Leão XIV prepara sua primeira encíclica

Fonte: Tribune Chrétienne 

Tradução e grifos por salvemaria.com.br

 

A primeira encíclica geralmente dá o tom do pontificado:

Após algumas semanas de pontificado, o Papa Leão XIV escolheu Castel Gandolfo, a residência papal de verão, para iniciar um período de descanso, oração e trabalho. Este retorno a uma tradição abandonada por Francisco marca um passo importante na definição de suas prioridades. Diversos meios de comunicação italianos noticiam que o Papa está atualmente preparando sua primeira encíclica, um documento magisterial de grande significado dirigido à Igreja universal, que pode impactar profundamente um pontificado.

Segundo as mesmas fontes, este texto, previsto para o início do ano letivo, centrar-se-ia nos pobres, tema caro a Leão XIV, distanciando-se, porém, de certas formulações do pontificado anterior. Poderia basear-se num documento de trabalho desenvolvido sob Francisco, mas reformulado num espírito de esclarecimento doutrinário. O Papa já havia anunciado a sua preocupação em “corrigir certas coisas”, expressando simultaneamente o seu respeito pelo seu antecessor. Esta abordagem poderia também refletir-se nas próximas nomeações. A vaga no cargo de Prefeito do Dicastério para os Bispos é intrigante. Enquanto Francisco centralizou a nomeação de bispos italianos e argentinos, Leão XIV já restaurou o funcionamento ordinário, devolvendo a competência à reunião plenária do dicastério. Uma medida discreta, mas significativa. Circulam nomes, como o do Cardeal Luis Antonio Tagle, com a ideia de oferecer a antiga Congregação para a Evangelização a Pietro Parolin, como medida transitória após a sua saída da Secretaria de Estado. Mas estes rumores permanecem sem confirmação até hoje.

Este projeto surge num contexto eclesial particular. Ontem, 7 de julho, foi publicado um longo documento da Secretaria Geral do Sínodo, intitulado “Áreas para a fase de implementação do Sínodo” , que visa lançar as bases práticas de uma Igreja mais “sinodal” . Por trás dos apelos à escuta e ao discernimento, emerge uma reconfiguração eclesial em larga escala, acolhida por enquanto pelo Papa Leão XIV. O texto, que não lança uma nova consulta, mas entra numa fase dita “aplicativa”, adota um tom metodológico e gerencial, fala de cronogramas, objetivos, resultados, facilitadores, avaliações e até mesmo bases de dados a serem preenchidas em Roma. Uma linguagem que pode surpreender, até mesmo perturbar, aqueles que esperavam uma orientação mais espiritual ou doutrinal.

Mas o texto, apesar de sua extensão, não esclarece os vínculos entre esse método sinodal e o ensinamento doutrinário da Igreja. O papel do magistério é pouco mencionado, e as possíveis divergências entre o discernimento local e a fé católica não são abordadas. Essa falta de articulação entre sinodalidade e verdade recebida suscita temores de um desvio prático, onde a tradição corre o risco de ser relativizada. O Papa Leão XIV validou a publicação do documento sem fazer nenhuma alteração aparente. No entanto, em sua primeira saudação aos fiéis, ele alertou que a sinodalidade não deve levar à confusão doutrinária. Este texto, no entanto, mantém uma forma de ambiguidade; ele dá a imagem de uma Igreja em transformação, onde a escuta às vezes parece ter precedência sobre a transmissão da verdade.

Nesse contexto, a próxima encíclica poderá oferecer um primeiro esclarecimento doutrinário, à medida que o Sínodo continua a remodelar profundamente a vida eclesial. Será que o início do ano letivo de 2025 marcará um ponto de inflexão? Será que o Papa, que parece tolerar por enquanto a continuação da sinodalidade permanente desejada por Francisco, estabelecerá limites no devido tempo?

O certo é que esta encíclica, se for publicada como planejado, oferecerá o primeiro grande texto pessoal de Leão XIV e poderá lançar mais luz sobre a direção de seu pontificado.

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