A alegria do congregado fiel
Sic haec scitis, beati eritis, si fueritis ea
Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sereis se as praticardes (Jo 13, 17)
Alegria! Eis a perpétua aspiração do coração humano! Nós a desejamos ainda nessa curta vida. Podemos alcançá-la? Há alegria verdadeira na terra?
A alegria perfeita, chamada beatitude, existe apenas no Céu; é a herança dos eleitos. Mas há, nesta terra, uma alegria que Jesus Cristo nos apresentou. É a alegria misturada com a Cruz e as lágrimas, sem, porém, por isso deixar de ser verdadeira alegria.
A quem pertence essa alegria? Todos os cristãos verdadeiros a possuem e, que pensamento consolador, os Filhos de Maria tem a maior parcela. Sim, a maior porção da verdadeira alegria nesta terra está reservada aos congregados marianos fiéis.
E quais são os elementos dessa alegria?
A doçura da Piedade
Piedade é o maná escondido que faz a alma experimentar todas as delícias. Entendemos por piedade o dom do Divino Espírito Santo que não apenas inunda a mente com a luz da fé mas também aquece o coração com o fogo do amor celeste.
Através da piedade, amamos Jesus e sua Mãe; amamos nos refrescar nas fontes divinas dos sacramentos e da oração. Ó, como é suave o silêncio de uma alma que reza, que tem toda a alegria de conversar com o Bom Jesus e Maria!
Quão encantadores os cânticos sagrados naqueles momentos aos pés do altar! Como podemos dizer como Davi: Como são belos vossos tabernáculos, Ó Senhor dos Exércitos! Felizes aqueles que habitam em vossa casa! Melhor um dia em vossa casa que mil junto aos pecadores.
Uma boa consciência
Entendemos por boa consciência aquela que é pura de todo pecado, que se nos apresenta sem nenhuma grave falta e carrega consigo o testemunho de que somos filhos amados de Deus.
Nada é mais doce que este testemunho de boa consciência; ele preenche a alma com serenidade, calma e paz que supera todos os prazeres exteriores: a vida é sempre agradável para os que têm a mente serena (Pv 15, 15). A alegria é mais que as riquezas, sim, ela supera todos os tesouros, todas as honras, todos os inebriantes prazeres do mundo.
O dinheiro e a opulência não dão alegria: Basta ver Salomão, que encontrou neles senão vaidade e aflição de espírito. Basta ver o rico que viveu senão para festas e rejeitou o pobre: veja-o sobrecarregado de vergonha eterna e enterrado no inferno. A alegria não vem de fora e não se assenta sobre bençãos exteriores: Ela reside no coração e sua origem é a boa consciência, ilibada diante de Deus.
A satisfação do dever cumprido
Nada é tão doce quanto o sentimento no coração do cristão quando pode dizer ao Divino Mestre: Pai, eu cumpri o trabalho que me deste (Jo 17,4). Que alegria teremos no fim da vida quando, olhando para nossos dias, veremos que eles foram cheios de méritos para o Céu!
O que quer que os homens possam dizer ou fazer contra nós, o que quer que aconteça conosco, estamos felizes se nossa alma e consciência podem dizer: Cumpri o meu dever.
Não é disso que a alegria das famílias cristãs vêm? Entendemos uma verdadeira família cristã aquela cujos membros cumprem seus deveres diante de Deus em um espírito de fé e amor – o pai e a mãe governam a casa e dão bom exemplo; os filhos obedecem os pais e se amam mutuamente. Um espírito de união, paz, trabalho e alegria reina entre eles. Em nenhum lugar se pode encontrar tanta alegria quanto em sua casa, em nenhum outro lugar apreciam as alegrias inocentes e puras cujo princípio é senão o cristão cumprimento do dever.
Ora, como todo congregado fiel é necessariamente devotado a cumprir seu dever, como é um homem de dever e não de prazer, assumindo para si a máxima “o necessário antes do útil, o útil antes do agradável” , segue-se que ele necessariamente apreciará essa doce satisfação de dever cumprido.
Consolação nas adversidades
Ninguém nesta vida escapa da lei do sofrimento e o congregado fiel, como todos os filhos de Adão, tem sua cruz a carregar. Esta cruz, porém, tem seu peso aliviado por grandes consolações.
Qualquer que seja a causa das provações, sejam problemas pessoais, profissionais, humilhações, perdas, uma falta em que caiu, dificuldades espirituais, enfermidades corporais ou outra qualquer dificuldade, o congregado tem amigos para o consolar e sustentar sua coragem.
E quem são esses amigos? São os irmãos congregados, são os membros da diretoria, é a própria Santíssima Virgem e seu Divino Filho. Estes são os verdadeiros amigos que não irão abandoná-lo na adversidade.
Pode o congregado fiel ter confiança neles, eles estarão lá para ajudá-lo, ou ao menos reanimá-lo com palavras de consolação: Tem confiança! Para eles que amam a Deus, todas as coisas funcionam juntas para o bem. Após a noite, vem o dia, após a tempestade, vem a calmaria, após a prova, a paz e a alegria.
A promessa de uma boa morte
De todas as graças que Deus dá aos homens, a mais excelente, sem dúvidas, é a da boa morte. Pretiosa in conspectu Domini mors sanctorum eius. A boa morte é a porta do paraíso, a entrada para a glória. Essa graça é assegurada ao congregado que é realmente fiel.
Acaso alguém pensa que uma mãe tão cheia de solicitude por seus filhos durante a vida poderia abandoná-los na hora da morte?! Recorderis mei nec deseras me in hora mortis. Ela os ajuda a aceitar a doença com resignação, a receber dignamente os sacramentos, a oferecer a Deus sacrifícios meritórios da vida, de lucrar indulgência plenária e deixar este mundo, tanto quanto possível, purificado de toda mancha e absolvido de todo débito à divina justiça.
Coragem, pois, filho de Maria! Sede fiel às santas obrigações que contraístes com vossa boa Mãe e contai com ela para uma santa morte; a morte de seus filhos não pode ser senão preciosa aos olhos do Senhor.
Estas são as alegrias reservadas ao congregado mariano que se mantém fiel durante a vida. Não deveríamos ansiosamente nos esforçar para merecê-las?
Pe. F. X. Schouppe
em Sodality Director’s Manual, 1882, pg. 32-37
Tradução e ampliação por um Congregado Mariano