Preparação para a Consagração – 9º dia (doze dias preliminares)
A mortificação universal
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O rosário e a coroinha de Nossa Senhora podem ser encontrados aqui
Veni, Sancte Spiritus
Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso Amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.
Oremos: Ó Deus que instruíste os corações dos vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos da sua consolação.Por Cristo Senhor Nosso. Amém
Oremus: Deus, qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuisti da nobis in eódem Spíritu recta sápere, et de ejus semper consolatióne gaudére. Per Christum Dóminum nostrum. Amen
Ladainha do Espírito Santo
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Divino Espírito Santo, ouvi-nos.
Espírito Paráclito, atendei-nos.
Deus Pai dos céus, tende piedade de nós.
Deus Filho, redentor do mundo,
Deus Espírito Santo,
Santíssima Trindade, que sois um só Deus.
Espírito da verdade,
Espírito da sabedoria,
Espírito da inteligência,
Espírito da fortaleza,
Espírito da piedade,
Espírito do bom conselho,
Espírito da ciência,
Espírito do santo temor,
Espírito da caridade,
Espírito da alegria,
Espírito da paz,
Espírito das virtudes,
Espírito de toda graça,
Espírito da adoção dos filhos de Deus,
Purificador das nossas almas,
Santificador e guia da Igreja Católica,
Distribuidor dos dons celestes,
Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração,
Doçura dos que começam a vos servir,
Coroa dos perfeitos,
Alegria dos anjos,
Luz dos patriarcas,
Inspiração dos profetas,
Palavra e sabedoria dos apóstolos,
Vitória doa mártires,
Ciência dos confessores,
Pureza das virgens,
Unção de todos os santos,
Sede-nos propício, perdoai-nos, Senhor.
Sede-nos propício, atendei-nos, Senhor.
De todo o pecado, livrai-nos, Senhor.
De todas as tentações e ciladas do demônio,
De toda a presunção e desesperação.
Do ataque à verdade conhecida,
Da inveja da graça fraterna,
De toda a obstinação e impenitência,
De toda a negligência e tepor do espírito,
De toda a impureza da mente e do corpo,
De todas as heresias e erros,
De todo o mau espírito,
Da morte má e eterna,
Pela vossa eterna procedência do Pai e do Filho,
Pela milagrosa conceição do Filho de Deus,
Pela vossa descida sobre Jesus Cristo batizado,
Pela vossa santa aparição na transfiguração do Senhor,
Pela vossa vinda sobre os discípulos do Senhor,
No dia do juízo,
Ainda que pecadores,nós vos rogamos, ouví-nos.
Para que nos perdoeis,
Para que vos digneis vivificar e santificar todos os membros da Igreja,
Para que vos digneis conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração,
Para que vos digneis inspirar-mos sinceros afetos de misericórdia e de caridade,
Para que vos digneis criar em nós um espírito novo e um coração puro,
Para que vos digneis conceder-nos verdadeira paz e tranqüilidade no coração,
Para que vos digneis fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça,
Para que vos digneis confirmar-nos em vossa graça,
Para que vos digneis receber-nos o número dos vossos eleitos,
Para que vos digneis ouvir-nos,
Espírito de Deus,
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, mandai-nos o Espírito prometido do Pai.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, dai-nos o Espírito bom.
Espírito Santo, ouví-nos.
Espírito Consolador, atendei-nos.
V. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado.
R. E renovareis a face da terra.
Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo,
concedei-mos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto,
e gozemos sempre as suas consolações.
Por Cristo, Nosso Senhor. Amém.
Christie, Eleison
Spiritus Sancte, audi nos
Spiritus Paraclite, exaudi nos
Pater de caelis, Deus, miserere nobis.
Fili redemptor mundi Deus,
Spiritus Sancte Deus,
Sancta Trinitas, unus Deus,
Spiritus veritatis,
Spiritus sapientiae,
Spiritus intellectus,
Spiritus foritudinis,
Spiritus pietatis,
Spiritus recti consilit,
Spiritus scientiae,
Spiritus sancti timoris,
Spriritus caritatis,
Spiritus gaudii,
Spiritus pacis,
Spiritus virtutum,
Spiritus multiformis gratiae,
Spiritus adoptionis Filiorum Dei,
Purificatur animarum nostrarum,
Ecclesiæ catholicæ sanctificator et rector,
Caelestium donorum distributor,
Discretor cogitationum et intetionum cordis,
Dulcedo in tuo servitio incipientium,
Corona perfectorum,
Gaudium angelorum,
Iluminatio patriarcarum,
Instpiratio prophetarum,
Os et sapientiae apostolorum,
Victoria Martyrium,
Scientia Condessorum,
Puritas virginum,
Unctio sanctorum omnium,
Propitius esto, parce nobis Domine,
Porpitius esto, exaudi nos Domine,
Ab omni peccato libera nos Domine,
Ad omnibus tentationinbus et insidiis diaboli,
Ab omnine presumptione e desesperatione,
Ab impugnationem veritatis agnitae,
Ab invidentia fraternae gratiae,
Ab omni obstinatione et impoenitentia,
Ab omni negligentia et tepore animi,
Ab omni immunditia mentis et corporis,
Ab haeresibus et erroribus universais,
Ab omni malo spiritu,
A mala et aeterna morte,
Per aeternam ex Patre ex Filioque processionem tuam,
Per miraculosam conceptionem Filii Dei,
Per descensionem tuam super Christum baptizatum,
Per sanctam apparitionem tuam in tranfiguratione Domine,
Per adventum tuum super discípulos Christi,
In die iudicii.
Peccatores, te rogamus, audi nos.
Ut nobis parcas,
Ut omnia Ecclesia membra vivificare et sanctificare digneris,
Ut verae pietatis, devotionis et orationis donum nobis dare digneris,
Ut sinceros misericordiae charitatisque affectus nobis inspirare digneris,
Ut spiritum novum et cor mundum in nobis creare digneris,
Ut veram pacem et cordis tranquilitatem nobis dare digneris,
Ut ad tollerandas propter iustitiam persecutiones nos dignos et fortes efficias,
Ut nos in gratia tua confirmare digneris,
Ut nos in numerum electorum tuorum recipias,
Ut nos exaudire digneris,
Spiritus Dei,
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, effunde in nos Spiritum Sanctum.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, emitte promissum in nos Patris Spiritum.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, da nobis Spiritum bonum.
Spiritus Sanctum, audi nos.
Spiritus Paraclite, exaudi nos.
V. Emitte Spiritum tuum et creabuntur.
R. Et renovabis faciem terrae.
Oremus: Deus qui corda fidelium Sancti Spiritus illustratione docuisti, da nobis in eodem Spiritu recta sapere et de eius semper consolatione gaudere.
Per Christum Dominum nostrum. Amen.
Ave Maris Stella
Clique aqui para ouvir o canto gregoriano
Ave, do mar Estrela
De Deus mãe bela,
Sempre virgem, da morada
Celeste Feliz entrada.
Ó tu que ouviste da boca
Do anjo a saudação;
Dá-nos a paz e quietação;
E o nome da Eva troca.
As prisões aos réus desata.
E a nós cegos alumia;
De tudo que nos maltrata
Nos livra, o bem nos granjeia.
Ostenta que és mãe, fazendo
Que os rogos do povo seu
Ouça aquele que, nascendo
Pos nós, quis ser filho teu.
Ó virgem especiosa,
Toda cheia de ternura,
Extintos nossos pecados
Dá-nos pureza e bravura,
Dá-nos uma vida pura,
Põe-nos em vida segura,
Para que a Jesus gozemos,
E sempre nos alegremos.
A Deus Pai veneremos:
A Jesus Cristo também:
E ao Espírito Santo; demos
Aos três um louvor: Amém.
Dei mater alma,
Atque semper Virgo,
Felix caeli porta.
Sumens illud Ave,
Gabrielis ore,
Funda nos in pace
Mutans Evae nomen.
Solve vincla reis,
Profer lumen caecis,
Mala nostra pelle,
Bona cuncta posce.
Monstra te esse Matrem,
Sumat per te preces,
Qui pro nobis natus
Tulit esse tuus.
Virgo singularis,
Inter omnes mitis,
Nos, culpis solutos,
Mites fac et castos.
Vitam praesta puram,
Iter para tutum:
Ut, videntes Jesum,
Semper collaetemur.
Sit laus Deo Patri,
Summo Christo decus
Spiritui Sancto,
Tribus honor unus. Amen.
Estas leituras espirituais podem ser feitas no dia anterior, em preparação para a meditação do dia.
Evangelho - Mt 8, 1-27 — Jesus prova sua missão por meio de milagres
1.Tendo Jesus descido da montanha, uma grande multidão o seguiu.
2.Eis que um leproso aproximou-se e prostrou-se diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, podes curar-me”.
3.Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: “Eu quero, sê curado”. No mesmo instante, a lepra desapareceu.
4.Jesus então lhe disse: “Vê que não o digas a ninguém. Vai, porém, mostrar-te ao sacerdote e oferece o dom prescrito por Moisés em testemunho de tua cura”.
5.Entrou Jesus em Cafarnaum. Um centurião veio a ele e lhe fez esta súplica:
6.“Senhor, meu servo está em casa, de cama, paralítico, e sofre muito”.
7.Disse-lhe Jesus: “Eu irei e o curarei”.
8.Respondeu o centurião: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado.
9.Pois eu também sou um subordinado e tenho soldados às minhas ordens. Eu digo a um: “Vai, e ele vai; a outro: Vem, e ele vem; e a meu servo: Faze isto, e ele o faz...”.
10.Ouvindo isto, cheio de admiração, disse Jesus aos presentes: “Em verdade vos digo: não encontrei semelhante fé em ninguém de Israel.
11.Por isso, eu vos declaro que multidões virão do Oriente e do Ocidente e se assentarão no Reino dos Céus com Abraão, Isaac e Jacó,
12.enquanto os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes”.
13.Depois, dirigindo-se ao centurião, disse: “Vai, seja-te feito conforme a tua fé”. Na mesma hora o servo ficou curado.
14.Foi então Jesus à casa de Pedro, cuja sogra estava de cama, com febre.
15.Tomou-lhe a mão, e a febre a deixou. Ela levantou-se e pôs-se a servi-los.
16.Pela tarde, apresentaram-lhe muitos possessos de demônios. Com uma palavra expulsou ele os espíritos e curou todos os enfermos.
17.Assim se cumpriu a predição do profeta Isaías: Tomou as nossas enfermidades e sobrecarregou-se dos nossos males (Is 53,4).
18.Certo dia, vendo-se no meio de grande multidão, ordenou Jesus que o levassem para a outra margem do lago.
19.Nisso aproximou-se dele um escriba e lhe disse: “Mestre, eu te seguirei para onde quer que fores”.
20.Respondeu Jesus: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”.
21.Outra vez um dos seus discípulos lhe disse: “Senhor, deixa-me ir primeiro enterrar meu pai”.
22.Jesus, porém, lhe respondeu: “Segue-me e deixa que os mortos enterrem seus mortos”.
23.Subiu ele a uma barca com seus discípulos.
24.De repente, desencadeou-se sobre o mar uma tempestade tão grande, que as ondas cobriam a barca. Ele, no entanto, dormia.
25.Os discípulos achegaram-se a ele e o acordaram, dizendo: “Senhor, salva-nos, nós perecemos!”.
26.E Jesus perguntou: “Por que este medo, gente de pouca fé?” Então, levantando-se, deu ordens aos ventos e ao mar, e fez-se uma grande calmaria.
27.Admirados, diziam: “Quem é este homem a quem até os ventos e o mar obedecem?”
Imitação de Cristo - Livro I, Cap XVIII
Dos exemplos dos Santos Padres
1. Contempla os salutares exemplos dos Santos Padres, nos quais brilhou a verdadeira perfeição religiosa, e verás quão pouco ou quase nada é o que fazemos. Ah! Que é a nossa vida em comparação com a deles? Os santos e amigos de Cristo serviram ao Senhor em fome e sede, em frio e nudez, em trabalho e fadiga, em vigílias e jejuns, em orações e santas meditações, em perseguições e muitos opróbrios.
2. Oh! Quantas e quão graves tribulações sofreram os apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens e todos quantos quiseram seguir as pisadas de Cristo! Odiaram suas almas neste mundo, para possuí-las eternamente no outro. Oh! Que vidas austeras e mortificadas levaram os Santos Padres no deserto! Que contínuas e graves tentações suportaram! Quantas vezes foram atormentados pelo inimigo! Quantas orações fervorosas ofereceram a Deus! Que rigorosas abstinências praticaram! Que zelo e fervor tiveram em seu adiantamento espiritual! Que guerra fizeram para subjugar os vícios! Com que pura e reta intenção buscaram a Deus! Durante o dia trabalhavam e passavam as noites em orações ainda que trabalhando não interrompessem um momento a oração mental.
3. Todo o tempo era empregado utilmente; toda hora lhes parecia breve convivida com Deus; e pela grande doçura das contemplações se esqueciam até da necessária refeição do corpo. Renunciavam a todas as riquezas, dignidades, honras, amigos e parentes; nada queriam do mundo; apenas tomavam o indispensável para a vida e só com pesar satisfaziam as exigências da natureza. Assim eram pobres nos bens terrenos, mas muito ricos de graças e virtudes. Exteriormente lhes faltava tudo; interiormente, porém, se deliciavam com graças e consolações divinas.
4. Ao mundo eram estranhos, mas íntimos e familiares amigos de Deus. A si mesmos tinham em conta de nada, e o mundo os desprezava; mas eram preciosos e queridos aos olhos de Deus. Mantinham-se na verdadeira humildade, viviam em singela obediência, andavam em caridade e paciência; assim cada dia faziam progresso na vida espiritual e mais a Deus agradavam. Esses foram dados por modelos a todos os religiosos, e mais nos devem estimular ao progresso espiritual, do que a multidão dos tíbios ao esmorecimento.
5. Oh! Quanto foi o fervor de todos os religiosos, nos primeiros tempos de seus santos institutos! Quanta piedade na oração! Que emulação nas virtudes! Que austera disciplina vigorava então! Que respeito e obediência aos preceitos do superior reluzia em todos! Os vestígios que deixaram ainda atestam que foram verdadeiramente varões santos e perfeitos os que em tão renhidos combates venceram o mundo. Hoje já se considera grande quem não é transgressor da regra e com paciência suporta o jugo que se impôs.
6. Ó tibieza e desleixo do nosso estado, que tão depressa declinamos do fervor primitivo, e já nos causa tédio o viver, por tanta negligência e frouxidão! Oxalá em ti não entorpeça de todo o desejo de progredir nas virtudes, já que tantos modelos viste de perfeição!
O desejo ardente pela verdadeira Sabedoria desvia para sempre nossas almas dessa cobiça dos mundanos, unicamente preocupados com os bens da terra. A oração perseverante nos livra do seu espírito de soberba, porque nos ajoelha continuamente diante de Deus, conscien- tes de nossa impotência para obter por nós mesmos o Bem supremo tão desejado. Por sua vez, a mortificação será nossa defesa mais segura contra essa febre de prazeres, tão disseminada em nossos dias.
Dediquemo-nos, pois, corajosamente a meditar, com nosso São Luís Maria de Montfort, sobre a importância da mortificação em nossa vida de batizados e sobre a extensão que ela deve ter. Que a Santa Vir- gem nos conceda, então, a abundância dessas alegrias espirituais que são sempre a herança e a recompensa dos corações verdadeiramente mortificados.
- A IMPORTÂNCIA DA MORTIFICAÇÃO
Ela é indispensável a quem deseja adquirir o espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo. “A Sabedoria, nos diz o Espírito Santo, não se encontra na terra dos que vivem em delícias (Jó 28, 13), que dão às suas paixões e aos seus sentidos tudo o que desejam; pois os que estão na carne não podem agradar a Deus, e a sabedoria da carne é inimiga de Deus.” (Rom 8, 7-8.)
“Todos os que pertencem a Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada, crucificaram a sua própria carne com os vícios e concupiscências (Gál 5, 24); trazem sempre em seu corpo a mortificação de Jesus (2Cor 4, 10), negam conti- nuamente a si mesmos, tomam sua cruz todos os dias (Lc 9, 23); e por fim, estão mortos e enterrados com Jesus Cristo (Rom 7, 4).
“Eis palavras do Espírito Santo, nos declara Montfort, que mostram de modo mais claro que o dia que para possuir a Sabedora encarnada, Jesus Cristo, é preciso praticar a mortificação, a renúncia ao espírito de gozação de vida daqueles que o mundo considera como seus. Não imagineis, prossegue ele, que essa Sabedoria, mais pura que os raios de sol, entre em uma alma e em um corpo sujos pelos pra- zeres dos sentidos. Não penseis que ela ofereça seu repouso, sua paz inefável, aos que amam as companhias e as vaidades do mundo. Não dou, diz ela, meu maná escondido senão aos que são vitoriosos do mundo e de si mesmos. (Apoc 2, 17.) Essa amável Soberana, embora por sua luz infinita conheça e distinga todas as coisas em um instante, anda à procura dos que são dignos dela (Sab 6, 17). Ela procura, porque o número deles é tão pequeno, que com dificuldade encontra alguns desligados do mundo o bastante, interiores e mortificados o bastante, para serem dignos dela, dignos de sua Pessoa e de seus tesouros e de sua aliança.” (Amor da Sabedoria Encarnada, n. 194-195.)
Ó meu Deus, como essas palavras, jorradas do coração de um santo, devem determinar minha conversão completa ao espírito de vosso divino Filho! Até o presente, o desejo da única e verdadeira Sabedoria, assim como a prece necessária para adquiri-la, levaram minha vontade a uma escolha definitiva; mas desejo e prece não son- daram o lado vulnerável de minha natureza, não me colocaram frente a frente à sua corrupção e às suas fraquezas. A mortificação me atinge no âmago do ser, ela me engaja em uma luta decisiva contra os ins- tintos e as paixões que o mundo tenta tornar seus cúmplices. Aceitar a luta, persegui-la generosamente, é vencer o mundo, é me tornar capaz de aspirar às alegrias da divina Sabedoria.
Recuarei agora? Tornarei inúteis meus precedentes esforços? Por que persistiria em cultivar em minha natureza, ferida pelo pecado original e enfraquecida por meus pecados pessoais, as brechas pelas quais penetra o espírito de gozação de vida do século? Minha própria segurança não me ordena fechar-lhe todo acesso?...
Para qualquer lado que me volte, a mesma alternativa se apre- senta sempre: ou o espírito do mundo, ou o espírito de Jesus Cristo... Posso seguir o caminho largo do prazer... Posso engajar-me também, seguindo meu divino Mestre, no caminho estreito do sacrifício. O melhor não é assumir, não é aceitar tudo o que acaba de me dizer São Luís Maria de Montfort, tal como o expressa à luz e com a força dos textos inspirados, sem tentar negligenciar o que quer que seja?
Ó Maria, modelo dos corações fortes, engajai e mantende meus passos no caminho que me indica vosso amor, o caminho da divina Sabedoria.
2. EXTENSÃO DA MORTIFICAÇÃO.
“A Sabedoria não pede, para se comunicar, uma mortificação pela metade e uma mortificação de alguns dias; mas uma mortificação universal e contínua, corajosa e discreta. Para ter a Sabedoria, isto é, para possuir Jesus Cristo com seus tesouros de graças e de virtudes, é preciso deixar realmente os bens do mundo, como fizeram os apóstolos, os discípulos, os primeiros cristãos, e como fazem os religiosos: é o meio mais rápido, o melhor, o mais seguro; ou, ao menos, é preciso desapegar seu coração dos bens, e possuí-los como sem os possuir, sem se apressar para tê-los, sem se inquietar para conservá-los, sem se queixar nem se impacientar quando se os perde: o que é muito difícil de executar.”
Muitos cristãos, contudo, conseguem se santificar permanecendo no mundo. Mas então “não se devem conformar aos modos exteriores dos mundanos, seja no vestuário, seja nos móveis, seja nas casas, seja nas refeições e nos outros usos e ações da vida. Nolite conformari huic saeculo. (Rom 12, 2.) Essa prática é mais necessária do que se pensa”. Ela põe um freio ao amor do bem-estar e das satisfações naturais.
“Não se deve nem crer nem seguir as falsas máximas do mundo, como já vimos em nossa meditação do primeiro dia. Não se deve pensar, falar, agir como os mundanos. Eles têm uma doutrina tão contrária à da Sabedoria encarnada quanto as trevas à luz e a morte à vida.
“Examinai bem seus sentimentos e suas palavras: eles pensam e falam mal de todas as maiores verdades. É verdade que não men- tem abertamente; mas disfarçam suas mentiras sob a aparência da verdade; não pensam que estão mentindo, mas mentem ainda assim. Em geral, não ensinam o pecado abertamente, mas tratam-no como virtude, ou honestidade, ou de coisa indiferente e de pouca impor- tância. É nessa sutileza, que o mundo aprendeu com o demônio para cobrir a feiúra do pecado e da mentira, que consiste essa malignidade da qual fala São João: Mundus totus in maligno positus est (1Jo 5, 19). Por toda parte o mundo é penetrado por essa malignidade, e agora mais do que nunca.” É a porta larga aberta a todos os prazeres proibidos.
“Por fim, se se permanece no século, é preciso, tanto quanto pos- sível, fugir das companhias dos homens, não somente das dos munda- nos, que são perniciosas ou perigosas, mas até mesmo as das pessoas devotas, quando são inúteis e fazem perder tempo.” As conversações se tornam, então, o alimento dessa curiosidade que desenvolve os gostos terrenos e prejudica grandemente a vida interior. (A.S.E., 197-200.)
Eis a mais fundamental mortificação cristã: nenhuma aliança, nenhum compromisso com o espírito do mundo, mesmo permane- cendo no mundo. “O ponto capital da vida cristã, escrevia o grande Pontífice Leão XIII, é não ceder à corrupção dos costumes do século, mas opor-lhe uma luta, uma resistência constante.”