A Regra e a Frequência aos Sacramentos

A alma da Congregação Mariana são suas Regras. Em seu quase meio milênio de história, foram elas que garantiram a continuidade de sua autêntica espiritualidade. Não há dúvidas que desde a primeira revisão das Regras Comuns, em 1587, o mundo sofreu mudanças sem precedentes; muitas das condições e costumes que antes havia passaram. Encontramos mudanças profundas em questões práticas e em regulamentos de autoridade. No entanto, certos elementos, chamados essenciais, jamais mudaram e nem poderiam. Dentre esses elementos essenciais, o terceiro é a Frequência aos Sacramentos.

São Pio X enumera como um dos meios mais eficazes de santificação da Congregação o buscar “aproximar-se o mais frequente possível dos Sacramentos“. Aliada à devoção firme a Nossa Senhora, é a Recepção dos Sacramentos o principal meio para atingir o objetivo da Congregação e o que dá à Congregação sua maior glória.

No passado, a aproximação da Sagrada Comunhão não era tão frequente quanto depois de São Pio X. Embora estivessem sempre presentes à Santa Missa, a maioria dos católicos comungava pouquíssimas vezes no ano, normalmente após muitos atos de preparação. Os congregados, ao comungarem ao menos uma vez por mês e, além disso, nas grandes festas, davam exemplo admirável de grandeza: comungar mais vezes significava preparar-se mais vezes – e não comungar sem preparação como hoje infelizmente se faz. Nesta urgência, portanto, à aproximação mais frequente da Comunhão e da Confissão, vemos não um relaxamento da disciplina de então, mas uma demonstração de busca maior de perfeição.

Este princípio de maior aproximação dos Sacramentos sempre é regulado pela permissão do Confessor. Na disciplina de então, era o confessor que autorizava ou não o fiel a comungar, vendo suas disposições. Esta reverência se perdeu, mas o princípio permanece.

Diz-nos a Regra de 1587:

Art III – Por ser o propósito desta Congregação a aquisição da virtude e da piedade cristã, junto com o estudo das letras, para esse fim, meio muito eficaz é a frequência dos Santíssimos Sacramentos […] Todos irmãos devem se confessar e comungar a cada primeiro domingo do mês e em algumas festas de Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima […] Os oficiais […] devem se confessar ao menos a cada quinze dias e devem comungar mais vezes que os outros, se assim parecer ao diretor espiritual.

 

Diz-nos Bento XV na Bula Áurea Gloriosae Dominae:

De coração desejamos que todos os fiéis cristãos e em particular os membros destas Congregações se preocupem em receber frequentemente os Santos Sacramentos da Eucaristia e da Penitência segundo o espírito da Igreja, e colham deles frutos verdadeiros e abundantes.

 

Diz-nos a Regra de 1855:

Art. III – Pelo fato de o objetivo desta Congregação ser a virtude e a piedade cristã, para a realização desse fim é de maior utilidade a frequência dos sacramentos. […] Então, todos os membros devem saber que precisam receber o sacramento da Penitência e a Sagrada Comunhão ao menos uma vez ao mês e também em certas festas e solenidades de Nosso Senhor e de sua Santa Mãe. Entretanto, os principais oficiais devem confessar-se e […] receber a Sagrada Eucaristia mais frequentemente que os demais membros, que devem edificar-se com seus exemplos.

Art. XIV – […] Todos os membros são exortados a mostrar maior seriedade em práticas de piedade cristã como, por exemplo, a confessar-se com maior frequência, receber o Santíssimo Sacramento mais frequentemente […]

 

Diz-nos a Regra de 1910:

Art. XXXVII e XXXVIIII –  […] E depois, e depois não se contente só com as comunhões gerais prescritas na Regra, mas receba os Sacramentos com a frequência que lhe aconselhar o confessor. É muito bom conselho para todos, o que deu o pontífice Bento XIV, de que, uma ou duas vezes no ano, se faça confissão geral, começando da última que se fez.

 

Diz-nos Pio XII na Bis Saeculari:

Muito mais que o número de membros se hão de ter em conta as regras e leis pelas quais os congregados são como que levados pela mão àquela excelência de vida espiritual que os torna capazes de subir aos cumes da santidades principalmente com o auxílio daqueles meios com os quais é utilíssimo que estejam apetrechados os perfeitos e íntegros seguidores de Cristo: o uso dos exercícios espirituais, a meditação diária das coisas divinas e o exame de consciência; a freqüência aos sacramentos;  a dócil e filial dependência de um diretor espiritual certo; pleníssima e perpétua consagração da própria pessoa à bem-aventurada Virgem Mãe de Deus; e, finalmente, o firme propósito de procurar a perfeição cristã para si e para os outros.

 

Resta, talvez, a pergunta: Com que frequência deve o congregado aproximar-se da Sagrada Comunhão e da Confissão?

Assim como era o congregado no passado chamado a receber os sacramentos com muito maior frequência que o comum dos fiéis, assim, hoje, o congregado é também chamado a Comungar e Confessar-se mais frequentemente e com muito mais ardor que os demais fiéis. Se os fiéis normalmente comum todas as semanas – e sem o preparo devido – os congregados são urgidos a comungarem ainda mais frequentemente e com uma especial devoção formada pelas práticas de piedade e penitência.

Quanto à confissão, parece seguro – embora isso esteja sob decisão do confessor e não possa ser tomado como regra geral – confessar-se sempre que necessário, mas no mínimo uma vez por mês, como as regras antigas pediam. Oficiais, membros da Diretoria, porém, devem confessar-se mais vezes que os demais, no mínimo quinzenalmente, como proposto na Regra de 1587.

Os sacramentos, hoje que os podemos receber todos os dias, não são menos sagrados que quando o cristão se preparava o ano inteiro para receber. Nós, por nossa culpa, perdemos esta devoção e tomamos as coisas santas como se fossem profanas. Que nossas Regras nos ajudem a enxergar melhor a santidade dos sacramentos e, reconhecendo nossa indignidade, esforçarmo-nos para melhor recebê-los e com maior frequência, sem nos deixar levar pelo escrúpulo ou pela tibieza.

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