O primeiro ponto a se considerar sobre a vida eterna é que o homem se une a Deus, porque o mesmo Deus é o prêmio e o fim de todos os nossos trabalhos. Logo, esta união consiste na visão perfeita; em segundo lugar, resulta em um amor muito fervoroso, posto que quando melhor se conhece uma coisa, tanto mais perfeitamente se ama. Em terceiro lugar, vem o supremo louvor. Por isso disse Santo Agostinho: “Veremos, amaremos e louvaremos.” E o profeta Isaías: Gozo e alegria se acharão nela, ação de graças e voz de louvor (51, 3).
Nela existe plena e perfeita saciedade do desejo humano; porque ali terá o bem-aventurado muito mais do que pode desejar e esperar. A razão disto é que ninguém pode nesta vida satisfazer seu desejo, nem jamais coisa alguma criada sacia completamente o desejo do homem. Só Deus pode saciar e o excede infinitamente; daí resulta que só se encontra fartura em Deus. Por isso disse Santo Agostinho: “Tu, ó Deus, nos criou para Ti, e nosso coração está inquieto até que descanse em Ti”.
E porque os santos no céu possuem perfeitamente Deus, é evidente que será saciado o desejo deles e que ainda será excedida sua Glória. Por essa razão disse Cristo: Entra no gozo do teu Senhor (Mt XXV, 21). […] Serei saciado, quando aparecer a Tua Glória (Salmos XVI, 15). É pleno de bens teu desejo (Salmos CII, 5).
Tudo o que é deleitável está ali e de maneira superabundante. Se almejamos os deleites, no céu haverá sumo e perfeitíssimo deleite, pois lá que se gozará do sumo bem, que é Deus: Então no Todo poderoso abundarás de delícias (Jó, XXII, 26). Deleites em tua destra para sempre (Salmos XV, 11).
Assim mesmo, se se almejam honras, ali haverá toda honra. Os homens, se são leigos, desejam preferencialmente ser reis, e se são clérigos, desejam ser bispos. No céu haverá ambas as coisas: foi feito para nosso Deus reis e sacerdotes (Apoc V, 10).
Se se deseja a ciência, ali será perfeitíssima; pois conheceremos toda a natureza das coisas e toda a verdade, e quando queremos saber e ter algo, saberemos e teremos na vida eterna: Me vieram todos os bens juntamente com ela (Sab. VII, 11). Aos justos lhes concederá seu desejo (Salmos X, 24).
Ali há perfeita segurança. Neste mundo não existe segurança plena, pois quanto mais coisas alguém tem, e quanto maior é sua família, tanto mais temerá. Porém, na vida eterna não há nenhuma tristeza, nenhum trabalho, nenhum temor: Se sentará meu povo na formosura da paz (Is. XXXII, 18). Gozará de abundância, removido o medo dos males (Prov. I, 33).
Há ali, enfim, agradável companhia de todos os bons e esta companhia é muito deliciosa. Assim, pois, os santos tem todos os bens e cada qual ama ao outro como a si mesmo. Por este motivo, gozarão do bem do outro como sendo seu; pois ocorre que a alegria e o gozo de cada um se acrescentam mais, quanto mais os bens são desfrutados entre si: Todos os que moram em Ti vivem em alegria (Salmos LXXXVI, 7).
Traduzido e adaptado por um congregado mariano
Santo Tomás de Aquino – Meditaciones entresacadas de sus obras, Fr. D. Mézard, O. P.
Meditação de 19 de novembro, p. 735, “La Vida Eterna”