Tesouro Espiritual

Nos manuais antigos da Congregação Mariana, na seção sobre a Vida do Congregado, sempre se lê: “Marcar no tesouro espiritual os atos de piedade diários“. Esta prática piedosa, majoritariamente abandonada após o vendaval dos anos 60 e 70, permanece cara no legado das CCMM sobretudo por seus grandes e inúmeros frutos espirituais e por nos auxiliar em dois grandes princípios da vida espiritual: A vigilância frequente em encontrar meios de honrar ao Bom Deus e à Santíssima Virgem e o exame de consciência diário.

O Tesouro Espiritual é um recurso tradicionalmente usado pelas Congregações. Consiste em uma tabela na qual se contabilizam os atos de piedade realizados durante todos os dias de um mês. Estes atos são, então somados e oferecidos conjuntamente por uma determinada intenção, normalmente a mesma intenção da Comunhão Geral. Além de permitir ao próprio membro acompanhar o andamento de sua vida espiritual, os avanços e dificuldades neste caminho – sendo este o principal objetivo da prática –  também permite ao padre diretor acompanhar tanto o indivíduo como todo o grupo: Ao fim de cada mês, segundo as mesmas regras1, deve o congregado entregar ao diretor a folha do tesouro que será usada para contabilizar e aplicar, conforme conveniência, remédios eficazes para proveito espiritual de todos os membros.

Uma das primeiras menções ao tesouro espiritual pode ser encontrado no livro do Pe. Parthenius, Pratiche Divote, de 1826.2 Encontramos registros do uso do tesouro em congregações ainda no século XIX na Irlanda, Hungria, Reino Unido, Espanha, Bavária e Roma, onde receberam o nome de flores. Em Szatmar, no ano de 1904, temos uma das contagens anuais mais impressionantes, considerando o pequeno número de congregados daquela congregação: 13.560 missas,  4444 visitas ao Santíssimo Sacramento, 7122 ato de fé, esperança e caridade, 6619 recitações do Ato de Consagração da Congregação, 6029 rosários, 955 recitações do Ofício Parvo de Nossa Senhora, 2108 vitórias sobre si mesmo quanto à obediência ou perdão, 1003 meditações, 1562 vitórias sobre a curiosidade, 529 vitórias sobre o respeito humano, etc 3, todos esses atos oferecidos para o papa e para a honra de Nossa Senhora.

 

Um fiel entrega o bouquet espiritual de sua escola (prática derivada do tesouro espiritual) a Bento XVI na ocasião do Ano Sacerdotal em 2009 fonte

 

Com efeito, essas listas não contém nem todos os bons atos feitos pelos congregados – pois muitos atos não entravam nas listas – nem são, apenas pelo número, suficientes para o exame completo do estado espiritual dos membros, mas é inegável o imenso benefício que a prática dá aos que a praticam de coração sincero. Deve-se, como em todo recurso que concerne a vida interior, ter grande cuidado em não corromper a prática tornando-a uma contagem vazia e desinteressada, mentirosa ou nutrida de uma mentalidade pelagiana.

A prática, iniciada nas Congregações Marianas, encontrou eco em outras piedosas associações de fiéis, como a Cruzada Eucarística, onde a prática ganhou grande notoriedade e difusão. De fato, a prática pode ser usada por qualquer católico de modo privado ou, junto a um sacerdote zeloso, em grupo.

Citamos, por fim, a confederação nacional das Congregações Marianas, em seu livro para dirigentes, de 1958:

Um salutar cos­tume e uma forma utilíssima de educação. Já se disse – e com muita propriedade – que o Tesouro Espiritual, preenchido com profundo senso de responsabilidade e sério empenho de ver o progresso religioso e moral, constitui verdadeiro termômetro da vida espiritual. Neste mapa tão simples e de tão fácil mecanismo, o congregado “contabiliza” seus atos de piedade, suas obras de caridade e seus sacrifícios. É-lhe poderoso auxílio para o exame de consciência e uma espécie de bússola no seu caminho em busca da perfeição. O Dirigente deveria utilizar com especial carinho o Tesouro Espiritual e, é claro, divulgar ao máximo o seu uso.4

 

Dizem, ainda, as regras de 1855 sobre a prática do tesouro, em especial a contabilização e publicação anônima dos resultados na Congregação

Onde houver o costume, cada membro deve levar para a Congregação uma lista das práticas  que ele praticou durante estes dias [o mês] – mas sem assinar seu nome – e deverá por em uma caixa ou urna preparada para este propósito; e estas listas tendo sido reduzidas para organizar e copiar em um livro, deverão ser lidas publicamente ao invés da exortação comum. Elas devem ser lidas, se possível, no dia imediatamente anterior às festas solenes, de modo que todos possam, pela recordação do que ouviram, ser muito mais incentivados a crescer no fervor e nas devoções. Os membros devem também saber que eles mesmos estarão rendendo louvores à Sempre Virgem Maria, por não apenas fazer uso das práticas acima mencionadas, mas também por procurar, a cada dia, por alguma prática piedosa, tornar a Santa Mãe de Deus propícia a eles.

 

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Após preenchimento,

  1. Somar os atos do mês preencher os dois totalizadores
  2. Recortar o totalizador destacado e entregar, sem assinar seu nome, na próxima reunião ordinária
  3. Guardar o tesouro em lugar seguro para consulta futura

 

 

  1. Manual de 1948, p. III
  2. cf The Sodality of Our Lady studied in the documents, Pe. Mulan, 1912, p. 111, disponível aqui
  3. ibid. p. 112
  4. cf Para ser dirigente. Antonio Maia, 1958. p. 257, Coleção Estrela do Mar

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