O Santo Rosário: Poderosa Arma Contra as Heresias
Apenas estabeleceu-se a religião cristã, surgiram-lhe no seio diversas heresias. Os primeiros séculos da Igreja foram os que produziram maior número de sectários, a cuja frente se encontravam, quase sempre, bispos e arcebispos.
Podem-se citar diversas delas que devastaram a fé de incautos por longos períodos: o arianismo, negando a natureza humana e divina da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, mergulhou a Igreja nas trevas, restando poucos que ainda mantiveram a fé.
Tão sinistra quanto a heresia ariana foi a heresia conhecida como albigense 1, capaz de não só perverter a fé e levar milhares à morte espiritual, mas também capaz de justificar diversos crimes, causando também a morte corporal. Apesar de “aparecer” e crescer na Idade Média, a doutrina dos albigenses tinha origem nos gnósticas que séculos atrás haviam sido combatidos por santo Irineu de Lion. Seus adeptos julgavam ter um conhecimento sublime da natureza e dos atributos divinos. Sua doutrina tinha origem pagã: a existência de duas divindades,-uma boa, que criara as almas, e outra má, que criara o mundo dos corpos. E, ensinando que os homens deviam resguardar-se de tudo aquilo que fosse corpóreo, acabavam os seus adeptos a rejeitar o matrimônio, a vida de família, tudo aquilo, enfim, que julgavam fosse de encontro com a pura espiritualidade. Os mais ardorosos, os mais zelosos, passavam, muitas vezes, a desejar a morte.
Em tempos de grave crise de fé, Deus faz surgir grandes santos para que esclareçam a doutrina e combatam as heresias. Coube que no auge da heresia albigense, surgisse São Domingos Gusmão, fundador da Ordem dos Pregadores, para com grande zelo pela causa de Deus combater a perversidade daqueles que faziam perder a alma de grande parte da população da Europa.
Já antes a Igreja havia tentado de muitas formas destruir a heresia: o Concílio de Verona tratou dos meios, os nobres europeus prometeram obediência ao Sumo Pontífice, os pregadores medievais, tão famosos, tentavam de tudo, mas não obtinham êxito. São Domingos Gusmão, arrasado por não conseguir destruir a heresia com suas pregações, pôs a duras penitências corporais e jejuns rígidos em local recolhido por alguns dias. Nossa Senhora, então, apareceu-lhe com a arma certa para derrotar as heresias:
– ”Querido Domingos, você sabe de que arma a Santíssima Trindade quer usar para mudar o mundo?”
– ”Oh, minha Senhora, vós sabeis bem melhor do que eu pois, depois de vosso Filho Jesus Cristo, vós tendes sido sempre o principal instrumento de nossa salvação.”
– ”Quero que saibas que, a principal peça de combate tem sido sempre o Saltério Angélico que é a pedra fundamental do Novo Testamento. Assim quero que alcances estas almas endurecidas e as conquiste para DEUS, com a oração do meu Saltério.”
– ”Rezar estas cento e cinquenta saudações angélicas, lhe disse, é uma oração muito útil, uma homenagem que me é muito agradável. E ainda melhor farão aqueles que recitarem essas saudações com a meditação da Vida, da Paixão e da Glória de Jesus Cristo, pois essa meditação é a alma de tais orações.”
O Santo Rosário foi entregue a São Domingos Gusmão, vindo dos Céus, pela própria Virgem Santíssima. Que mais motivos faltariam a um bom cristão para que começasse imediatamente a rezar o Santo Rosário, pelo menos um terço, todos os dias?
O saltério de Nossa Senhora já era uma oração comum ao povo medieval, que tentava imitar os religiosos em suas orações – os religiosos rezavam os 150 salmos, o povo rezava 150 Ave Marias. Nossa Senhora confirma esse ato de piedade do povo e lhe aperfeiçoa com a meditação dos mistérios da vida de Nosso Senhor.
Os dominicanos, munidos do Santo Rosário e associados à Santa Inquisição, foram os apóstolos da cruzada contra os albigenses. Ainda nesta mesma época encontrou-se São Francisco com São Domingos Gusmão, onde ambos admiraram-se da santidade um do outro. Como poderia uma terrível heresia resistir à grandiosidade de dois grandes santos contemporâneos? A heresia albigense foi derrubada e o povo esclarecido da verdadeira fé.
Ainda a Igreja não cessou de conceder benefícios mais àqueles que se mantiverem fiéis à recitação do Rosário de Nossa Senhora. Os Papas Urbano IV, João XXII, Sixto IV, Inocêncio VIII e muitos outros escreveram sobre o Rosário e concederam indulgências àqueles que o rezavam e o difundiam.
Nós confirmamos pela força de nossa aprovação estes instrumentos ordenados para o louvor e glória de Deus Onipotente e da Gloriosa Virgem Maria; e alegremente instamos os fiéis aos exercícios de piedade, concedendo-lhes indulgências […]
Não só arma contra as heresias, mas verdadeira arma em defesa da fé católica é o Rosário, a ponto de, por ele, Nossa Senhora ter concedido a vitória às armas cristãs na duríssima Batalha de Lepanto, que impediu o avanço maometano contra a Europa cristã. São Pio V, Papa reinante na época, suscitou toda a cristandade a realizar procissões e rezar o Santo Rosário para que Nossa Senhora concedesse a vitória. Após o êxito dos cristãos, escreveu o Pontífice de venerável memória:
Motivado por seus exemplos, e tal como piamente se acredita, inspirado pelo Espírito Santo, o Bem-aventurado Domingos, fundador da Ordem dos Frades Pregadores (cujas Constituições e Regras Nós mesmos expressamente professamos quando estávamos nas ordens menores 2), em ocasião similar à do tempo atual, quando partes da França e da Itália eram miseramente perturbadas pela heresia dos Albigenses, que cegaram a tantos seculares que estes mais violentamente grassavam contra os sacerdotes do Senhor e contra os clérigos […] levantou os olhos ao Céu e àquele monte que é a gloriosa Virgem Maria, amável Mãe de Deus, que por sua descendência esmagou a cabeça da serpente retorcida, e sozinha destruiu todas as heresias, e pelo bendito fruto de seu ventre salvou o mundo condenado pela queda de nosso primeiro pai, e do qual, sem a mão humana, foi fendida aquela rocha da qual, golpeada pela vara, jorraram abundantemente águas correntes de graças, lançando o olhar sobre aquela forma simples de orar e procurar a Deus, acessível a todos e inteiramente piedosa, que é chamada de Rosário ou Saltério da Bem-aventurada Virgem Maria, na qual a mesma Beatíssima Virgem é venerada pela saudação angélica repetida 150 vezes, isto é, de acordo com o número do Saltério Davídico, e pela Oração do Senhor em cada dezena. Interpostas com essas orações estão certas meditações mostrando a inteira vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, completando assim o método de oração legado pelos Padres da Santa Igreja Romana. 3
Não bastando esses exemplos tão impressionantes sobre a grande necessidade da devoção ao Santo Rosário, Nossa Senhora em Fátima renovou o pedido para que se rezasse pelo menos a terça parte do Rosário todos os dias:
“Rezem o Rosário todos os dias para alcançar a paz no mundo e o fim da guerra”
“Quando rezarem o Rosário, digam depois de cada mistério: ‘Meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu, especialmente as mais necessitadas”.
Se em épocas tão difíceis da história da Igreja o Santo Rosário foi tão importante e tão agradável a Nossa Senhora, quanto mais não deve ser nos dias de hoje, em que as heresias não só triunfaram, como fizeram perverter toda a ordem outrora reinante na sociedade, fazendo com que, à vista do senso comum, o errado fosse visto como certo e o certo fosse ridicularizado. Ainda mais em nossos dias é grave a importância da devoção ao Rosário de Nossa Senhora.
Fonte: Vida dos Santos, pe. Rohrbacher, volume XIV, páginas 94 em diante.