A Entronização do Sagrado Coração

Quem seria capaz de não retribuir este amor? Que redimido não amaria seu Redentor,
e buscaria Nesse Coração um eterno lugar de descanso?  (Hino
 Cor Arca Legem)

Quando Nosso Senhor Jesus Cristo se fez Homem para realizar a Obra da Redenção, Ele não fundou primeiramente a sua Igreja, mas sim a humilde casa de Nazaré. O caminho que escolheu não foi primeiramente constituir São Pedro como o Chefe Visível da Igreja, mas, antes, constituir um pobre carpinteiro como chefe de sua família e de seu lar. Dos seus trinta e três anos na Terra, trinta foram passados na pequena casa de Nazaré. Seu primeiro milagre público aconteceu em uma casa na Galiléia, na ocasião de uma festa de casamento. Muitas vezes em sua vida, vemo-Lo nas casas de Zaqueu, de Lázaro,  e mesmo dos Fariseus, demonstrando seu amor por aqueles que o desprezavam. É também em uma casa, a de Simão, que o Bom Jesus perdoa a S. Maria Madalena e nos dá uma das maiores provas de seu misericordioso amor.

Se o Divino Redentor nos mostrou tanto amor pela casa e pela família, é porque o lar é o lugar em que as graças e bençãos de seu Sagrado Coração são mais necessários que em qualquer outro lugar. É em casa que se dão os rudimentos da fé, as exortações e a proteção das almas dos filhos; é em casa que se consolam as dores e se preparam os combate; é em casa, necessariamente, que se inicia o Reinado  do Sagrado Coração. Diz Santa Margarida Maria Alacoque em 1685 à Madre Greyfié, em Semur:

Ele me prometeu que aqueles que se devotarem e consagrarem a Ele jamais se perderão. Já que Seu Coração é a fonte de todas as bençãos, mostrar-las-á em abundância nos lares em que Sua Imagem for visivelmente honrada. O Sagrado Coração reconciliará as famílias machucadas, protegerá e socorrerá aqueles que recorrem a Ele em suas necessidades e os que se aproximam dEle com confiança

É verdade que muitas famílias honram o Sagrado Coração venerando sua imagem, mas essa veneração é muitas vezes incompleta, por ser feita em privado e não em um lugar público da casa, atendendo – ainda que despercebidamente – ao espírito do século: A exclusão do Senhor e de seus ensinamentos da vida pública e social dos homens. Contra esse espírito mundano, diz-nos o papa Pio XII:

Uma coisa, porém, desejamos Nós de maneira especial: que as famílias cristãs se consagrem ao Coração de Jesus, e isso de forma tal que, ao ser exposta a sua imagem no lugar mais honroso da casa, como que num tron’O, Jesus Cristo Nosso Senhor reine de modo visível nos lares católicos! Esta consagração não é, absolutamente, uma cerimônia vã e vazia de sentido. Bem ao contrário, impõe a todos em geral e a cada um em particular a obrigação de conformar a sua vida aos preceitos cristãos : que amem com amor ardente a Jesus na Sagrada Eucaristia; que se aproximem o mais frequentemente que lhes seja possível, do celestial Banquete, e cuidem, já servindo-se das obras de uma santa penitência, já por meio de súplicas dirigidas a Deus, de trabalhar não apenas pela salvação própria, mas também pela dos demais.

Que o Divino Redentor volte outra vez a reinar sobre a sociedade e no lar, mediante a sua lei e seu divino amor. Então, sem dúvida alguma, serão extirpados aqueles vícios que vêm a ser como que as fontes da infelicidade e da miséria dos homens. Então, também, as discórdias desaparecerão; a justiça – aquela que na realidade é verdadeira justiça – consolidará os alicerces da sociedade humana, e a liberdade autêntica, aquela que adquiriu Jesus para nós, fará honrosa a dignidade dos indivíduos, e os converterá em irmãos. 1

Esta cerimônia de se consagrar e honrar publicamente a imagem do Sagrado Coração no lares é conhecida por Entronização do Sagrado Coração. É a resposta de nossas famílias àqueles que antes gritaram: “Não queremos que Ele reine sobre nós!” (Lc 19, 14) Quando, porém, uma família entroniza o Sagrado Coração, diz, ao contrário: “Ó Divino Jesus, reinai sobre nossa família! Adoramo-vos como nosso Rei, ocupai para sempre o primeiro lugar em nossos corações e em nossa casa! Que venha a nós o vosso reino! Vós deveis reinar, e nesta casa vós reinareis!“.

A entronização é, portanto, o reconhecimento oficial e social da realeza do Coração de Jesus em uma família cristã. E esse reconhecimento tem uma forma sensível e permanente com a instalação solene de uma imagem do Sagrado Coração no lugar de honra da casa e com o ato de consagração do lar. Nela, é feito como que um contrato: O chefe da família, tomando a imagem do Salvador em suas mãos, a coloca no lugar de destaque da casa. Nesse gesto, transfere seu poder e sujeita a si e aos seus ao Coração que tanto amou os homens. E este Divino Coração, em resposta, enche a família das graças prometidas. A Entronização é a busca para efetivamente estabelecer o Reinado do Sagrado Coração na família, e por meio dela, na Sociedade.

Mais do que isso, a Entronização é nossa resposta Àquele para quem não havia lugar em Belém (Lc 2, 7). A entronização é Jesus Cristo morando em casa, não como um hóspede distante, mas como membro e chefe da família, compartilhando as alegrias, as tristezas, as dificuldades, partilhando cada instante e auxiliando com sua graça cada passo da família. Entronizar a Imagem do Sagrado Coração em casa é trazer o Bom Pastor à procura das ovelhas perdidas, o Verdadeiro Médico em busca dos doentes, o Pai amoroso a abraçar e perdoar o Filho Pródigo.

Tão bela e necessária é a entronização que Bento XV disse ao Pe. Mateo, o grande apóstolo da Entronização do Sagrado Coração que nada é mais adequado para as necessidades de nosso tempo.

 

Como realizar a entronização

A entronização deve ser realizada na presença de um sacerdote. Deve iniciar com a benção da casa, se ainda não foi feita, e a benção da imagem do Sagrado Coração. Após a benção da imagem, o chefe da família toma a imagem em suas mãos e a coloca em seu lugar de honra, o quanto possível ornada com flores e velas. Após ser colocada a imagem, rezam todos o Credo, o sacerdote faz, então, uma pequena prédica, explicando o significado da cerimônia, comentando sobre a vida de virtude a que nos convida o Sagrado Coração, bem como as bençãos e promessas anexas a esta devoção.

Após esta breve prédica do sacerdote, de joelhos a família recita o ato de consagração da família ao Sagrado Coração. Este ato de consagração deve ser preferencialmente o de São Pio X:

Ó Sagrado Coração de Jesus, Que fizestes saber a Santa Margarida Maria o Vosso ardente desejo de reinar sobre as famílias cristãs, olhai para nós, aqui reunidos neste dia para proclamar o Vosso absoluto domínio sobre o nosso lar.

De agora em diante nos propomos, pois, levar uma vida semelhante à Vossa, de modo que entre nós floresçam as virtudes pelas quais Vós prometestes a Paz na terra e, para isso, nós queremos afastar do meio de nós o espírito mundano que Vós tanto aborreceis.

Reinai sobre o nosso entendimento pela simplicidade da nossa Fé. Reinai sobre os nossos corações, por um ardente amor por Vós; e que a chama deste amor se conserve sempre viva nos nossos corações, pela frequente recepção da Divina Eucaristia.

Dignai-Vos, ó Divino Coração, presidir aos nossos encontros familiares, abençoar os nossos empreendimentos, tanto espirituais como temporais, afastar todas as preocupações e cuidados, santificar as nossas alegrias e suavizar as nossas penas. E se algum de nós tiver, alguma vez, a desgraça de ofender o Vosso Sacratíssimo Coração, lembrai-lhe a grandeza da Vossa Bondade e Misericórdia para com o pecador arrependido.

E, por fim, quando soar a hora da separação e a morte mergulhar em luto o nosso lar, que, nessa hora, todos e cada um de nós se encontre resignado com os Vossos eternos desígnios, e procure a consolação no pensamento de que um dia voltaremos a encontrar-nos no Céu, onde cantaremos os louvores e as bênçãos do Vosso Sagrado Coração por toda a Eternidade.

Que o Imaculado Coração de Maria e o glorioso Patriarca S. José Vos apresentem esta nossa Consagração, e dela nos recordem todos os dias da nossa vida.

Glória e Louvor ao Divino Coração de Jesus, nosso Rei e nosso Pai.2

Reza-se, então, pelos membros ausentes e falecidos, então segue uma oração de ação de graças recitada de joelhos por toda a família. 3 e então o sacerdote dá a sua benção. A partir daquele momento, é o Sagrado Coração o Senhor da Casa, que a família busque viver de acordo

 

Como viver a entronização

Para viver bem a entronização, o mais importante é compreendê-la bem: Cristo como Senhor da casa, como chefe do lar, como membro da família, compartilhando cada momento e auxiliando com as abundantes graças do seu Divino Coração cada passo da família.

Assim, em primeiro lugar se deve viver de acordo com o hóspede. Ao recebermos uma pessoa importante em casa, tomamos maior atenção em como vivemos e nos comportamos em casa. Assim também deve ser com a família que recebe Nosso Senhor como membro da família. Que não haja mais espaço para o pecado, para o ócio, para as contendas, para o mundanismo, para a impureza e para a impiedade.

Mais do que isso, deve a família continuamente expressar seu amor ao Divino Hóspede, rezando sempre diante de sua imagem, honrando-a com flores, renovando a consagração em datas especiais, como aniversário de casamento, batismos, primeira comunhão, aniversário de membros, festas, etc.

 

Cor Jesu, Adveniat Regnum Tuum! Adveniat per Mariam!

  1. Carta do Papa Pio XII ao Padre Mateo Crawley na ocasião de 50 anos de sua ordenação sacerdotal, em 11 de junho de 1948
  2. Esta fórmula, aprovada por S. Pio X em 19 de Maio de 1908, deve ser usada como tal – sem alteração, portanto – para obter as indulgências. O Ato de Consagração é recitado de joelhos, tanto pela família como pelo sacerdote; na renovação do ato, se não estiver presente o sacerdote, o chefe de família dirigirá a cerimónia.
  3. Pode ser esta: Glória a Vós, Ó Sagrado Coração de Jesus, pelas graças infinitas que derramastes como um privilégio sobre os membros desta família. Fostes Vós que a escolhestes entre milhares de outras, como depositária do Vosso Amor e como um santuário de reparação onde o Vosso adorável Coração encontrará a consolação devida pela ingratidão dos Homens. E é tão grande a confusão – oh, Senhor Jesus! – dessa parte do rebanho dos Vossos fiéis em aceitar a honra que não merecemos de Vos ver a presidir à nossa família.

    Em silêncio Vos adoramos, cheios de alegria, por Vos termos sob o mesmo tecto partilhando as tarefas, os cuidados e as alegrias dos Vossos filhos inocentes. É verdade que não somos dignos de Vos receber na nossa humilde morada; mas a este respeito já Vós nos tranquilizastes, quando nos revelastes o Vosso Sacratíssimo Coração, ensinando-nos a buscar, na chaga do Vosso Santo Lado, a fonte de graça e vida inesgotáveis. E é neste espírito de amor e confiança que nos encomendamos a Vós – Vós que Sois a Vida imutável. Ficai connosco, Sacratíssimo Coração de Jesus, nós Vo-lo pedimos, num irresistível desejo de Vos amar e de Vos fazer amado.

    Que o nosso lar seja para Vós um porto de abrigo tão doce como o de Betânia, onde pudestes encontrar repouso junto dos Vossos amigos dedicados que, como Maria, escolheram a melhor parte na amorosa intimidade do Vosso Coração. Que este lar seja para Vós, ó Bem-Amado Salvador, um refúgio humilde mas hospitaleiro, durante o exílio que os Vossos inimigos Vos impõem. Vinde então, vinde, Senhor Jesus, pois aqui, como em Nazaré, encontrareis um terno amor pela Virgem Maria, Vossa doce Mãe – que Vós nos destes como Nossa Mãe. Vinde, pois, preencher com a Vossa doce presença os lugares vazios que a desventura e a morte gravaram no seio da nossa família.

    Ó Amigo fidelíssimo, se estivésseis aqui no meio dos Vossos padecimentos, as nossas lágrimas teriam sido menos amargas: o reconfortante bálsamo da Paz teria então suavizado aquelas Vossas Chagas que permanecem escondidas dos homens e que só Vós conhecestes. Vinde, pois talvez já agora esteja próximo de nós o crepúsculo da tribulação e o declínio dos dias fugazes da nossa juventude e das nossas ilusões. Ficai connosco, Senhor, pois já é tarde e há um mundo de perversão a querer envolver-nos na escuridão das suas contradições, a nós que queremos seguir-Vos, pois só Vós sois o Caminho, a Verdade e a Vida. Repeti para nós aquelas palavras que outrora pronunciastes: “Hoje tenho de ficar nesta casa” (S. Luc. 19:5).

    Sim, Meu Senhor, estabelecei connosco a Vossa morada, para podermos viver no Vosso Amor e na Vossa presença, nós que Vos proclamamos Nosso Rei sem desejar nenhum outro. Que o Vosso Coração triunfante, ó Jesus, seja para sempre amado, bendito, e glorificado nesta casa. Venha a nós o Vosso Reino! Amen!
    Sagrado Coração de Jesus, venha a nós o Vosso Reino! (repete-se três vezes) Imaculado Coração de Maria, rogai por nós! S. José, rogai por nós! S. Pio X, rogai por nós! Santa Margarida Maria Alacoque, rogai por nós! S. Cláudio de La Colombière, rogai por nós! Viva o Sagrado Coração de Jesus, pelos séculos dos séculos. Amen.

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