A Instrução da Juventude é uma das missões mais necessárias na Igreja

Quanto a nós, ocupar-nos-emos totalmente na oração e no ministério
da palavra divina (At. Vl, 4)

Por S. João Batista de La Salle,
aos mestres e educadores cristãos

1º Ponto – O mestre cristão tem na Igreja uma missão muito importante

Havendo Deus escolhido a São Paulo para pregar o Evangelho, comunicou-lhe tal conhecimento dos mistérios de Jesus Cristo que o pôs em condições de “qual perito arquiteto, lançar o fundamento da fé” e da religião nas Cidades em que anunciou a palavra divina. A estes povos, com muita razão. São Paulo os chama sua obra, dizendo: “Sou eu que vos gerei em Jesus Cristo, por meio do Evangelho.” (I Cor IV, 15)

Sem comparar-vos a este grande Santo, podemos dizer que, guardadas as devidas proporções entre o vosso ofício e o dele, fazeis a mesma coisa, exerceis idêntico ministério em sua profissão. Por isso, deveis considerar este ofício como uma função das mais importantes e necessárias na Igreja.

Instruir os meninos no mistério da Santíssima Trindade e nas coisas que Jesus Cristo realizou durante a sua vida mortal, é  também “lançar o fundamento do edifício espiritual da Igreja“, pois, segundo o dizer de São Paulo, “sem fé é impossível agradar a Deus” e, por conseguinte, salvar-se e entrar na celeste Pátria. Sendo a fé o fundamento da esperança, a comunicação da primeira pela instrução é, pois , da maior transcendência na nossa religião.

Segundo isto, quanto não deveis vos estimar honrados pela Igreja, sendo por Ela designados a tão nobre e santa função, e por Deus escolhidos para transmitir aos meninos o conhecimento da nossa religião e o espírito do cristianismo! Rogai, pois, a Deus que os conceda a graça de desempenhar tal ministério de uma maneira digna Dele.

2º Ponto – O mestre Cristão, imitador de Jesus Cristo e dos santos Apóstolos

O que mostra a importância desta função, é que os santos bispos da primitiva Igreja a consideravam como seu principal dever e, como grande honra, o catequizarem pessoalmente aos Cutecúmenos e neófitos. São Cirilo, Patriarca de Jerusalém, e o santo bispo de Hipona, Santo Agostinho, escreveram catecismos que eles próprios ensinaram e mandavam ensinar pelos sacerdotes. seus ajudantes nas funções pastorais. São Jerônimo, de ciência tão profunda, manifesta em sua epístola a Leta que julgava ser maior honra o catequizar a um menino do que ser preceptor de um grande monarca. Gerson, grão-chanceler da Universidade de Paris, prezava tanto este ministério que o assumiu pessoalmente.

A razão de estes grandes Santos assim procederem, é que ela foi a primeira função de que Jesus Cristo encarregou os seus Apóstolos, logo depois de os haver escolhido, conforme refere São Lucas, cap. IX, 2. Foi ainda a que lhes recomendou muito expressamente antes de separar-se deles, dizendo-lhes: “Ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo“. É ainda a primeira coisa que fez São Pedro, logo depois de receber o Espirito Santo no dia de Pentecostes, decidindo três mil pessoas a abraçarem a fé de Jesus Cristo. Foi também a missão particular de São Paulo, como pessoalmente o declara em seus discursos no Aerópago de Atenas e diante de Félix e de Festo, em Cesaréia, como referem os Atos dos Apóstolos. Em sua epístola aos Coríntios manifesta até a pena que sentiria, se fosse a eles sem lhes ser útil, catequizando~os e instruindo-os.

Mas não se contentou Jesus Cristo com encarregar seus Apóstolos da função de catequizar; quis também ensinar pessoalmente as principais verdades de nossa religião, como se refere em numerosas passagens dos Evangelhos, dizendo a seus Apóstolos: “É preciso que Eu anuncie também às outras cidades o reino de Deus; pois para isto é que fui enviado.” (Lc IV, 43.)

Quanto a vós, fostes, do mesmo modo, enviados por Jesus Cristo, e a Igreja, da qual sois ministros, a isso vos destina. Pode toda a aplicação necessária em desempenhar este ofício com tanto zelo e fruto como o fizeram os Santos.

3º Ponto – O mestre cristão forma cidadãos para o Céu

Não é de admirar que os primeiros bispos da Igreja nascente e os santos Apóstolos tenham estimado tanto a função de instruir os catecúmenos e neófitos, nem que São Paulo se glorie “de haver sido enviado para pregar o Evangelho, mas não com palavras estudadas, temendo de, com elas, inutilizar a cruz de Jesus Cristo; porque, diz ele, Deus convenceu a sabedoria do mundo de loucura, e a Deus aprouve salvar os crentes por meio da loucura da pregação de um Deus crucificado” (I Cor I, 17-21)

E a razão que dá São Paulo é que “Deus lhe havia manifestado este mistério por revelação, e lhe concedera a graça de anunciar as riquezas inescrutáveis de Cristo a eles, estranhos, até então, à aliança de Deus, e sem esperança das suas promessas; mas agora, pela fé em Jesus Cristo, já não estranhos nem adventícios, senão feitos concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, sendo o próprio Jesus Cristo a principal pedra angular, sobre a qual estão também edificados como uns santuários, moradas de Deus pelo Espírito Santo.” (Ef. II, 12-22)

Tal é o fruto que, pelas suas instruções, produziram na Igreja os grandes bispos e demais pastores aplicados a catequizar os aspirantes ao cristianismo, e foi a causa por que este ministério lhes pareceu tão transcendente. e ao qual se dedicaram com tamanha solicitude. É o que também a vós deve inspirar uma estima tão particular pela instrução e educação dos meninos, pois é um meio de fazer deles verdadeiros filhos de Deus e cidadãos do Céu, e ela vem a ser propriamente o fundamento e esteio de sua piedade, e o princípio de todos os demais bens que se realizam na Igreja.

Dai graças a Deus pelo favor que vos há dispensado, associando-vos às funções dos santos Apóstolos e dos principais bispos e pastores da Igreja, e honrai o vosso ministério, tornando-vos, como diz São Paulo, “dignos ministros do Novo Testamento.” (II Cor III, 6.)

S. João Batista de La Salle

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