A verdade sobre as restrições à Missa Tradicional Romana vem à tona
Na senda da iniciativa do meu venerado antecessor Bento XVI de convidar os bispos a uma avaliação da aplicação do Motu Proprio Summorum Pontificum, três anos após a sua publicação, a Congregação para a Doutrina da Fé levou a cabo uma ampla consulta aos bispos no ano 2020, cujos resultados foram ponderadamente considerados à luz da experiência adquirida nestes anos.
Ora, tendo em conta os desejos formulados pelo episcopado e ouvido o parecer da Congregação para a Doutrina da Fé, desejo com esta Carta Apostólica prosseguir mais ainda na procura constante da comunhão eclesial.
Assim se apresentou a justificativa para as normas definidas nesse motu proprio — normas que mudaram significativamente a vida litúrgica da Igreja, causando profunda divisão e aflição, como ainda se observa hoje. Um exemplo concreto: fiéis da Arquidiocese de Detroit, a partir desta data, recebem oficialmente as restrições impostas por seu próprio pastor, sendo relegados à condição de “fiéis de segunda classe”.
Contudo, algo muda. Embora o documento continue em vigor, a base sobre a qual ele alegadamente se apoia parece ter ruído.
O relatório oculto
A jornalista Diane Montagne, vaticanista de longa data, obteve acesso exclusivo aos documentos consultivos aos bispos que o TC cita como motivo, mas aparentemente ao analisar os relatórios, se vê algo diferente do que afirmou o Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos:
O texto não divulgado anteriormente, que constitui uma parte crucial do relatório oficial da Congregação para a Doutrina da Fé sobre sua consulta de 2020 aos bispos a respeito do Summorum Pontificum, revela que ‘a maioria dos bispos que responderam ao questionário declarou que fazer mudanças legislativas no Summorum Pontificum causaria mais mal do que bem”. […] Por outro lado, o relatório oficial da CDF afirma que ‘a maioria dos bispos que responderam ao questionário e que implementaram generosa e inteligentemente o Summorum Pontificum, expressam, em última análise, satisfação com ele’. Acrescenta que ‘nos lugares onde o clero cooperou estreitamente com o bispo, a situação tornou-se completamente pacificada”. […] Além disso, o texto mostra claramente que o Traditionis Custodes desconsiderou e omitiu o que o relatório dizia sobre a paz que o Summorum Pontificum havia restaurado, e fez vista grossa para uma “constante observação feita pelos bispos” — de que os mais jovens estavam sendo atraídos para a Igreja Católica por meio dessa forma mais antiga da liturgia.
Alguém poderia negar hoje que o mal causado foi superior ao suposto bem buscado?
O questionário aos bispos e algumas respostas obtidas
O questionário enviado pela Congregação para doutrina da fé (Hoje, dicastério para a doutrina da fé) é composto por 9 perguntas, abaixo colocaremos algumas respostas obtidas pela jornalista:
“Essas comunidades não se integram à vida paroquial e diocesana. Isso pode ser culpa delas mesmas, quando são desconfiadas da orientação pastoral da diocese ou da paróquia e preferem viver isoladas.
Mas também pode ser devido àqueles que são ligados à Forma Ordinária, os quais têm dificuldade para compreender as características específicas e as expectativas desses fiéis, bem como o modo como vivem sua fé.”
— Diocese de Vannes, França“Esse movimento atrai muitas famílias jovens que se sentem em casa com essa liturgia e com as atividades oferecidas ao seu redor.
Acredito que tal diversidade é algo bom na Igreja, e que a diminuição no número de fiéis praticantes não deveria levar necessariamente a uma uniformização das ofertas.
Essa forma litúrgica alimenta muitos fiéis. Há um senso do sagrado que atrai e orienta as pessoas para Deus.”
— Diocese de Tarbes et Lourdes, França“A Igreja deveria ser capaz de reconhecer [aos institutos ligados à Forma Extraordinária] aquilo que eles trazem para ela: vocações, a preservação de uma tradição litúrgica rica de significado e uma forma de estabilidade diante das mudanças dentro da Igreja e na cultura.”
— Diocese de Tarbes et Lourdes, França“O Motu Proprio permitiu uma verdadeira pacificação da questão litúrgica.”
— Diocese de Saint-Dié, França“Acredito que muitos daqueles que se sentiam separados da Igreja e haviam se aproximado de comunidades extraeclesiais sentiram-se acolhidos novamente dentro da estrutura da Igreja graças ao Summorum Pontificum.”
— Diocese de Dallas, EUA“Não é minha experiência, por exemplo, que a Forma Extraordinária crie divisão; pelo contrário.
Ela pode promover e cultivar um senso de comunhão e inclusão quando é devidamente conduzida de forma pastoral.”
— Diocese de Albany, EUA“Como disse o Papa Bento, não podemos abandonar o rito da Missa que foi usado durante séculos e dizer que ele não é mais relevante.”
— Diocese de Hexham e Newcastle, Inglaterra“Quando um seminarista expressa ao bispo diocesano ou ao reitor do seminário o desejo de ser formado na Forma Extraordinária, ele é auxiliado para participar de um workshop organizado por um dos institutos que oferecem tal formação, com o consentimento do bispo diocesano.
Essa prática está em conformidade com o que é estabelecido no Universae Ecclesiae, nº 21.”
— Diocese de Brooklyn, EUA“Dois párocos que aprenderam a Forma Extraordinária posteriormente introduziram a celebração ad orientem em algumas ou em todas as suas Missas, o que foi bem recebido pelos fiéis, que haviam sido bem catequizados previamente.
Além disso, para alguns de nossos padres, houve um maior cuidado com a hóstia consagrada, tanto pela reintrodução e uso habitual da patena de comunhão quanto por uma reverência maior por parte do próprio sacerdote no altar.”
— Diocese de St. Thomas – Ilhas Virgens, Caribe“A prática [do Motu Proprio Summorum Pontificum] seguida até agora mostrou-se eficaz e, por razões pastorais, não deveria ser alterada.”
— Relatório conjunto da Conferência Episcopal Alemã
Avaliação geral trazida pela jornalista
1. A falta de paz e unidade litúrgicas se deve mais à minoria de bispos do que aos adeptos da liturgia romana tradicional.
2. A maioria dos bispos que implementaram o Summorum Pontificum expressaram satisfação com ele.
3. Os bispos estão gratos pela competência da Quarta Secção da CDF (a extinta Pontifícia Comissão Ecclesia Dei)
4. Relatar atração confirmada de jovens pela forma mais antiga de liturgia.
5. O relatório destacou o crescimento das vocações nas comunidades Ex-Ecclesia Dei desde o Summorum Pontificum.
6. O relatório recomendou o estudo de ambas as formas do Rito Romano como parte da formação do seminário.
7. Relatório recomendou: “Deixem que as pessoas sejam livres para escolher”.
Em sua resposta à pergunta final da pesquisa de nove pontos do Vaticano, que obtive, o ex-arcebispo de Detroit, Allen Vigneron, resumiu o que — de acordo com o relatório oficial — a maioria dos bispos realmente havia solicitado.
A pesquisa perguntou: “Treze anos após o motu proprio Summorum Pontificum , qual é o seu conselho sobre a Forma Extraordinária do Rito Romano?” O Arcebispo Vigneron respondeu:
Meu conselho é manter a disciplina e as normas estabelecidas no Summorum Pontificum e lidar com quaisquer problemas que surjam convocando padres e pessoas a observá-las. O motu proprio nos proporcionou uma abordagem notavelmente bem-sucedida para resolver a contenda que existia na Igreja sobre o status da Forma Extraordinária. A disciplina que ele implementou está dando muitos frutos, especialmente na vida dos fiéis e no restabelecimento da paz eclesial. Não há dúvida em minha mente sobre a legitimidade da Forma Extraordinária como extraordinária . Essas celebrações oferecem experiências válidas da sagrada liturgia da Igreja, mas complementam a Forma Ordinária. Tais celebrações não são de forma alguma uma ameaça à forma ordinária estabelecida após o Concílio e, na Igreja, elas a enriquecem em sua diversidade. A meu ver, o Summorum Pontificum tem sido um sucesso notável.
Qual a verdadeira motivação por trás da perseguição da liturgia tradicional?
O verdadeiro autor do texto do motu proprio, o heterodoxo teólogo Andrea Grillo, que mais de uma vez expressou seu ódio contra a missa tradicional dizendo que “os velhos costumes não fortalecem a fé… Seguir Cristo não significa ingressar em um clube da alta sociedade para falar uma língua estranha ou se identificar com o passado e cultivar ideais retrógrados.” english katholisch
Por sua vez, o secretário do Dicastério para o Culto Divino, Dom Viola, orgulha-se de portar o anel episcopal de Annibale Bugnini — o principal arquiteto da reforma litúrgica de 1970. messainlatino
O atual prefeito do mesmo dicastério, Cardeal Roche, chegou a afirmar em carta que a Missa tradicional fora ab-rogada por Paulo VI — posição que o Papa Bento XVI negou claramente em 2007. gloria.tv
Todos esses agentes da perseguição litúrgica esconderam-se atrás de um relatório que supostamente legitimaria sua rejeição à liturgia de sempre da Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana. Contudo, como afirmou Nosso Senhor, “nada há de oculto que não venha a ser revelado” (S. Lc 8,17). Hoje, tudo está exposto — e com isso, sua credibilidade desmorona. Torna-se evidente que a perseguição sistemática à Missa tradicional tem motivações que ultrapassam o que é natural: ela é, em última análise, inspirada por aquele que, por sua soberba, foi lançado do céu.
Os documentos completos podem ser consultados no site da jornalista Diane Montagna.
Tradução e grifos por um Congregado Mariano