Segredos da vida de uma Congregação
O que mais nos deve preocupar, na vida das Congregações, não é a quantidade mas a qualidade; não é o elemento quantitativo, mas o elemento qualitativo.
As Congregações hão de ser, antes e acima de tudo, — escolas de santidade e escolas de apostolado. E para isto concorrem três coisas imprescindíveis, — segredos da vida mariana fértil e sadia: — Seleção, formação e apostolado.
Seleção
Cuidado máximo — atento e refletido — na escolha e admissão de candidatos e congregados.
“Nem todos, nem qualquer“ — é a norma áurea ditada pela experiência e pelas regras”, nota muito bem o Pe. Dainese. Do contrário não se vivem os “sérios compromissos marianos” jurados solenemente aos pés de Nossa senhora. As Congregações se desmoralizam. Tornam-se uma brincadeira. Não se tomam a sério as obrigações mais graves.
Precisamos do bom fermento, do punhadinho-elite, Marianos de escol. Congregados de brio e valor, milicianos intrépidos e destemorosos da Virgem Imaculada, almas grandes, corações sadios e magnânimos, quais lírios de pureza a se desfolharem aos pés da Mãe Imaculada e do seu divino Filho, enquanto os loucos do mundo se atolam no lodaçal dos vícios e se asfixiam na atmosfera malsã e pestilenta dos cassinos e orgias carnavalescas.
Se a Congregação não for elite — elite espiritual — está fadada a desaparecer, definhar, morrer… Se na Congregação faltar a seleção, “falta-lhe o princípio vital, a base insubstituível, a coluna mestra”.
Poucos, mas bons, bem formados, repetimos com o P. Dainese. “A Congregação é elite”. A multidão, a massa nunca poderá ser elite. A Congregação é um exército, disciplinado, exercitado, mobilizado. A turba-multa nunca poderá ser exército.
“A presença na Congregação de pessoas que de congregados só têm o nome é um veneno mortal para a Congregação: cedo ou tarde matarão a Congregação a não ser que esta se desfaça desses fatores de dissolução… Nas Congregações não se admitem “medalhões” , congregados “honorários” , homens ornamentos, homens-enfeites.
A severidade justa, prudente e caridosa, mas decidida em eliminar os congregados que não vivem na e da Congregação produz sempre e infalivelmente um aumento qualitativo e quantitativo da Congregação. Repetimos: quantitativo. É a árvore que se poda “ut fructum plus áfferat”, como diz Nosso Senhor, para que seja mais fecunda” 1.
Saibamos, pois, escolher, — escolher bem e muito bem. Seleção, seleção, muita seleção! Trabalhemos, lutemos ardorosamente para formar Marianos convictos, desassombrados, decididos. Marianos de sacrifício e de abnegação, de trabalho e de coração, de vida moral profunda e de intensa vida sobrenatural. Marianos assim é que são a grandeza do nosso Brasil. É com Marianos desta têmpera que forjaremos o Brasil Novo. O Brasil de Cristo e de Maria, mais sadio, melhor e mais feliz.
Mas a seleção, embora seja “um dos segredos do valor, da força, da vida e da fertilidade das Congregações Marianas”, por si só não basta. Em si mesma a seleção, — se bem que indispensável, — não é senão uma condição para a vitalidade das Congregações. Precisamos juntar-lhe ainda a formação e o apostolado— formação primorosa e ardoroso apostolado — como magistralmente nos vai mostrar o Diretor da C. N. C. M.
Formação
“A formação é essencial em qualquer associação religiosa; é indispensável que os seus membros conheçam seus deveres, responsabilidades e compromissos e vivam deles. Porque isto é formação: conhecer e praticar. Ora a formação é tanto mais necessária, seu papel é tanto mais preponderante, quanto mais graves são os encargos e mais elevadas as finalidades da associação. A Congregação Mariana é uma associação de elite espiritual, exige que seus membros sejam pessoas de vida exemplarmente cristã, apóstolos denodados de Cristo, defensores decididos da Igreja. Claro está, pois, que na Congregação a formação é uma questão de vida e de morte. Congregado sem formação não é nem pode ser Congregado, assim como um círculo não é nem pode ser quadrado.
Fita, distintivo, manual, saudação, bandeira, festas, concentrações, — tudo isto são apenas símbolos, estímulos, coisas secundárias que só têm valor e sentido quando e onde os congregados são congregados de verdade, isto é, quando têm uma formação sólida, séria, esclarecida, consciente.
À vista disto aparece desde logo porque razão as regras insistem tanto e tão severamente na obrigação que têm os Congregados de se instruírem na religião, de se dedicarem seriamente aos exercícios de piedade e de apostolado” 2.
Apostolado
“O apostolado é essencial às Congregações Marianas. Irradiação e consequência natural do trabalho de aperfeiçoamento espiritual em que se devem empenhar seriamente os Congregados, o apostolado entra na natureza intrínseca da Congregação como uma das suas duas finalidades características: santificação própria e santificação dos outros.
Esse apostolado poderá e deverá ser exercido coletivamente pela Congregação e individualmente pelo Congregado; revestir-se-á das formas mais variadas e mais diversas do zelo cristão; adaptar-se-á às condições e às necessidades dos tempos, dos lugares, do ambiente; mas o que não padece dúvidas é que ele deve existir e que ele mantêm e estimula a vitalidade das Congregações e dos Congregados.
Congregações que se contentam com suas reuniões semanais, quinzenais ou mensais em que a monotonia, a improvisação, os elogios e as palavras matam o interesse, cortam as iniciativas, consagram a rotina e criam uma atmosfera de estagnação, de sonolência e de apatia, são congregações que vegetam inutilmente. Não têm vida produtiva; são árvores que ocupam infrutuosamente a terra, como diria o Evangelho.
Para que servem? Qual a finalidade prática de suas reuniões horrivelmente nulas? Dê-se, porém, à Congregação um campo de apostolado e ao Congregado a responsabilidade de uma iniciativa de zelo e ver-se-á como a vida começa a agitar o organismo e a se expandir de mil modos num estudar sempre crescente de entusiasmo, de interesse, de sugestões, de atividade, de trabalho. A seiva corre pujante fortalecendo e animando a vida!
Seleção, formação, apostolado: — é o trinômio vital das Congregações!
Extraído do Anuário da Federação das CCMM
do Paraná, de 1940.