Sermão para festa de Cristo Rei – 26/10/2025
SERMÃO PARA A FESTA DE CRISTO REI
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Nós Vos proclamamos, ó Cristo, o único Príncipe dos séculos, o único Rei das nações e Juiz das almas e dos corações. […] Que os governantes das nações Vos honrem publicamente. Que os professores e os magistrados Vos venerem e que as artes e as leis exprimam a vossa realeza.”
Essas palavras do hino das Vésperas da Festa de Cristo Rei, instituída por Pio XI na Encíclica Quas Primas (1925), ressoam hoje com força profética. Elas foram escritas para um tempo em que as nações, seduzidas pelo laicismo e pelo orgulho humano, gritavam como outrora o povo de Jerusalém: “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19,14).
Mas também foram escritas para nós, que vivemos nestas terras amazônicas, chamadas outrora de “Terras de Santa Maria”, onde os primeiros missionários, ao cruzarem os rios imensos e as selvas hostis, vinham com um só propósito: implantar o Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando os jesuítas, carmelitas e franciscanos chegaram ao Amazonas no século XVII, eles não buscavam riquezas, mas almas. Vieram, como soldados de Cristo, para erigir neste vasto território o trono do Rei crucificado.
Foram eles que plantaram, nas margens do rio Negro, as primeiras cruzes, ergueram os primeiros altares e celebraram as primeiras Missas que santificaram o chão onde hoje se levanta Manaus.
O Pe. Samuel Fritz, o Pe. João Felipe Bettendorff, o Pe. João Daniel e tantos outros — verdadeiros apóstolos — sofreram fome, febres e perseguições, mas não recuaram: queriam que Cristo reinasse sobre as tribos, sobre as famílias, sobre os governantes.
Eles não traziam teorias, mas o Evangelho. Não traziam discursos, mas o Santíssimo Sacramento.
Com o Crucifixo na mão e o Rosário no pescoço, ensinaram aos povos da floresta que havia um só Senhor, um só Rei, um só Salvador: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Foi assim que começou a história cristã de Manaus.
Nas capelas rústicas de palha e madeira, o Coração de Jesus começou a reinar. Cada batismo era uma conquista para o Reino; cada confissão, uma vitória sobre o inferno; cada Eucaristia, um trono erguido ao Rei dos reis no coração da Amazônia.
Mas hoje, caros fiéis, aquele mesmo grito de revolta ecoa de novo: “Não queremos que Cristo reine sobre nós.”
As nações, as escolas, as leis e até muitas famílias se afastaram de Nosso Senhor. O secularismo — esse veneno moderno — quer expulsar Cristo da sociedade, como se Ele fosse um intruso.
Quantas vezes o nome de Jesus é silenciado, sua cruz escondida, sua doutrina ridicularizada!
E no entanto, Ele é o Rei verdadeiro, o Rei por direito natural — porque é o Criador —, e o Rei por direito de conquista — porque nos resgatou com seu Sangue precioso.
Quem não se submeter voluntariamente ao seu suave jugo será submetido pela sua justiça.
Rejeitar o Reinado de Cristo é preferir o domínio de Satanás, e por isso vemos o mundo mergulhar em confusão: famílias desfeitas, juventude sem fé, leis injustas, e povos que já não sabem distinguir o bem do mal.
Cristo deve reinar, antes de tudo, em nossas almas.
De nada adianta clamar “Viva Cristo Rei” com os lábios, se com os pecados erguemos tronos ao inimigo. O reinado de Cristo começa dentro de nós, quando a inteligência se submete à verdade da fé e a vontade se dobra à caridade divina.
Mas este reinado deve também estender-se às famílias.
Cristo é Rei do lar, porque santificou o matrimônio e o elevou à dignidade de sacramento.
Quando um casal é fiel, quando os pais ensinam aos filhos o catecismo, quando a oração volta à mesa e à casa, Cristo volta a reinar.
E se Ele reinar nas famílias, reinará na sociedade, porque a sociedade é o reflexo das famílias que a compõem.
Como dizia Leão XIII:
“Assim como de um tronco corrompido brotam ramos e frutos maus, assim também, de famílias corrompidas, nascem cidadãos depravados. Mas numa família cristã e ordenada, aprende-se o amor à religião, o respeito aos superiores e o desprezo pelas doutrinas falsas.”
Manaus, cidade de tradições católicas, precisa redescobrir essa herança.
As águas do Rio Negro e do Solimões já ouviram o nome de Cristo há séculos — não deixemos que o paganismo moderno o afogue.
Que os professores ensinem a verdade com caridade; que os governantes promovam leis conformes à lei natural; que os artistas cantem o belo que eleva a alma a Deus; que as famílias ergam novamente o Crucifixo no centro de seus lares.
Assim, o mesmo Cristo que reinou nas missões antigas voltará a reinar nesta terra.
Mas onde Cristo reina de modo mais pleno é no Santíssimo Sacramento do Altar.
É ali, sob as espécies humildes do pão e do vinho, que o Rei dos reis habita entre nós.
Os missionários do Amazonas sabiam disso: antes de fundar qualquer povoação, erigiam uma capela e colocavam nela o tabernáculo, para que Cristo reinasse real e verdadeiramente.
Enquanto houver uma Hóstia consagrada em Manaus, o Amazonas não estará perdido, porque ali está o Coração de seu Rei.
Ajoelhemo-nos, pois, diante do trono eucarístico e proclamemos com os santos e mártires da Igreja:
“Viva Cristo Rei!”
Queremos, Senhor, que reineis sobre nós:
Sobre nossas almas, pela fé e pela graça.
Sobre nossas famílias, pela santidade da vida doméstica.
Sobre nossa cidade, pela justiça e pela caridade.
Sobre nossa Pátria, pela submissão à vossa lei divina.
E que, reinando aqui em Manaus, o vosso Coração Sagrado seja o sol que ilumina a Amazônia inteira.
“Regnavit a ligno Deus” — Deus reinou do madeiro.
Do madeiro da cruz, Cristo conquistou o mundo. Que Ele reine agora também em nossos corações.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Viva Cristo Rei!
Feito por um padre amigo da Congregação




