto, há esta diferença: No Céu vê-se face a face. Na terra, esconde-se sob os véus do Santíssimo Sacramento no tabernáculo dos nossos altares. Desde a Basílica Romana até a mais humilde capelinha, no sacrário esconde-se aquele que governa todo o mundo! Não há outra nação com um Deus que fique tão perto do seu povo como o Senhor, nosso Deus1, pois neste Santo Sacramento possuímos o próprio Cristo, verdadeira e substancialmente presente.
Mas, que pena! Para tantos homens, quão pouco este privilégio significa! Seja porque não o entendem, seja porque, pior ainda, simplesmente o desprezam! Que nós, caros irmãos, não nos unamos ao número destes últimos. Que nos esforcemos para perceber e corresponder a esta, que é a grande e a principal doutrina de nossa fé e a vida de nossa religião. Consideremos, por isso, o que é o Santíssimo Sacramento em si mesmo, para a Igreja e como deve ser nossa devoção a ele.
O que é o Santíssimo Sacramento em si mesmo?
- É o adorável sacramento instituído por Cristo em que Ele Mesmo está presente sob as aparências do Pão e do Vinho;
- Provocado pelo amor, foi instituído na Última Ceia. Mas, com suprema sabedoria e benigna consideração pela limitação humana de compreender abruptamente tão estupendo mistério, Cristo primeiramente o prefigurou em diversas figuras no Antigo Testamento: no Maná, no Cordeiro, no Sacrifício de Melquisedec, no véu do templo, em Moisés falando aos israelitas com os rosto coberto. Prefigurou-o também nos humildes panos em que foi envolto o Divino Infante em Belém, no Milagre de Caná, na multiplicação dos Pães, na Transfiguração; anunciou-o e prometeu-o em Carfanaum e o instituiu um ano depois, como prova de seu amor, na véspera de sua Paixão.
- E Ele o fez assim para que este sacramento fosse o testamento eterno de sua Paixão, o Sacrifício da Nova Lei, o alimento dos filhos de Deus, o monumento de seu amor, o penhor da Glória futura, a imagem de seu corpo místico, a Igreja, e uma fonte perpétua de consolação para todos nós; em resumo, Cristo quis ser nossa vítima, nossa companhia e nosso alimento.
- É, diante dos demais sacramentos, como o Sol diante das estrelas à noite.
- É o resumo das maravilhas de Deus na ordem da Graça, assim como o homem é o resumo de suas maravilhas na ordem da natureza. Na Santíssima Eucaristia está a Encarnação do Filho de Deus, Sua vida, Seus exemplos e milagres, Sua Paixão e Morte, Sua Ressurreição e Ascensão.
O que é o Santíssimo Sacramento para a Igreja e para os fiéis?
- É o chefe invisível da Igreja, assim como o Romano Pontífice é o chefe visível
- É o centro de toda a vida católica, pois tudo na Igreja gira em torno da Eucaristia e da Missa
- É o anelo de ouro que une a Igreja Militante com a Igreja Triunfante, a Igreja visível com a Igreja invisível
- É o tesouro oculto, mas ao mesmo tempo aberto, de onde podemos tirar todos os tesouros de Deus
- É a fonte de água viva, a fonte da vida, a fonte da força; é o Sol no mais alto dos céus, sempre brilhando, não apenas iluminando, mas também descendo à terra, dando-lhe calor e vivificando todo o mundo
- É a nuvem de fogo que guia e vai à frente da Igreja em sua jornada na terra (Ex 13, 21)
- É o Coração da Igreja, que impulsiona por suas veias o sangue vivificante da caridade e todas as virtudes
- É o princípio e o fim de toda atividade apostólica
- É a árvore da vida, posta no centro do paraíso, dando a vida não apenas à alma pela graça, mas também ao corpo pelo penhor da ressurreição e glória futura
- É o alimento e o viático da alma em sua jornada da terra ao Céu
- É o livro da vida, escrito por dentro e selado por fora, mas aberto pelo Cordeiro que foi imolado, em que está toda a santidade
Como deve ser nossa devoção para com o Santíssimo Sacramento
- Adoração
Em primeiro lugar, devemos adorar o Santíssimo Sacramento. Pois, como o Concílio de Trento nos ensina:Não há dúvida alguma de que todos os fiéis de Cristo, segundo o costume que sempre vigorou na Igreja, devem tributar a este santíssimo sacramento a veneração e o culto de adoração (latria), que só se deve a Deus. Nem se deve adorá-lo menos pelo fato de ter sido instituído por Cristo Senhor Nosso como alimento. Pois cremos estar nele presente aquele mesmo, do qual o Eterno Pai, ao introduzi-lo no mundo, disse: Adorem-no todos os anjos de Deus (Hb l, 6; SI 96, 7) e a quem os Magos, prostrando-se, o adoraram (Mt 2, 11), aquele, enfim, do qual a Escritura testifica: os Apóstolos adoraram-no na Galiléia (Mt 28, 17)
- Reverência
Com grande respeito e silêncio, devemos imitar o exemplo dos anjos que, embora de maneira não visível, circundam o altar em adoração ao Senhor - Visitação
Fazendo-o visitas frequentes, aproveitando cada oportunidade para passar um tempo com o Divino Amigo; é adequado que nossa alegria e prazer consista em estar com Aquele cujo prazer é estar com os filhos dos homens (Prov 8, 31) - Consolação
Ao amarmos o Santíssimo Sacramento, iremos buscar consolar a indiferença, frieza, o esquecimento e ingratidão de tantos. “Veio para os seus e os seus não o receberam” (Jo 1) - Reparação
Pois este Divino Sacramento é também desonrado, ofendido, blasfemado - Oblação
Estando presente no Sacratíssimo Sacrifício da Missa - Recebendo a Sagrada Comunhão
- Pela fé, esperança e caridade, amando-O em retorno por seu amor
- Imitando sua humildade, sua caridade, sua vida interior e as outras virtudes que Ele nos ensina no Santíssimo Sacramento
- Propagando a Devoção Eucarística, pelas participação nas horas santas, nas adorações, no bom exemplo e nas exortações
Pe. Schouppe em Pulpit Themes
Tradução e ampliação por um congregado mariano