O Congregado Mariano e o Carnaval
Nosso carnaval é tristemente famoso em todo o mundo pelas imoralidades a que dá ocasião; e tudo indica que se vá tornando pior. A participação dos fiéis nesses folguedos imorais não só constitui perigo para suas almas, mas também grave escândalo para o próximo.
Em vista das restrições externas e internas que a Quaresma nos impõe, os mundanos sentem-se obrigados a exceder toda moderação e a desfrutar em poucos dias os prazeres que deveriam negar a si mesmos durante as sete semanas seguintes. É uma estranha preparação para o tempo da penitência que nos indispõe física e moralmente para a própria penitência. É uma preparação que priva a abnegação quaresmal do espírito que deveríamos torná-la uma verdadeira reparação pelos nossos próprios pecados e pelos pecados dos outros. Isso prova claramente que Nosso Senhor falou verdadeiramente quando queixava-se da frieza e da indiferença com que os homens olham para Seu amor abnegado na Sagrada Eucaristia.
Nestes tristes dias, diz Santo Afonso, os cristãos, e quiçá entre eles alguns dos mais favorecidos, trairão, como Judas, o seu divino Mestre e o entregarão nas mãos do demônio. Eles o trairão, já não às ocultas, senão nas praças e vias públicas, fazendo ostentação de sua traição! Eles o trairão, não por trinta dinheiros, mas por coisas mais vis ainda: pela satisfação de uma paixão, por um torpe prazer, por um divertimento momentâneo!
Contraditoriamente, um famoso bispo brasileiro disse um dia: “Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de amor por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval.” Vejam só! O pobre prelado não sabia dizer se causava ofensa maior a Deus a posição dos santos – que, porém, em nada se encaixava na descrição retórica e maledicente de “falta de amor” – ou as orgias e blasfêmias do carnaval cometidos não “aqui e ali”, mas universalmente.
Concluía o bispo: “Brinque, meu povo querido!”. Assim, defendendo este “tempo diabólico” (nas palavras de Santa Catarina de Sena), o prelado convidava o povo ao pecado.
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São Carlos Borromeu, a fim de expiar os excessos que tão comumente prevalecem durante a época do Carnaval, adotou a prática de expor o Santíssimo Sacramento à adoração solene do fiéis durante os três dias que antecedem a Quarta-Feira de Cinzas. Foi este prenúncio da prática do retiro de carnaval que, em resposta à imoralidade do carnaval, foi promovido pela Congregação Mariana a partir de 1927. Contando inicialmente com apenas vinte retirantes no primeiro ano, setenta no segundo, chegou a mais de vinte e um mil retirantes em 1941. E tão belamente foi sintetizado nesta palavra de ordem do Cardeal Dom Leme: à algazarra louca do carnaval pagão respondem os Marianos com o silêncio dos Retiros fechados!
Na linha do conselho dos santos, na Assembléia Magna do Dia Mundial do Congregado Mariano em 1940, no Paraná, determinou-se como Conclusão Prática a todos os congregados:
1. GUERRA AO CARNAVAL, PROIBIDO E CONDENADO:
a) Nenhum Congregado Mariano pode tomar parte no carnaval.
b) Deve ser punido com a eliminação todo o Congregado que-se deixar arrastar pela “algazarra louca” do carnaval descomposto e pagão, pelo mau exemplo que dá, pela sua desobediência e porque mostra não ter absolutamente nem a sombra do espírito da Congregação Mariana
Ora, já que outros católicos levam a sua inconsciência ao ponto de tolerar os excessos de uma festa como o carnaval e até mesmo de tomar parte nela e nela se comprazer, — que os Marianos proclamem que o reprovam severamente e ensinem aos tíbios o caminho da santificação.
Precisamos do bom fermento. Congregados de brio e valor, militantes intrépidos e destemorosos da Virgem Imaculada, almas grandes, corações sadios e magnáminos, quais lírios de pureza a se desfolharem aos pés da Mãe Imaculada e do seu divino Filho, enquanto os loucos do mundo se atolam no lodaçal dos vícios e se asfixiam na atmosfera malsã e pestilenta dos cassinos e orgias carnavalescas.
Que à algazarra louca do carnaval pagão, nunca esqueçamos que é nosso dever responder com o silêncio de nossa oração de reparação.
Citações retiradas do Anuário das Federações das CCMM do Paraná, de 1940.
Texto por um congregado da Congregação Mariana da Imaculada Conceição
e Santo Afonso de Ligório, Manaus/AM.