Meditação

A meditação é o alimento indispensável da vida espiritual. As verdades eternas não podem ser percebidas pelos olhos do corpo, mas, pela meditação, tornam-se  visíveis aos olhos da alma, por isso são tão recomendadas em nossas regras.

 

 

 

Preparação remota

Consiste no afastamento dos obstáculos à meditação, que se reduzem principalmente a três: A sensualidade, o orgulho e a dissipação, e a busca pelas três virtudes opostas: a mortificação, a humildade e o recolhimento.

  1. Lembrar-se da hora de levantar e recordar, brevemente, a meditação que se há de fazer;
  2. Ao despertar, pensar logo na meditação;
  3. Antes da meditação, mortificar os sentidos e entreter-se em considerações acomodadas à matéria que se há de meditar.

 

Preparação próxima

Consiste no momento imediatamente anterior à meditação e que a prepara, é divida em três partes:

 

I. O planejamento da matéria da meditação;

O planejamento da matéria da meditação consiste em:

1. Determinar uma Verdade da Fé, ou mistério ou virtude da Vida de Nosso Senhor, Nossa Senhora ou algum santo a meditar;
2. Determinar a ordem a ser seguida na consideração desse tema;
3. Pensar no fruto (resolução) que se pretende colher;
4. Entrar na oração com espírito sossegado;

 

II. Os atos preparatórios, ou vestíbulos;

1. De pé, fazer o sinal da cruz com água benta e, reconhecendo-se na presença de Deus fazer um ato de adoração

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2. De joelhos, rezar um ato de humildade

Meu Deus, nesta hora eu deveria estar no inferno por causa de meus pecados.
De todo coração me arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3. Fazer a oração preparatória

Deus e Senhor meu, eu creio firmemente que estais aqui presente.  Adoro- vos, Deus meu, com toda a atenção e afeto de meu coração
e vos peço humildemente o perdão de todos os meus pecados por vos ter ofendido,  ó Bondade Infinita.

Ofereço-vos, meu Senhor e meu Pai,  pelas mãos de Maria Santíssima, esta meditação,
e confio que me concedereis as graças de que necessito para fazê-la bem

Com esse fim, recorro a Vós, Virgem Santíssima, minha Mãe, anjos e santos, para que intercedais por mim
e me alcanceis aquilo que necessito para  fazer com fruto esta meditação. Amém.

 

III. Os preâmbulos, ou prelúdios

1. Composição de Lugar

Consiste na reprodução fiel da cena que se vai meditar. Estimula-se a inteligência para compor a cena da meditação. Isto se faz através da consideração dos detalhes, expressões, das palavras da cena;

2. Graça a pedir

Com base na meditação proposta, pede-se a Deus a graça desejada naquela meditação. Não uma graça geral, mas uma específica e singular que deve ser a meta e o alvo para o qual tende toda a meditação

3. Recordação do tema

Quando a meditação versa sobre um fato histórico, procede-se outro preâmbulo para trazer vivamente à mente os fatos próximos e concentrar a atenção.

 

Corpo da Meditação

O corpo da meditação, a parte mais importante, consiste no exercício da memória, do entendimento e da vontade.

1. Memória

Recordar o ponto que vai ser meditado, não de modo abstrato como no preâmbulo, mas de uma maneira estruturada.

 

2. Entendimento

Consiste em exercitar a inteligência, “ruminar” o tema da meditação à procura das verdades “escondidas”,  buscando chegar em uma observação ou conclusão sobre o tema, sempre com foco na graça a pedir. Reflete-se:

a. As circunstâncias

Quem? o que? onde? por que? como? quando? com que meios?

b. Os motivos

Que conclusões práticas tirar? Por que? Essa observação que fiz é honesta? Útil? Agradável? Necessária? Como observei isso? O que fazer com essa observação?

 

3. A remoção das dificuldades

Orgulho, soberba, cobiça, sensualidade

 

4. O exame de nosso aproveitamento

Que devo considerar sobre isso? Como aplicar em minha vida? Tenho correspondido a isso? Tenho praticado isso em minha vida? O que fiz, o que faço, o que farei por Cristo? Em que obstáculos caio e quais devo evitar? Que meios devo empregar para esse fim?

 

5. Vontade

Os atos da vontade se resumem a dois:

a. Afetos
Excitar, mais com o coração que com os lábios, atos de fé, de esperança, de adoração, de louvor, de arrependimento, de amor, de súplica, etc, segundo o estado da alma, demorando-se em cada afeto até saciar a alma dele (sem ir de um a outro sem definição);

b.Propósitos
Excitar resoluções reais de emenda, dirigidas ao triunfo sobre si mesmo, reforma de vida, desprendimento das criaturas, etc. Devem ser particulares, acomodadas ao estado presente, sólidas, humildes, realistas e acompanhadas da súplica do auxílio divino

 

Colóquio

A meditação termina com um colóquio que se faz a Deus ou a Nossa Senhora, é uma conversa expontânea, de um servo para com seu senhor, de um filho para com seu pai, pedindo-lhe alguma graça, ou perdão por alguma falta, comunicando os seus problemas e pedindo-lhe conselho. Termina-se com um ato de agradecimento, o oferecimento das resoluções tomadas e uma súplica

Senhor, eu Vos agradeço as luzes e os afetos que me destes nesta meditação e Vos peço perdão das faltas nela cometidas. Ofereço-vos as resoluções que com a Vossa graça acabo de tomar, e resolvido a executá-las, pelos merecimentos de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima, peço-vos a força de pô-las fielmente em prática

 

Exame da Meditação

Após a meditação, faz-se o exame, quer sentado, quer andando. Consiste em duas partes: Exame negativo, que examina os defeitos, e exame positivo, que examina e dá graças a Deus pelas luzes, afetos e propósitos.

  1. Como preparei os pontos?
  2. Antes de dormir pensei neles e ao despertar ocupei neles o pensamento?
  3. Levei bem considerado o fruto que havia de tirar?
  4. Como fiz a oração preparatória e os prelúdios?
  5. Como exercitei a memória? O entendimento?
  6. Tirei conclusão prática? Qual? Em que motivos se apoia?
  7. Como exercitei a vontade?Fiz propósitos? Quais? Que meios escolhi para os cumprir?
  8. Empreguei mais tempo no discorrer do que nos afetos?
  9. Passei dum ponto a outro, achando bastante matéria no antecedente?
  10. Fiz o colóquio?
  11. Falei sempre a Deus com reverência e veneração?
  12. Senti-me frouxo? Porque?
  13. Tive sono por minha culpa?
  14. Tive distrações? Porque? Afastei-as?
  15. No tempo da frouxidão e secura procurei ajudar-me com atos de humildade, orações e jaculatórias?
  16. Procurei estar tranquilo? Recolhido interior e exteriormente?
  17. Se tirei pouco fruto por que foi?

Se houve falta, se pedirá perdão e se proporá emenda. Se não houve falta alguma, se darão graças a Deus por isso.

 

Dicas Práticas

1. Sempre fazer a meditação com uma agenda, anotando os preâmbulos, as luzes, os afetos, as resoluções, etc;
2. Se houver distração durante a meditação, voltar à composição de lugar e para a memória para afastá-las a meditação;
3. Após a meditação, imprimir na memória alguns pensamentos para lembrar-se durante o dia, por em prática as resoluções logo que possível;
4. Manter o silêncio e o recolhimento tanto quanto possível após a meditação, sem isso, os afetos excitados na meditação logo se perdem;
5. O exame, embora não seja obrigatório, é utilíssimo para identificar as dificuldades, corrigir as faltas e melhorar sempre

 


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