Indulgências e as intenções do Santo Padre
“Filho, tem bom ânimo: teus pecados estão perdoados” (Mt 9,2). Estas palavras de Cristo ao paralítico são como que repetidas a cada pecador que se achega ao confessionário e tem seus pecados perdoados pelo sacerdote, agindo na pessoa de Cristo. Ao absolver, o padre perdoa a culpa do pecado e seu castigo eterno. Mas os pecados não trazem apenas culpas e castigos eternos, mas também penas temporais, sejam elas espirituais, tais como dor na alma, vergonha, endurecimento, e penas naturais, como pobreza, doença e toda espécie de adversidades, que Deus inflinge ou permite para nosso bem.
Nossos primeiros pais, após o perdão de seus pecados, ainda eram afligidos com punição temporal. (Gn 3) Deus também perdoou os pecados dos filhos de Israel, que tantas vezes murmuraram contra Ele no deserto, mas não o castigo deles, pois Ele os excluiu da Terra Prometida e os fez morrer no deserto. (Num 14). Moisés e Aarão experimentaram o mesmo, devido a uma ligeira falta de confiança em Deus. (Num 20,12, Dt 32, 51s). Davi, também, recebeu perdão de Deus através do Profeta Natã por adultério e assassinato (II Rs 12), mas ainda teve que suportar pesadas punições temporais, como a morte de seu filho. Finalmente, a fé nos ensina sobre a realidade do Purgatório, em que sofreremos as penas pelos nossos pecados, até pagarmos o último centavo. (Mt 5,26)
Para pagar as penas temporais, espirituais e naturais, a Igreja recomenda as práticas de penitência, como a dada pelo sacerdote na confissão, as obras de misericórdia corporais e espirituais, a esmola, o jejum, a mortificação, a oração, o reparo do dano de um pecado, etc.
Porém, há um outro modo de ter essas dívidas pagas: através das indulgências.
O Concílio de Trento afirma expressamente que a Igreja tem poder para conceder indulgências em sua sessão 25, e esta afirmação é apoiada pelas palavras de Cristo: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado também no céu”; Até mesmo um apóstolo concedeu indulgência. Na pessoa e pelo poder de Cristo, para que seu espírito fosse salvo no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo, São Paulo perdoou a um coríntio incestuoso, a quem ele havia imposto uma punição pesada. (II Cor. 2, 10; I Cor. 5, 4,5)
A indulgência é definida como a remissão diante de Deus das penas temporais devidas pelos pecados já perdoados quanto à sua culpa que podemos adquirir pela intervenção da Igreja, que aplica com sua autoridade o tesouro da satisfação conquistada por Cristo e pelos santos em favor dos pecadores.
Para adquirir a indulgência plenária é necessário:
- Acima de tudo, é necessário à alma rejeitar todo apego ao pecado, mesmo ao pecado venial;
- Realizar a obra a que está vinculada à indulgência, seja determinada oração, seja a visita a uma igreja (como a indulgência da Porciúncula), seja a realização de determinada prática de zelo ou caridade
- Ter feito uma confissão e estar em estado de graça, ainda que a confissão não precise ser no dia da recepção da indulgência e uma só confissão sirva para várias indulgências1;
- Realizar a comunhão eucarística;
- Rezar intenções do Sumo Pontífice.
A indulgência pode ser parcial ou plenária conforme elimina parte ou a totalidade da pena temporal devida pelo pecado.
Mas quais seriam essas intenções?
Muitos pensam que rezar nas intenções do Sumo Pontífice signifique que se deve rezar pelas intenções subjetivas do papa atualmente reinante. Há mesmo o erro de pensar que se faz obrigatório, para receber indulgências, conhecer qual é essa intenção, nominalmente.
Porém, a Igreja determinou que rezar nas intenções do papa não é necessariamente o mesmo que rezar nas intenções subjetivas do papa atual, mas rezar pelas intenções pré-estabelecidas como intrínsecas aos Romanos Pontífices.
Segundo o Raccolta (em 29 de maio de 1841), manual de indulgências tradicional da Igreja, são estas intenções quatro:
- A difusão da fé e a exaltação da Igreja Católica, porque Nosso Senhor fundou a Igreja e a constituiu como instrumento de salvação para o mundo;
- A verdadeira harmonia entre os príncipes e reinos cristãos, porque Cristo, como príncipe da paz, derrubou o muro de discórdia entre as nações;
- A conversão dos pecadores, porque Nosso Senhor veio salvar todas as almas através da sua palavra divina e da instituição dos sacramentos.
- A eliminação da heresia, porque Nosso Senhor pediu aos discípulos e a todos os que nele acreditam que seguissem a verdade na sua totalidade e não escolhessem partes dela, absolutizando-as e tornando-as absurdas e erroneas.
Estas intenções podem ser oportunamente recordadas e rezadas depois da Comunhão ou durante a visita; mas é suficiente uma intenção geral de rezar de acordo elas; podendo esta oração ser simplesmente um Pai Nosso e uma Ave Maria, embora cada um seja livre para recitar qualquer outra oração de acordo com a sua própria piedade e devoção para com o Sumo Pontífice.
Por um congregado mariano da Congregação Mariana da Imaculada Conceição – Manaus/AM