Domingo da Quinquagésima

Neste domingo a Igreja, no Introito, invoca a Deus por auxílio, com um coração contrito, mas confiante. “Sede para mim um Deus protetor, e um lugar de refúgio, para me fazeres salvo, porque minha firmeza e meu refúgio sois Vós; por causa de vosso nome serás o meu guia e nutrir-me-ás. Sl. Em Vós, Senhor, esperei; não serei confundido eternamente. Em vossa justiça libertai-me e livrai-me. ℣. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém.”

Coleta
Pedimos-Vos, Senhor, escutar clemente nossas preces, e, quebrados os vínculos do pecado, de todas as adversidades nos guardar. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, Deus, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. ℟. Amém.

Epístola
Epístola (I Cor. XIII,1-13) Leitura da Carta de São Paulo Apóstolo aos Coríntios: Irmãos, ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não serei nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, isso nada me aproveitaria. A caridade é paciente, a caridade é benigna. Não é invejosa, não se ufana, não se ensoberbece. A caridade nada faz de inconveniente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão e a ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita; mas quando vier a perfeição, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, julgava como criança, pensava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Agora subsistem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade. A maior delas, porém, é a caridade. ℟. Deo grátias.

Breve Comentário
São Paulo aqui adverte aos romanos, e também a nós, a necessidade, as qualidades e as vantagens da caridade:
A Necessidade – porque todos os dons naturais e sobrenaturais, todas as boas obras, as virtudes e sacrifícios – até mesmo o martírio – não podem nos salvar, caso não tenhamos caridade. Somente pela caridade as nossas obras são agradáveis a Deus.
As Qualidades da caridade – que é boa vontade sem inveja, desconfiança, perversidade ou malícia; intenção pura sem amor próprio, ambição, imodéstia ou injustiça; paciência infatigável, mas sem imprudência; e, finalmente, humilde submissão a Deus, que é tudo para aquele que possui caridade.
As Vantagens da caridade – naquilo que dá às boas obras seu valor e que nunca falha; “A fé”, diz Santo Agostinho, “estabelece os alicerces da casa de Deus; a esperança constrói as paredes, a caridade cobre e completa tudo”.

Evangelho (Lc XVIII,31-43)
Sequência do Santo Evangelho segundo Lucas: Naquele tempo, Jesus tomou à parte os Doze e disse-lhes: «Eis que subimos a Jerusalém. Tudo o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do homem será cumprido. Ele será entregue aos pagãos. Hão de escarnecer dEle, ultrajá-Lo, desprezá-Lo; batê-Lo-ão com varas e O farão morrer; e ao terceiro dia ressurgirá». Mas eles nada disto compreendiam, e estas palavras eram-lhes um enigma cujo sentido não podiam entender. Ao aproximar-se Jesus de Jericó, estava um cego sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. Ouvindo o ruído da multidão que passava, perguntou o que havia. Responderam-lhe: «É Jesus de Nazaré, que passa». Ele então exclamou: «Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!». Os que vinham na frente repreendiam-no rudemente para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais forte: «Filho de Davi, tem piedade de mim!» Jesus parou e mandou que lho trouxessem. Chegando ele perto, perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» Respondeu ele: «Senhor, que eu veja». Jesus lhe disse: «Vê! Tua fé te salvou». E imediatamente ficou vendo e seguia a Jesus, glorificando a Deus. Presenciando isto, todo o povo deu louvores a Deus. ℟. Laus tibi, Christe.

Por que Nosso Senhor tão frequentemente predizia seus sofrimentos aos apóstolos?
1. Para mostrar que Ele já tinha conhecimento deles, por isso, indicando sua onisciência. 2. Que era de sua vontade que haveria de ter aqueles sofrimentos. 3. A fim de que seus discípulos não ficassem escandalizados na Sua humilhação, nem pensar mal dele, como se Ele tivesse lhes enganado, mas, lembrando suas palavras, que fossem confirmados na fé nele como Filho de Deus e Redentor do mundo.
Os apóstolos não entenderam qualquer coisa do que Nosso Senhor lhes predisse a respeito de seus sofrimentos?
Eles deviam saber que Nosso Senhor deveria sofrer, uma vez que São Pedro certa vez quis dissuadir Nosso Senhor disto (Mat. XVI, 22), mas eles não podiam conciliar essas predições com as suas expectativas de um reino glorioso. Nem nós poderíamos rejeitar nossos preconceitos e entender a verdade de fé, mesmo que plenamente ensinados, caso não fôssemos iluminados pelo Espírito Santo.

A passagem do Evangelho escolhida pela Igreja é aquela na qual Nosso Senhor prediz aos apóstolos os sofrimentos que Ele haveria de sofrer em Jerusalém. Este solene anúncio nos prepara à Paixão. Nós devemos receber este anúncio com ternura e coração grato e fazer disto um motivo a mais para imitar o devoto patriarca Abraão, doando-nos totalmente a Nosso Senhor. Os antigos liturgistas nos ensinam que o homem cego de Jericó, sobre o qual se fala nesse mesmo Evangelho, é uma figura dos pobres pecadores que, durante estes dias de carnaval são cegos para a fé cristã e se precipitam em excessos que são próprios do paganismo. O homem cego recobrou sua visão, pois tomou conhecimento de seu estado miserável e desejou ser curado e voltar a enxergar. A Igreja nos inspira a termos o mesmo desejo e nos promete que este desejo haverá de ser garantido.


Fontes: Comentários de Goffiné; The Liturgical Year – Don Prosper Guéranger.
Tradução por um congregado mariano.

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