Maria: Admiração de Céus e Terra

 

No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi: e o nome da virgem era Maria. (S. Lucas I, 26-27).

Que finalidade teria o evangelista ao expressar nesta passagem com tanta precisão os nomes próprios de tantas coisas. Acredito que pretendia com isto que não ouvíssemos com negligência aquilo que ele procurava descrever com tanta exatidão.

Nomeia: o embaixador (anjo) que é enviado; o Senhor por quem é enviado; a Virgem a quem é enviado; o Esposo da Virgem; e indica com seus nomes próprios a linhagem de ambos, a cidade e a região. Para que tudo isso? Tu pensas que algumas destas coisas que estão aqui foram postas superfluamente?  Ah! Não. De maneira alguma: porque não cai uma folha da árvore sem motivo; nem cai um pássaro na terra sem a vontade do Pai Celestial. Eu poderia acreditar que da boca do Santo Evangelista saísse uma palavra supérflua, especialmente na escritura sagrada que é a Palavra de Deus? Não penso assim: todas (estas palavras) estão cheias de soberanos mistérios, e cada uma transborda em doçura celestial. Mas isto acontece caso exista alguém que as considere com diligência e saiba sugar o mel de um rochedo, e óleo da dura pedreira, como disse as Escrituras. (Deuteronômio XXXII, 13)

Se, verdadeiramente, naquele dia propagaram doçuras nos montes e jorraram leite e mel das colinas; quando os céus enviando seus orvalhos desde o alto e fazendo as nuvens como uma chuva, descender o Justo (Isaías XLV, 8) se abriu alegre a terra, e brotou dela o Salvador; quando derramando o Senhor suas bênçãos, e nossa terra dando o seu fruto, sobre aquele monte que se eleva sobre todos os montes, monte fértil e abundante, saíram para encontrar-se mutuamente a misericórdia e a verdade, e se beijaram  a justiça e a paz (Salmo LXXXV,11); naquele tempo em que este não pequeno monte entre os demais montes, este bem aventurado Evangelista, escreveu com estilo dulcíssimo o princípio da nossa salvação, tão desejado por nós, que soprando o vento sul ou raiando o sol da justiça, se alastraram dele aromas espirituais. E oxalá que agora envie Deus sua palavra, e as derreta: oxalá, que sopres seu espírito, e se façam inteligíveis para nós as palavras evangélicas, se façam, em nossos corações mais estimáveis que o ouro e as pedras mais preciosas, se façam mais doces que o mel.


San Berdardo, Las Grandezas de Maria.  3ª Ed. Apostolado Mariano. Sevilla.

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