Os deveres do Congregado Mariano

Audi, fili mi, disciplinam patris tui, et ne dimittas legem matris tuæ
Ouvi, meu filho, a instrução do vosso pai e não esqueçais a lei da vossa mãe (Pv 1, 8)

Se a Congregação Mariana oferece muitos benefícios, ela também impõe aos que participam dela uma condição: o cumprimento de certos deveres. Todo homem tem deveres especiais, que variam de acordo com a posição que ocupam. Um congregado, também, tem deveres próprios a cumprir. O dever é uma grande coisa, mas coisa ainda maior é o amor ao dever e seu fiel cumprimento.

O que é, pois, o dever? É aquilo que o servo deve fazer em obediência aos preceitos e ao desejo do seu mestre. Quando terminarem de fazer aquelas coisas que lhe foram pedidas, dizei: Somos servos inúteis, fizemos apenas a nossa obrigação (Lc 17,10) Ora, como Deus é nosso mestre e nós somos seus servos, sua vontade e tudo o que ele nos pede de acordo com nosso estado de vida e tudo o que ele quer constituem nossos deveres. Preceito e desejo, aqui, não são sinônimos. O primeiro é o que a Justiça exige. Já o segundo, exige-o o amor, que se compraz em não apenas realizar o que deve ser feito, mas – em grande generosidade – faz mais do que o que se pediu, e o faz por amor.

O que mais é o dever? É a regra de conduta de um homem. Uma criatura racional precisa de uma regra para o guiar com sabedoria.  Agora, a verdadeira regra de conduta, tão simples quanto perfeita, é o cumprimento do dever. Vede o fio condutor no labirinto da vida! Vede a linha de ouro traçada pelo dedo de Deus! Felizes aqueles cujo objetivo primeiro é o cumprimento do dever, e que se mantém fiéis a esse nobre caminho. Suas vidas serão reguladas com prudência e a felicidade acompanhará seus passos, seus nomes serão proferidos com respeito.

O dever é, enfim, a grande base da perfeição moral do homem. Aquele que cumpre seu dever, não deixa nada a desejar, é um homem perfeito. Tem vosso coração uma nobre ambição? Aspirais ser um congregado de verdade? Tendes senão uma coisa a fazer: Devotai-vos a cumprir com perfeição vosso dever como congregado mariano, como Filho de Maria, cujo jugo é suave e cujo fardo é leve, como de seu filho.

Nosso dever como congregado consiste em três coisas: a observância da regra, a conduta exemplar e a fidelidade ao ato de consagração.

Observância da regra

As regras da Congregação Mariana são tão belas e piedosas que parecem ter sido ditadas pela própria Virgem Santíssima. Elas foram aprovadas pelo papa Sixto V em sua bula Omnipotentis Dei em 5 de janeiro de 1586 e dadas à Prima Primária Romana e todas as suas afiliadas. Foram revisadas duas vezes, em 1855 e, finalmente, em 1910.

As regras da Congregação, às quais se permite adicionar estatutos locais, deve ser observada pelos congregados com religiosa e estrita fidelidade. Não por serem obrigados sob pena de pecado, como os mandamentos, mas porque foram aprovadas pela Igreja, são agradabilíssimas à Santíssima Virgem, formam a base da Congregação Mariana e o sentido de sua vida e prosperidade e, sobretudo, porque, ao adentrar na Congregação, assume-as o congregado como seu dever.

O congregado promete fidelidade, então, a observar as sagradas regras pela honra e fidelidade, pelo amor a Deus, pelo amor à Santíssima Virgem e pelo amor à Congregação Mariana.

As regras podem ser agrupadas em quatro deveres

  1. Dever para com Deus e a Santíssima Virgem
    Esses deveres compreendem os atos de piedade prescritos na regra: As orações diárias, a oração mental, os exames, a Santa Missa, a frequência aos sacramentos e a participação fiel às reuniões da Congregação
  2. Dever para com a Congregação Mariana
    Deve-se amar a Congregação, amar sua prosperidade, defender sua honra; amar seus membros com sincera e fraternal caridade, tendo no coração a união e a concórdia de todos. Deve-se amar de sobremaneira o padre diretor e a diretoria, rezar por eles e auxiliá-los. Essa caridade deve ser manifestada por obras e mesmo por sacrifícios, particularmente quando os congregados adoecem ou morrem
  3. Dever para consigo mesmo
    Nossos deveres para conosco mesmos requerem que nossa conduta seja edificante e exemplar, que tenhamos uma vida realmente reta, sem hipocrisia e sem escândalo; que sempre evitemos companhias mundanas, diversões suspeitas e pouco edificantes, repreensíveis ou perigosas, e livros duvidosos, verdadeiramente nos esforçando para atingir a santidade
  4. Dever para com o próximo
    Devemos honestamente apoiar e participar das obras de caridade e zelo, espirituais e corporais, seja na oração, no conselho, na correção fraterna, no ensino do certo ou nos momentos de dificuldade temporal.

Este é um resumo das nossas regras, que podem ser lidas aqui

Conduta exemplar

Para o congregado mariano, a conduta exemplar não é simplesmente uma vida cristã irrepreensível, mas uma vida cristã verdadeiramente impressionante, pelo esplendor do cumprimento do dever que sirva para exemplo dos outros. Assim devem ser os congregados.

Diz-nos a Santíssima Virgem, como disse seu Divino Filho: Que vossa luz brilhe diante dos homens e, vendo vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está no Céu. Por isso, devem os congregados servir de exemplo aos outros pela sua exatidão, sua pontualidade, sua caridade, sua paciência, sua modéstia e sua reserva nas palavras. E por que deve ser a conduta dos congregados tão edificante? Porque a santidade de Maria, de quem os congregados são filhos e a quem se consagram, e a honra da Congregação em que são membros torna isso um verdadeiro dever. A má conduta de um filho entristece a mãe; sua virtude a alegra e honra.

Quer isso, ainda, dizer que todos aqueles que entram na congregação estarão livres de todas as falhas e se tornarão  modelos de virtude? Infelizmente não, ao menos não de imediato. Mas buscar esta perfeição deve ser o objetivo que todo congregado deve se esforçar para alcançar, e aquele que não se dedicar sinceramente nesta busca é indigno do nome de congregado.

O congregado é chamado a buscar a perfeição, querer muito mais que o mínimo, evitar não apenas o pecado, mas também o que não está conforme aos desejos do Mestre. Brilhar, enfim, como uma luz, uma luz cheia de pureza e ardor, diante das trevas do mundo.

Fidelidade ao ato de consagração

O ato de consagração, caros congregados, é o compromisso de honra contraído diante do altar na presença dos anjos, dos membros da congregação e da Santíssima Virgem! É algo de extrema gravidade.

Ao pedir a Virgem Santíssima para ser vossa protetora na vida e na morte, prometeis de vossa parte que ireis honrá-la como vossa mãe e jamais direis uma palavra ou fareis qualquer coisa contrária à sua honra. Esse compromisso consiste em uma tripla promessa, que é necessário ser compreendida para ser bem aplicada

  1. De preservar para sempre filial amor a Maria, o que vos impele a frequentemente invocá-la e evitar tudo o que pode desagradá-la
    Como diz S. Bernardo: Nos perigos, nas angústias e nas incertezas, pensa em Maria, invoca Maria. Que o nome de Maria esteja sempre na tua boca e no teu coração; e, para obter a ajuda de sua oração, não esqueças de seguir o seu exemplo. Seguindo-a, não te desviarás; invocando-a, não desesperarás; pensando nela, não errarás. Com seu apoio não cairás, sob sua proteção não temerás, se ela te guia não te cansarás, se te é propícia, chegarás ao fim; 
  2. De jamais dizer uma palavra contrária a sua honra
    Não dizemos de palavras, Deus não o permita!, contrárias a Nossa Senhora, mas palavras que sejam indignas de serem proferidas por um filho de Maria.
  3. Não cometer nenhuma ação contra sua honra
    Particularmente aquelas que tendem a diminuir o esplendor das virtudes mais caras ao seu coração virginal. O congregado, como soldado da Imaculada, é um soldado de pureza e oração.

 

Prezados congregados, queridos filhos de Maria, esses são vossos nobres e gloriosos deveres! Vossa boa Mãe não deixará de vos ajudar a cumpri-los, se vos dedicardes sinceramente a eles, e no cumprimento desses deveres recebereis as vantagens que a Congregação vos promete.

Hoc fac et vives. Fazei tudo isso e viverás.

Pe. F. X. Schouppe 
em Sodality Director’s Manual, 1882, pg.  27-31
Tradução e ampliação por um Congregado Mariano

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