O Itinerário da Semana Santa na Liturgia Romana Tradicional – Terça-feira Santa

Para acompanhar os artigos anteriores desta série:

II Domingo da Paixão ou de Ramos

Segunda-feira Santa

 

Estação: Igreja de Santa Priscila

Fontes da Liturgia: Introito, Gálatas, VI, 14 e Salmo LXVI, 2; Epístola, Jeremias, XI, 18-20; Gradual, Salmo XXXIV, 13 e 1; Evangelho, Paixão segundo S. Marcos, XIV-XV; Ofertório, Salmo CXXXIX, 5; Comunhão, Salmo LXVIII, 13-14.

A estação para a Terça-feira Santa é a Igreja de Santa Priscila. Esta Igreja, pela sua localização, remete aos nomes de Aquila e Priscila, dois cristãos a quem S. Paulo enviou saudações e cuja casa depois se tornou uma Igreja. No século terceiro, o Papa S. Eutíquio transferiu para lá as relíquias de uma santa romana virgem, como nome seria Priscila. Os fieis em Roma se reuniam ali de modo que pudessem receber os frutos da Paixão de Nosso Senhor. Desde o primeiro século da era cristã a fé já havia se espalhado por todo o mundo, como podem testemunhar os escritos de S. Paulo aos romanos.

Neste dia, Nosso Senhor foi novamente até o Templo, acompanhado por seus discípulos. Assim que tomou o caminho, a imagem da figueira seca, que havia amaldiçoado no dia anterior, proporcionava-Lhe um oportunidade de insistir na necessidade da fé. Os apóstolos se impressionam ao ver a figueira, ontem seca, hoje morta. No Templo, os chefes dos sacerdotes vieram até Ele questionando por qual autoridade ensinava. Em resposta, Nosso Senhor propôs a eles uma parábola, a dos lavradores maus. Ele também respondeu vários outros questionamentos e deu direcionamentos para a preparação da Páscoa. Na noite deste dia, Ele retornou à Betânia para Sua Mãe e seus fiéis amigos, passando pelo Monte das Oliveiras. É evidente que sua missão na terra está rapidamente indo para sua conclusão. Ele diz aos seus discípulos “Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem será traído para ser crucificado”.

No Introito da Missa, a Igreja, inspirando-se nos escritos de S. Paulo, nos ensina que devemos nos gloriar na Cruz de Cristo, instrumento de nossa salvação, fonte da vida e penhor de nossa ressurreição. Que através das virtudes vindas da Cruz, Deus pode nos iluminar, nos abençoar e ter compaixão de nós. O Gradual, nas palavras do salmista, contrasta a vida humilde de Nosso Senhor com a atitude orgulhosa de seus inimigos. No Ofertório é o Messias que, nas palavras do salmista, pede a assistência de Seu Pai Celestial contra seus perseguidores e na antífona de Comunhão, Ele se torna o objeto do escárnio de seus inimigos.

Introito

Nos autem gloriari oportet in cruce Domini nostri Jesu Christi: in quo est salus, vita et resurrectio nostra, per quem salvati, et liberati sumus. Deus misereatur nostri et benedicat nobis; illuminet vultum suum super nos, et misereatur nostri.
Quanto a nós, devemos gloriar-nos na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. N’Ele está toda a nossa salvação, vida e ressurreição. Por Ele fomos salvos e livres. Deus tenha piedade de nós e nos abençoe, faça resplandecer sobre nós a sua Face e se compadeça de nós.

 

Coleta

Omnipotens sempiterne Deus: da nobis ita Dominicae passionis sacramenta peragere; ut indulgentiam percipere mereamur. Per eundem D. N.
Ó Deus onipotente e eterno, concedei-nos celebrar os Mistérios da Paixão do Senhor, de tal sorte que mereçamos alcançar a remissão de nossos pecados. Pelo mesmo J. C.

 

Epístola (Jer. 11, 18-20)

Gradual (Salmo 34, 13, 1-2)

Ego autem, dum mihi molesti essent, induebam me cilicio, et humiliabam in jejunio animam meam: et oratio mea in sinu meo convertetur. Judica, Domine, nocentes me, expugna impugnantes me: apprehende arma et scutum, et exsurge in adjutorium mihi.
Eu, porém, quando me molestavam, me revestia com o cilício, humilhava com jejum a minha alma e curvando-me [a cabeça] sobre o peito, assim fazia a minha oração: Julgai, Senhor, aos que me fazem mal; vencei aqueles que me combatem. Tomai as armas e o escudo e erguei-Vos em meu auxílio.

 

Evangelho (Paixão segundo S. Marcos 14, 1-72, et 15, 1-46)

Na Epístola, o profeta Jeremias mais uma vez torna sua voz pesarosa ouvida: Colocando veneno na sua comida, seus inimigos tentaram levá-lo à morte, uma vez que aqueles que por ele foram repreendidos não podiam mais suportar a censura. Seu lamento é uma predição de como os inimigos de Nosso Senhor iriam tratá-Lo. Jesus Cristo, cujo Corpo e Sangue são alimentos de vida eterna, terá em breve sua imolação aceita como sacrifício à Justiça divina.

Na Missa, o relato da Paixão de Nosso Senhor segundo São Marcos é lida com os mesmos ritos do Domingo de Ramos, mas sem os ramos. É um Evangelho um pouco mais curto que o de S. Matheus, mas com detalhes que certamente foram descritos por uma testemunha ocular. Não se deve deixar de notar que S. Marcos foi discípulo de S. Pedro e escreveu seu Evangelho diante do príncipe dos Apóstolos. Uma vez mais somos urgidos a contemplar o mistério de um Deus que sofre e morre pela salvação da humanidade. A oração da Coleta pede que os sagrados aniversários da Paixão de Nosso Senhor possa nos conceder o perdão de Deus e nos reconciliar com Sua Justiça divina. A oração da Secreta nos intima a oferecer junto à Vítima Divina o tributo de nossos jejuns à Divina Majestade. A Pós-comunhão nos recorda que no Sangue do Cordeiro que foi imolado, temos o remédio para todas as nossas misérias. Na Oratio super Populum todos os cristãos são lembrados de que o Senhor na Sua misericórdia está pronto para nos livrar do homem velho em nós, como diz S. Paulo, e para tornar eficaz neles a sagrada renovação que somente Ele pode realizar.

Ofertório (Salmo 139, 5)

Custodi me, Domine, de manu peccatoris: et ab hominibus iniquis eripe me.
Preservai-me, Senhor, da mão do pecador, e livrai-me dos homens iníquos.

 

Secreta

Sacrificia nos, quaesumus, Domine, propensius ista restaurent: quae medicinalibus sunt instituta jejuniis. Per D. N.
Nós Vos suplicamos, Senhor, que estes sacrifícios por serem acompanhados de jejuns salutares, tanto mais eficazmente restaurem as nossas almas. Por N. S.

 

Comunhão (Salmo 68, 13-14)

Adversum me exercebantur, qui sedebant in porta: et in me psallebant, qui bibebant vinum: ego vero orationem meam ad te, Domine: tempus beneplaciti, Deus, in multitudine misericorde tuae.
Falam contra mim os que se sentam à porta e enquanto bebem vinho, entoam canções contra mim. Eu, porém, Senhor, Vos dirijo a minha oração. Ó Deus, o tempo da graça chegou agora, pela abundância de vossa misericórdia.

 

Pós-comunhão

Sanctificationibus tuis, omnipotens Deus: et vitia nostra curentur, et remedia nobis sempiterna proveniant. Per D. N.
Ó Deus onipotente, por vossos santos Mistérios sejamos purificados de nossos vícios e nos venham os remédios da salvação eterna. Por. N. S.

 

Oração

Tua nos misericordia, Deus, et ab omni subreptione vetustatis expurget, et capaces sanctae novitatis efficiat. Per D. N.
Vossa misericórdia, ó Deus, nos purifique de todas as tendências más do homem velho, e nos torne capazes de recebermos a Vida nova da santidade. Por N. S.

 

Tradução e adaptação por um congregado mariano.


Fontes: The Liturgy of the Roman Missal – Dom Leduc e Dom Baudot O.S.B

The Rites of the Holy Week – Pe. Frederick R. McManus

The Mass, A Study of the Roman Liturgy – Pe. Adrian Fortescue

The Liturgical Year – D. Prosper Gueranger

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