São Luís Gonzaga e a escolha pela vida religiosa

Certo dia, o jovem Luís, ao considerar a felicidade da vida religiosa, disse a si mesmo: 

“Vê, Luís, que grande bem é a vida religiosa. Estes padres estão livres de todas as ciladas do mundo e afastados de toda ocasião de pecar. O tempo, que os mundanos inutilmente gastam em correr atrás de bens transitórios e de vãos prazeres, estes o empregam todo, com grande merecimento, na conquista dos verdadeiros bens do céu; e estão seguros de que não hão de perecer seus santos trabalhos. Na verdade, são os religiosos os que vivem segundo a razão, e não se deixam tiranizar dos sentidos e das paixões. Não ambicionam honras, não prezam os bens terrenos e transitórios, não sentem o estímulo da emulação, não têm inveja dos bens alheios; contentam-se somente com o servir a Deus, a Quem servir é reinar. Que admiração, pois, que estejam sempre alegres e contentes, e não temam nem morte, nem juízo, nem inferno, vivem com a consciência limpa de pecado, e vão noite e dia adquirindo novos merecimentos e empregando-se sempre em obras santas, com Deus ou por Deus?

O testemunho da boa consciência conserva-os naquela paz e tranquilidade interior que nasce a serenidade que se lhes vê no rosto. Aquela bem fundada esperança de alcançar bens celestes, de lembrarem-se a Quem servem, e em cuja corte estão, a quem não consolaria? E tu que fazes? Que cuidas? Por que não poderás escolher para ti este estado? Lembra-te das grandes promessas que Deus lhes há feito; vê com que comodidade poderás atender às tuas devoções sem estorvo. Se, como já resolveste fazer, cederes teus Marquesado a Rodolfo, teu irmão mais novo, mas quiseres falar, serás importuno, ou não serás atendido. Ainda que te ordenes, e sejas eclesiástico, nem por isso estarás livre de responsabilidade: antes, tendo, mais que os mundanos, obrigação de levar vida perfeita, ficarás nos mesmos perigos que eles, e de alguma sorte exposto a maiores tentações, que os casados. De nenhum modo estarás livre da consciência mundana, e será necessário, vivendo no mundo, cuidar nele, e ora entreter-se com uma pessoa, ora com outra. Se não conversares com mulheres e senhoras tuas parentas, serás notado, se com elas conversares e tratares, eis por terra teu propósito. Se quiseres aceitar prelazias da Igreja, ficarás mais imerso nos negócios do mundo, do que estás agora; se as recusares, os teus próprios farão pouco de ti, dirão que desonras a família, e de mil modos procurarão fazer-te aceitá-las. Por isso, se te fazes religioso, de um golpe cortas todos esses empecilhos, cerras a porta a todos os perigos: livras-te de todo respeito humano e pões-te em estado de poder gozar para sempre inteiro repouso e servir a Deus com toda perfeição.”

Assim começou a viver o jovem Luís. Antes mesmo de ser admitido à Companhia, pôs-se a fazer penitências e a afastar-se do mundo a rigor, levando uma vida religiosa ainda na corte. 

Tendo decidido o estado de vida a seguir, caberia agora a São Luís escolher em qual ordem deveria ingressar. Os critérios foram estabelecidos, sendo o maior deles: dar glória a Deus em tudo. Após oração, conselhos e discernimento, escolheu Luís a Companhia de Jesus. São Luís desejava ser jesuíta, por quatro motivos, são eles: 1. Observância da regra. São Luís buscava uma ordem que ainda possuía a sua regra primitiva e sua pureza intactas, sem ter sofrido alteração alguma. 2. Porque na Companhia se fazia voto de não procurar dignidade eclesiástica. Ora, esse foi o motivo de tanta perseguição e adversidade sofrida por Luís em sua família, o fato de não querer usufruir do título de marquês. Logo, nenhum sentido faria buscar tal honraria em cargos eclesiásticos. 3. O apreço pelas escolas e congregações. Por meio dos colégios e confrarias, Luís poderia ajudar outros jovens a viverem a felicidade que o mesmo sentia por seguir os desígnios de Deus. Por fim, 4. Conversão dos hereges. Que jovem não pensava em ser jesuíta e ajudar na conversão dos nativos ou hereges? Esta era sua vontade, embora soubesse que por conta de sua saúde, tais feitos seriam difíceis de serem alcançados. 

Tal escolha não foi fácil, pois não contava com o apoio de seu pai, e este, sempre encontrava uma maneira de retardar a escolha e partida do filho, mas Luís sabia que “o que ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim” (Mt 10,37) Certa vez, dois meses e meio após a entrada de Luís na Companhia, chega a notícia do falecimento de seu pai. Para espanto de todos aqueles que conheciam Luís, não houve abalo. O jovem amava seu pai, o marquês, de modo tão particular que se esperava grande comoção. No entanto, o jovem Luís sabia que esta era a vontade de Deus. A morte do marquês era ação da Providência, uma vez que se tal falecimento acontecesse 3 meses antes, o superior geral da Companhia consideraria a admissão de Luís, já que este, seria o sucessor direto de seu pai e futuro chefe da casa de Gonzaga. Mas Deus quis assim, foi dado tempo a Luís para que fosse admitido à vida religiosa e ao marquês, que vendo o filho renunciar às pompas e encontrar-se com a pobreza, decidiu, por graça de Deus, mudar de vida. 

São Luís Gonzaga, dentre tantas virtudes, ensina-nos que a indiferença, neste caso a santa indiferença, como diz Santo Inácio, é própria daquele que confia em Deus. Confiemos também nAquele que nos conhece como ninguém. Rezemos pedindo a graça de resignar-se à vontade de Deus e fazer tudo aquilo que Ele nos disser (Jo 2,5).

Referências

Cepari, Virgilio SJ. São Luís Gonzaga da Companhia de Jesus: padroeiro da juventude 

Mt 10,37

Jo 2,5

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