Angelus: Louvor à Virgem Mãe de Deus

Em seu livro, Vida dos Santos, Alban Butler relata que o Papa Urbano II, no concílio de Clermont (A. D. 1095) ordenou que os sinos fossem tocados todos os dias em honra a tripla saudação angélica, chamada Angelus Domini, para honrar nossa Senhora e louvar a divina majestade pelo inefável mistério da Encarnação1. Tal prática de devoção foi encorajada por muitos Papas através de indulgências, vide João XXII († em Avignon, 1334), Calisto III, Paulo III, Alexandre VII e Clemente X. Bento XIV acrescentou mais indulgências para aqueles que recitassem o Angelus ajoelhados ao tocar do sino. Em algumas igrejas protestantes da Europa ainda se toca o sino às 6 horas da manhã e às 6 horas da tarde, como um sinal para os trabalhadores e artesãos, evidentemente um resquício da antiga prática católica.

São Carlos Borromeu tinha tanto apreço pelo “Angelus” que, ao ouvir os sinos, caía de joelhos onde quer que estivesse, mesmo se fosse em uma rua lamacenta. O mesmo se pode dizer de outros santos. Santo Estanislau Kostka costumava rezar as três Ave Marias em direção à Igreja de Santa Maria Maior, em Roma. O Papa Gregório IX, para proteger a Igreja da perseguição promovida pelo imperador Frederico, convocou todos os fieis para que invocassem Nossa Senhora três vezes ao dia, nos horários da devoção do Angelus. Luís XI da França apontou a devoção do Angelus para ser observada, em honra ao mistério da Encarnação, ordenando que “todos os franceses, cavaleiros, soldados, servos e demais recitem o Angelus de joelhos, para que alcancem a graça da paz”.

No fim do século XIV, atendendo a especial pedido do Rei Henrique IV da Inglaterra, o arcebispo de Canterbury, Thomas Arundel, ordenou que tanto pela manhã quanto ao cair da noite se tocassem os sinos da catedral, das escolas, mosteiros e paróquias, convidando os fieis a recitarem o Pai Nosso e cinco Ave Marias em honra a “Nossa Senhora, Mãe de Deus, nossa padroeira e protetora em todas as adversidades”, concedendo indulgências a todos que o praticassem.

O “Angelus” de Millet, uma pintura notável, que foi vendido a um cidadão americano por uma considerável soma, representa dois camponeses trabalhadores em um campo interrompendo o seu trabalho para recitar o Angelus, ao ouvirem o badalar do sino da capela de seu vilarejo. Muitos religiosos, ao recitarem o Angelus, tinham a prática de renovar os seus votos.

L’Angélus, Jean-François Millet (1857-1859).

 

Santa Catarina de Sena, São Leonardo de Porto Maurício, Santo Afonso Rodrigues, Santo Afonso de Ligório e muitos outros santos tinham o costume de saudar Nossa Senhora ao ouvirem o simples toque dos sinos da Igreja. São Bernardo de Claraval recitava a Ave Maria sempre que via uma imagem ou pintura da Virgem Santíssima. Diz a história que certa vez, quando São Bernardo esteve no mosteiro de Afflighem perto de Alost em Flandres, o santo reparou uma imagem de Nossa Senhora em um nicho na parede, saudando-a de imediato, Ave Maria!, ao passo que em seguida ouviu uma doce voz que lhe respondeu “Ave Bernardo!”: no qual o santo abade logo se ajoelhou exclamando “Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria”.

Atualmente, a forma tradicional de se rezar o Angelus se dá às 6 horas da manhã, ao meio-dia e às 6 horas da tarde. Durante o período pascal, reza-se o Regina Cæli, ao invés do Angelus:

Angelus

Angelus Domini nuntiavit Mariæ,
℟. Et concepit de Spiritu Sancto.

Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui, Iesus.
Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostræ. Amen.

℣. Ecce ancilla Domini.
℟. Fiat mihi secundum verbum tuum.

Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui, Iesus.
Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostræ. Amen.

℣. Et Verbum caro factum est.
℟. Et habitavit in nobis.

Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui, Iesus.
Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostræ. Amen.

℣. Ora pro nobis, Sancta Dei Genetrix.
℟. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

℣. Oremus.
Gratiam tuam, quæsumus, Domine, mentibus nostris infunde; ut qui, Angelo nuntiante, Christi Filii tui incarnationem cognovimus, per passionem eius et Crucem ad resurrectionis gloriam perducamur. Per eumdem Christum Dominum nostrum.

 

℟: Amen.

O Anjo do Senhor anunciou a Maria.
℟. E Ela concebeu do Espírito Santo.

Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois Vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

℣. Eis aqui a escrava do Senhor.
℟. Faça-se em Mim segundo a Vossa palavra.

Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois Vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

℣. E o Verbo divino se fez carne.
℟. E habitou entre nós.

Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois Vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

℣. Oremos.
Infundi, Senhor, como Vos pedimos, a Vossa graça nas nossas almas, para que nós, que pela Anunciação do Anjo conhecemos a Encarnação de Jesus Cristo, Vosso Filho, pela Sua Paixão e Morte na Cruz, sejamos conduzidos à glória da ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

℟. Amém.


Regina Cæli

℣. Regina cæli, lætare, alleluia:
℟. Quia quem meruisti portare, alleluia,
℣. Resurrexit, sicut dixit, alleluia,
℟. Ora pro nobis Deum, alleluia.
℣. Gaude et lætare, Virgo Maria, alleluia.
℟. Quia surrexit Dominus vere, alleluia.

℣. Oremus:
Deus, qui per resurrectionem Filii tui, Domini nostri Iesu Christi,
mundum lætificare dignatus es:
præsta, quæsumus, ut per eius Genitricem Virginem Mariam,
perpetuæ capiamus gaudia vitæ.
Per eumdem Christum Dominum nostrum.
℟. Amen.

℣. Rainha do céu, alegrai-vos! Aleluia!
℟. Porque quem merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
℣. Ressuscitou como disse! Aleluia!
℟. Rogai a Deus por nós! Aleluia!
℣. Exultai e alegrai-Vos, ó Virgem Maria! Aleluia!
℟. Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente! Aleluia.

℣. Oremos:
Ó Deus, que Vos dignastes alegrar o mundo com a
Ressurreição do Vosso Filho Jesus Cristo, Senhor Nosso,
concedei-nos, Vos suplicamos, que por sua Mãe, a Virgem Maria,
alcancemos as alegrias da vida eterna.
Por Cristo, Senhor Nosso.
℟. Amém.


Mary’s Praise on Every Tongue, P. J. Chandlery, S. J. – Tradução e ampliação por um congregado mariano.

  1. E também para obter o auxílio de Nossa Senhora na Cruzada. A história atesta que os soldados rezavam o Angelus ao meio-dia e enquanto foram fieis à devoção, não pereciam nas batalhas.

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