Ensinar é um apostolado

Embora o fim imediato da educação seja a vida intelectual, o fim último da educação é criar condições para que a vida sobrenatural dos nossos alunos possa florescer. Queremos que os nossos filhos progridam no amor de Deus, queremos que se tornem santos. O professor católico tradicional deve estar totalmente comprometidos com a educação católica ao dar a seus alunos aquilo que contribuirá para formar todo o seu ser para a vida sobrenatural. Seu desejo deve ser a educação integral do aluno, para que ele seja submetido ao reinado de Jesus Cristo nas esferas espiritual, moral, intelectual e física.

A vida da graça, ou vida interior, é a grande realidade na qual tantos homens e mulheres não pensam porque nunca ninguém os impressionou com a sua importância. O Evangelho compara o dom da graça a um grande tesouro, a uma pérola preciosa; é de fato uma participação na vida íntima de Deus. É aqui que reside a responsabilidade do professor católico: ajudar os seus alunos a compreender a primazia da vida espiritual, apesar da atmosfera pagã do mundo moderno.

As crianças atribuem às coisas a mesma importância que as pessoas mais velhas com quem estão associadas ou a quem amam. Portanto o conhecimento da religião e o amor que os filhos têm por ela dependerá dos pais e dos professores. Não é só trabalho do padre! Deus pretende usar o professor católico como um instrumento para atrair almas a Ele. Quanto mais unidos estiver o  professor com Ele, mais fecunda será sua atividade.

A vocação do professor faz dele o sal do terra e a luz que ilumina do mundo. O professor católico deve ter um grande desejo de se tornarem santos. A sua missão como líder de almas deve ser um convite para sonhar alto. Ele deve isso a Deus. À Igreja. Deve a seus alunos. E suas famílias.

Qui non ardit non incendit… A fecundidade do apostolado do professor católcio será, assim, proporcional a sua santidade. Ensinar é realmente um apostolado. Nas palavras de Dom Chautard:

Não é verdade que muitas vezes, por falta de vida interior, não conseguimos produzir nas almas nada mais do que uma piedade superficial, sem ideais poderosos ou convicções fortes? Professores, será que não temos procurado mais o êxito das carreiras e o prestígio das obras, do que dar às almas sólida instrução religiosa? Não temos descurado a formação das vontades, para gravar nelas, em caracteres de rija têmpera, a imagem de Jesus Cristo? E essa mediocridade não resultará da banalidade da nossa vida interior?

Se o sacerdote [e por extensão, o professor] for santo, os alunos serão fervorosos; se o professor for fervoroso, os alunos serão piedosos; se o professor for piedoso, os alunos serão pelo menos decentes. Mas se o professor for apenas decente, os alunos serão ímpios. A geração espiritual é sempre um grau menos intensa em sua vida que aqueles que geram a Cristo.

O professor sem vida interior julga ter cumprido o seu dever, cingindo-se exclusivamente ao programa letivo. Se tivesse vida interior, uma frase que lhe escapasse dos lábios, uma comoção que se lhe espelhasse no rosto, um gesto expressivo, a sua maneira de fazer o sinal da cruz, de dizer uma oração, antes ou depois da aula —mesmo que seja de matemática— poderiam ser mais eficazes do que um sermão inteiro. O cristianismo propagou-se menos pelos sermões e polêmicas, do que pelo espetáculo dos costumes cristãos, tão opostos ao egoísmo, à injustiça e à corrupção dos pagãos.

Como seria irresistível o apostolado dos católicos sobre os pagãos modernos, se possuíssem o esplendor de vida cristã, e que afinal mais não é do que a fidelidade ao Evangelho! A irradiação exterior de uma alma unida a Deus é extraordinariamente poderosa: […] “Que vejam as vossas obras, e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus” (Mt 5, 16), dizia Nosso Senhor. São Paulo recomenda, frequentemente, o bom exemplo aos seus dois discípulos Tito e Timóteo: “E tu serve de exemplo em tudo pelo teu bom comportamento” ( Tt 2, 7). “Sê o exemplo dos fiéis: Na palavra, no procedimento, na caridade, na fé e na castidade” (1 Tm 4, 12). Ele próprio exclama: “O que vistes em mim é o que deveis praticar” (Fil 4, 9): “Sede imitadores meus, como eu o sou de Cristo” (1 Cor 11, 1) […]

Um homem perfeito e santo —diz Santa Teresa— faz maior bem às almas do que grande número de outros, que apenas sejam bem instruídos e prendados”. “Se o espírito não for regulado por uma conduta verdadeiramente cristã e santa —declara São Pio X— difícil será levar os outros à prática do bem”. E acrescenta: “Aqueles que são chamados às obras católicas, devem ser homens de vida tão ilibada que a todos sirvam de exemplo eficaz”.

Finaliza São Gregório: “O apóstolo deve ter nas mãos a tocha do bom exemplo, mais do que bonitas palavras nos lábios e, antes de pregar a virtude, deve praticá-la.

A santidade é difícil, mas o importante é perceber que Deus realmente chama cada verdadeiro professor católico para alcança-la e que neste chamado está implícita a promessa da ajuda da graça divina. Portanto, deve o professor rezar por humildade e confiança. A santidade não consiste em fazer coisas extraordinárias, mas em cumprir a vontade de Deus com o maior amor possível. A santidade não é uma questão de “cabeças inclinadas” e “comportamento devoto”. É amar a Deus através dos nossos sofrimentos, servindo-O fielmente em meio às provações.

Como afirma São João da Cruz, uma pequena parte do amor puro é mais preciosa aos olhos de Deus e mais proveitosa para a Igreja na sua aparente inatividade, do que todas as outras obras tomadas em conjunto.

E como alcançar este puro amor? Como amar a Deus através dos sofrimentos e cansaços da vida de professor? Como alguém pode ser Marta e Maria ao mesmo tempo? Aqui estão alguns pequenos conselhos:

  • A oração frequente — Fora do horário propriamente dito de atividade, reservar alguns minutos para visitar a capela e entregar-se à oração;
  • O recolhimento habitual — O silêncio é necessário, inclusive fisicamente. Ainda mais espiritualmente – para encontrar Deus. Lembrar-se do exemplo de Nosso Senhor (30 anos de vida oculta antes de sua vida de ensino) e de Nossa Senhora (apenas sete palavras no Evangelho);
  • Meditação — Através da oração mental, a alma recupera sua firmeza e equilíbrio, distingue o acessório do essencial, vê todas as coisas na perspectiva de Deus. Deve o professor cultivá-la e realizá-la frequentemente;
  • Confiança — Ter confiança na graça de Deus e não apenas em nos próprios esforços;
  • Estudo — Como amantes do Verbo, os professores católicos devem também dedicar-se profundamente ao estudo;
  • Ver em cada aluno uma alma a salvar — São os alunos membros do corpo místico de Cristo. Em cada uma deles vive Nosso Senhor. “Enquanto você fez isso por um destes, o menor dos meus irmãos, você fez isso por mim.“;
  • Às armas — Dispor dos meios para desenvolver a própria vida interior através da Missa, do Ofício Divino, da Recitação do Rosário, da Leitura Espiritual, da Confissão, dos Retiros, etc;
  • Intercessão — Deve, por fim, o professor rezar por nossos alunos.

Assim disse um grande professor sobre a vida espiritual:

Mesmo aqueles de nós que estão na vida ativa também somos chamados ao dízimo da vida contemplativa. O monge e a freira estritamente enclausurados levam essa vida no mais alto grau, mas cada um de nós, em sua posição, deve pagar o que lhe é devido.

Existem três graus de oração: O primeiro, dos religiosos consagrados, é total. Eles rezam sempre, de acordo com o conselho de nosso Senhor. Toda a sua vida é o Ofício Divino, a Missa, a leitura espiritual, a oração mental, as devoções e o trabalho mínimo necessário para manter a saúde física. Rezam oito horas, dormem oito horas e dividem as outras oito entre trabalho físico, recreação e demais ocupações. O segundo grau é a vida mista nas ordens ativas e no sacerdócio secular, que ainda é principalmente dedicado à oração. Estes oram quatro horas, dormem oito, trabalham oito – pregando, ensinando, cuidando dos doentes e pobres – e têm quatro horas para recreação e outras atividades. O terceiro grau é para aqueles que estão casados (ou solteiros) e que oferecem o dízimo do seu tempo para oração – cerca de duas horas e meia por dia – sendo oito horas para trabalhar, oito para dormir e as restantes cinco e meia -metade para outras atividades e lazer com a família.

A oração é o fim próximo de todo trabalho imediato; é o solo humilde, o húmus da nossa humanidade comum, irrigado por lágrimas de contrição. Obras sem oração estão mortas. Oração e trabalho não são a mesma coisa – não se pode usar um como substituto do outro, na heresia das boas obras, por um lado, ou no Quietismo, por outro. O trabalho precisa de oração assim como o couro seco e rachado precisa de óleo, a oração preenche os poros do trabalho e o torna flexível, útil a Deus.

Reze o professor esta oração que compôs uma professora de nossa casa: Ó Virgem Admirável, fonte de mansidão e serenidade, nós vos amamos pela imensa luz em vossos olhos baixos; pela expressão pacífica em vosso rosto; pela beleza sobrenatural que brota da riqueza de vossa plenitude interior. Vós sois a Virgem do Eterno Invisível.  Durante nossos dias distraídos e ocupados, mantende nossas mentes focadas no Sagrado Coração de Vosso Divino Filho. Apesar das distrações mundanas que muitas vezes nos seduzem, inspirai em nós a sede de Deus.

Baseado em uma Conferência do Pe. Hervé de La Tour, SSPX, em 1984,
Tradução, expansão e grifos por um congregado mariano
da Congregação Mariana da Imaculada Conceição e Santo Afonso, Manaus/AM

Artigo dedicado aos professores de nosso Colégio Santo Afonso, e a todos os professores católicos que o lerem
no dia de Santa Teresa D’Ávila, patrona dos professores

 

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