A Vida Cristã

Si vos manseritis in sermone meo, vere discipuli mei eritis
Se permanecerdes nas minhas palavras, sereis verdadeiramente meus discípulos (Jo 8,31)

 

O grande fim da Congregação Mariana é fortificar e aperfeiçoar os seus membros na Vida Cristã. Para apreciar a beleza, a grandeza e a soberana utilidade desse fim, é necessário ter bem clara a ideia da Vida Cristã e considera-la em sua verdadeira luz, sem prejuízo de má interpretação.

 

O que é, pois, a Vida Cristã?

A Vida Cristã não consiste em portar o nome de cristão, isto todo batizado faz; tampouco é a Vida Cristã o mesmo que ter a Fé Cristã. Para viver uma vida cristã é necessário praticar o que se vive, regular sua conduta e moral de acordo com o ensinamento da fé; é seguir a Lei de Jesus Cristo e fugir sempre de seu inimigo, o demônio, de suas obras e pompas.

À Vida Cristã se opõe a Vida Mundana. Esta última não segue outra regra senão o capricho da moda, da paixão, dos divertimentos do mundo e as exigências do egoísmo. A regra da vida cristã, ao contrário, é composta pelas máximas do Evangelho, da lei de Deus, do dever, da consciência, da vontade de Deus e de seu agrado. Não é uma vida de egoísmo, mas uma vida de caridade.

A Vida Cristã na terra é uma preparação para a vida gloriosa no Céu. Pela graça de Deus e méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, foi-nos preparado um lugar de eterna glória, onde tomaremos lugar entre os príncipes da corte celestial; mas para cumprir esse sublime desígnio e alcançar essa glória, precisamos nos preparar e merecer. Essa preparação é a Vida Cristã.

O modelo da Vida Cristã é Nosso Senhor Jesus Cristo, de quem todos os seus verdadeiros discípulos são fiéis imitadores. Para ver a Vida Cristã em todo o seu esplendor, devemos volver nossos olhos para os apóstolos, para os mártires, para os confessores e todos os católicos que, desde os tempos apostólicos até os dias de hoje, foram fiéis na profissão da santa religião católica. Vede esta brilhante procissão de verdadeiros cristãos: Eles pertencem a todas as classes da sociedade e todas as condições de vida; eles são os eleitos da raça humana!

A Vida Cristã é a mais honrada e bela vida
É justamente comparável à passagem de uma estrela cujo caminho é marcado senão pela luz. O caminho do justo – dizem as Sagradas Escrituras – é como a luz da aurora, que vai crescendo em brilho até ser dia perfeito1. A vida do pecador, ao contrário, é cheia de escuridão e deixa como rastro senão sujeira e fumaça.

A Vida Cristã faz os homens felizes.
Felizes mesmo com todas as cruzes que devem carregar: estou cheio de consolação, inundado de alegria no meio de todas as nossas tribulações2. Os bons cristãos são felizes porque sua consciência está em paz, porque recebendo as provações das mãos de Deus, as convertem em méritos para o Céu: Bem-aventurados aqueles cujo caminho é imaculado, que andam na lei do Senhor 3, diz o profeta.

A Vida Cristã forma e regula o caráter
Nada é tão belo quanto um caráter forte, nobre e generoso. O apreciamos, o amamos, confiamos em quem o possui. O que, portanto, dá ao homem este belo caráter? O que o ensina as grandes virtudes de que é formado – probidade, coragem, devoção e generosidade, mesmo para os inimigos? Não é esse o espírito do Evangelho? Dai, diz o Salvador, aquilo que pedem. Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo. Amai vossos inimigos, rezai por aqueles que vos perseguem e vos caluniam4. Nesse mesmo espírito, os apóstolos diante do Concílio dos judeus estavam em grande alegria por serem perseguidos pelo nome de Jesus.

Que grandeza de alma! Compare-a com a dos mundanos, mergulhados em sensualidade, abandonados ao egoísmo, escravos da opinião e do respeito humano; compare o caráter deste com o do verdadeiro cristão: Em um lado, a covardia e mediocridade, do outro, a nobreza de alma, a coragem, a generosidade que inspira respeito e amor.

A Vida Cristã é, por fim, absolutamente necessária
Se queres, diz o Salvador, entrar na vida, guarda os mandamentos5. Não é suficiente crer, devemos também praticar. A fé é necessária como a raiz, e as obras como os frutos que Deus pede de nós. É verdade que o Redentor disse que Todo aquele que crer e for batizado, esse será salvo, mas esta fé de que fala o Filho de Deus é uma fé viva, eficaz, fecunda nas obras, e não mera “crença” desinteressada, como propagariam os protestantes. Diz-nos, pois, o Senhor: Aquele que pratica a vontade do meu Pai que está nos Céus, esse entrará no Reino dos Céus; e toda árvore que não trouxer bons frutos, essa será cortada e jogada no fogo6.

Eis a nobreza da Vida Cristã! Eis a sua necessidade e soberana excelência!

 

Como praticar a Vida Cristã?

Se a Vida Cristã é bela e desejável, não é ela, no entanto, muito difícil de ser praticada? Não exige muitos esforços, renúncias e grandes sacrifícios?

Para viver a Vida Cristã, não devemos triunfar sobre nossas paixões, nossas repugnâncias, nosso egoísmo, a tirania do respeito humano e da mediocridade, as seduções do mundo? Não disse o Senhor que o Reino dos Céus adquire-se à força, e que são os violentos que o arrebatam?7

É muito difícil ao homem por si mesmo cumprir fielmente os deveres que o Evangelho lhe impõe. Resistir às tentações, superar o orgulho, a ira, a concupiscência, praticar a castidade, perdoar injurias, rezar pelos inimigos, desprezar o mundo; estes são atos que frequentemente estão além da força natural do homem. Mas Deus oferece um socorro sobrenatural, com o qual tudo isso é praticável e fácil.

O socorro divino é chamado de Graça. Sem a Graça, não podemos fazer nada para nossa salvação. Com ela, podemos fazer tudo: Tudo posso naquele que me conforta8.

Como os santos praticaram suas virtudes heróicas? Como os mártires venceram suas admiráveis vitórias? Como podem tantos irmãos nossos seguirem a Cristo sem uma só falta? É tudo pela Graça.

A Graça Divina é, portanto, necessária. Mas como podemos obtê-la? São necessárias duas coisas:

  1. Evitar os obstáculos a Graça
    Tais são as ocasiões de pecado a que nos expomos voluntariamente ou certas ocasiões em que estamos desordenadamente ligados e que causam em nós prejuízos espirituais.
  2. Empregar os meios que Deus nos dá
    Tais são a oração e os sacramentos – verdadeiras fontes de onde podemos obter a graça seguindo o exemplo de todos os santos

É assim que nos tornamos fortes com a força de Deus para triunfar sobre nossos inimigos, para cumprir nossos deveres, para praticar todas as virtudes da Vida Cristã a fim de ganharmos a palma e a coroa que é a recompensa dos justos.

 

Pe. F. X. Schouppe 
em Sodality Director’s Manual, 1882, pg.  38-45
Tradução e ampliação por um Congregado Mariano

  1. Pv 4, 18
  2. II Cor 7, 4
  3. Sl 118, 1
  4. Mt 10, 28-33
  5. Mt 19. 17
  6. Mt 7, 19-21
  7. Mt 11, 12
  8. Fl 4,13

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