Balada à Senhora da Boa Morte

Prefiro morrer a pecar:
Deixar-me em pedaços fazer.
Aos olhos dos outros rezar,
E tudo o que não dá prazer,
É como um martírio pr’o ser
Mas quanto aproveita do mar
Quem nele se vive a afogar,
Deixando em pedaços fazer-se?

Minh’alma de ter haverá —
Se neste vil mundo sofrer —
O Bem que só bem lhe fará
E a vida a viver ao morrer.
E eu rogo de vossa mercê,
Que sois d’Alva estrela do mar,
Dai-me, antes que venha pecar,
Deixar-me em pedaços fazer.

Se ponha minh’alma a pensar
Por que, como e quando morrer;
Que a fim de tão logo alcançar
O Reino do eterno viver,
Precisa-se bem falecer:
Virtude, e não vício fará
Que eu viva e não morra ao tentar
Deixar-me em pedaços fazer.

Senhora do bom padecer,
Que em vida lhe aprouve o sofrer
Tais dores quais águas do mar,
Dai-me antes que possa pecar
Deixar-me em pedaços fazer.

Por um congregado mariano.

 

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