A visitação de Maria e a obrigação da caridade
No dia 02 de julho, a Igreja, em sua sabedoria, nos presenteia com a festa da Visitação da Virgem Santíssima à sua prima santa Isabel. A festa vem logo após a festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor, e talvez não pensemos em nenhuma ligação entre ambas as datas. Entretanto, é possível traçar um paralelo entre elas, pois ambas as festas dizem respeito a uma virtude: a caridade.
O Sangue de Nosso Senhor, derramado na cruz por nós, vem pela caridade, pois foi a caridade que fez com que Cristo se entregasse ao Pai por nós.
Vale ressaltar que a caridade é na verdade, amor. O amor de Deus para com os homens resultou no mistério da Encarnação, o amor de Cristo para com os homens resultou no mistério da Redenção e é do mesmo amor que o Espírito Santo desce sobre os apóstolos juntos de Nossa Senhora no mistério de Pentecostes. Consideremos como o amor, ou seja, a caridade está presente na Santíssima Trindade. Ora, como não seria também a vida da Virgem regida pela caridade, uma vez que é filha de Deus Pai, mãe de Deus Filho e esposa do Espírito Santo?
A festa da visitação nos remete ao trecho do evangelho de São Lucas que diz: “Naqueles dias, levantando-se Maria, foi com pressa às montanhas, a uma cidade de Judá” (Lc 1,39). A pressa de tão boa mãe era para auxiliar sua santa prima que estava grávida de São João Batista. Veja quão grande era a caridade de Nossa Senhora, que, ao saber que um conhecido seu precisava de ajuda, não hesitou em socorrer.
“Soube pelo anjo Gabriel que sua prima Isabel estava para ser mãe e, sem demora, põe-se a caminho para ir oferecer-lhe os seus humildes préstimos” (Meditação sobre a Visitação de Maria à Isabel. Intimidade Divina – Frei Gabriel de Santa Maria Madalena)
A caridade fez com que Nossa Senhora não pusesse dificuldades. Não importava o tempo, a distância e nem mesmo os gastos, nada disso era um impedimento real à caridade. Diz o frei Gabriel de Santa Maria Madalena em seu livro Intimidade Divina:
“Pensa em quantas vezes tu, não para te poupares a uma viagem trabalhosa, mas unicamente para evitarmos um pequeno incômodo, omitiste um ato de caridade; pensa em como és tardo e preguiçoso em prestar ajuda aos teus irmãos. Contempla Maria e vê como tens necessidade de aprender dela”.
Quantas vezes evitamos ou mesmo rejeitamos praticar um ato de caridade? Quantas vezes vimos pessoas que necessitavam de uma moeda, de um alimento, de uma palavra mais afetuosa e ainda assim as impedimos de receber o que tantas e tantas vezes recebemos de Deus. Em algumas ocasiões deixamos de dar esmola sob o pretexto de “e se fulano fizer mal uso do dinheiro?”. Mas quantas vezes nós também não fazemos mal uso do nosso salário? Quantas vezes não fizemos mal usa das graças que Deus nos concedeu gratuitamente? Lembremos que a esmola é uma obra de caridade, não de justiça.
Sobre a caridade de Nossa Senhora, vale ressaltar que esta, não era de nenhum modo para glória própria. Ao ser reconhecida por sua prima como bendita entre as mulheres, a Virgem Santíssima recita o Magnificat e louva a Deus por meio do cântico. Com esta atitude, Nossa Senhora nos ensina que a verdadeira caridade não é para benefício próprio. O beneficente deve ver Deus em nós por meio do ato que realizamos. Aí está a verdadeira caridade, reconhecer-se pequeno e saber que mesmo o mais belo e simples ato que podemos realizar, como a ajuda ao próximo, é na verdade por bondade e graça de Deus.
“Se perante os teus êxitos, os louvores, o aplauso das criaturas, se perante as graças que Deus te concede, és ainda suscetível de vã complacência, é porque ainda não tocaste, como Maria, o fundo da tua baixeza, não te abismaste bastante na consideração do teu nada, não te convenceste ainda praticamente da tua radical insuficiência, impotência, miséria e fraqueza. Pede à Maria a grande graça de te introduzir neste conhecimento claro e prático do teu nada. Não tenhas ilusões; o caminho para o alcançar é um caminho áspero e duro: o caminho das humilhações. Mas Maria é Mãe e, se ela te acompanha, tudo, com a sua ajuda se tornará mais fácil e suave.” (Intimidade Divina – Frei Gabriel de Santa Maria Madalena)
Santa festa da Visitação a todos.