O Santo Sacrifício da Missa

Ab ortu solis usque ad occasum, in omni loco sacrificatur,
et offertur nomini meo oblatio munda
Desde o nascente ao poente, em todo o lugar se oferece ao meu nome
um sacrifício e uma oblação pura Ml 1, 11

Nós temos diante de nossos olhos o realizar destas palavras proféticas, que foram proferidas quinhentos anos antes diante de Nosso Senhor Jesus Cristo. Colocando-os na boca do profeta Malaquias, Deus anunciou ao mundo a futura instituição de um sacrifício universal e perpétuo – o sacrifício da Santa Missa, que é diariamente oferecido na Igreja Católica. O profeta chama-o de oferta pura, isto é, uma oferta santa e sacrifício perfeito, infinitamente agradável a Deus, e apropriado obter para nós todos os Seus favores.

I. Que é o Santo Sacrifício da Missa?

É o centro do culto cristão e de toda a nossa santa religião. O sacrifício da Missa, diz-nos São Francisco de Sales, é o sol dos exercícios piedosos, o coração da devoção, a medula do cristianismo.

Quando entramos em uma catedral gótica, observamos que todas as partes, todas as linhas, todas as molduras encaminham-nos a um único ponto central, o altar, que é como o fundamento, governando tudo, e em que tudo se agrega. Da mesma maneira, o sacrifício da Missa é o centro de toda a nossa religião. Tudo passa pelas mãos de Jesus Cristo, sacerdote e vítima, no altar; através dEle, somente, na Missa, oferecemos louvor digno a Deus; através dEle, somente, na Missa, recebemos do céu misericórdia e salvação. A Missa é o sacrifício da Nova Lei, superando por si só em valor todos os sacrifícios de a Lei Antiga.

Desde o começo do mundo, desde o dia em que o homem caiu em pecado e incorreu na ira de Deus, houve sacrifícios oferecidos para apaziguá-lo. Abel escolheu o melhor dos seus rebanhos para imolar ao Senhor; Noé ofereceu holocaustos após o dilúvio; Melquisedeque, o rei-sacerdote, ofereceu a Deus um sacrifício de pão e vinho; Abraão e o patriarcas, seus filhos, erigiram altares em diversos lugares para oferecer sacrifícios, invocando o nome do Senhor. Mais tarde, quando Deus tirou Seu povo da escravidão do Egito, Ele estabeleceu através do ministério de Moisés, uma tribo sacerdotal, de qual Aarão era o chefe. Aarão deveria oferecer a Deus incenso, pão, vítimas e holocaustos em que a carne de animais imolados eram consumidas pelo fogo. Estes foram sacrifício de adoração, de ação de graças, de propociação ou de petição, de acordo com o fim para o qual eram oferecidos.

Quando Aarão entrava no santuário para sacrificar, vestia-se com um manto roxo, acima que ele usava uma túnica de uma brancura deslumbrante, e no peito trazia um éfode enriquecido com pedras preciosas, nas quais estavam gravados os nomes das doze tribos de Israel. Isto era senão uma figura de Jesus Cristo, que subiu até Calvário vestido com a túnica branca de sua inocência, coberto com Seu sangue como manto roxo do sacerdócio, e tendo gravado em Seu Coração os nomes de todos aqueles que Ele redimiu por Sua morte – isto é, os nomes de todos os homens.

A cruz foi um altar onde o Filho de Deus, sacerdote e vítima, imolou-se pela salvação do mundo. Este sacrifício juntou em si todas as diferentes oblações da Antiga Lei, e as superou como a realidade supera as sombras, como o Filho de Deus supera os animais que foram imolados no altar como uma figura de Sua morte na cruz.

O sacrifício cruento do Calvário precisava ser oferecido apenas uma vez. Foi suficiente para glorificar a Majestade divina e reconciliar a Terra com Paraíso; nenhuma outra oblação era mais, assim, necessária. Todavia, como a Igreja tinha necessidade de um sacrifício para prestar a Deus adoração perpétua e digna Dele, o Divino Salvador dignou-se-nos fornecê-la; em Sua infinita Sabedoria, Ele nos concedeu o segredo da perpetuidade através de todos os tempos do único sacrifício que Ele ofereceu na Cruz: O Santo Sacrifício da Missa, divina instituição que o Salvador fez, no véspera de Sua morte, na Última Ceia.

A Missa é a renovação incruenta do sacrifício da cruz. Esta é a doutrina de fé a seu respeito proposta pelo Concílio de Trento:

Neste divino sacrifício, que se realiza na Missa, se encerra e é sacrificado incruentamente aquele mesmo Cristo que uma só vez cruentamente no altar da cruz se ofereceu a si mesmo (Hb 9, 27), ensina o santo Concilio que este sacrifício é verdadeiramente propiciatório, e que, se com coração sincero e fé verdadeira, com temor e reverência, contritos e penitentes nos achegarmos a Deus, conseguiremos misericórdia e acharemos graça no auxilio oportuno (Hb 14, 16). Porquanto, aplacado o Senhor com a oblação dele e concedendo o dom da graça e da penitência, perdoa os maiores delitos e pecados. Pois uma e mesma é a vítima: e aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que, outrora, se ofereceu na Cruz, divergindo, apenas, o modo de oferecer. Os frutos da oblação cruenta se recebem abundantemente por meio desta oblação incruenta, nem tão pouco esta derroga aquela. Por isso, com razão se oferece, consoante a Tradição apostólica, este sacrifício incruento, não só pelos pecados, pelas penas, pelas satisfações e por outras necessidades dos fiéis vivos, mas também pelos que morreram em Cristo, e que não estão plenamente purificados.
Sessão 22 do Concílio de Trento, cap. 2

Se o véu da fé atrás do qual os santos mistérios da Missa são realizados fossem levantados por um momento, veríamos o altar transformado no Calvário, Jesus Cristo o Cordeiro de Deus em estado de imolação, quase como Nossa Senhora o recebeu na descida da Cruz. Nela, Ele se oferece ao Seu Celestial Pai, mostrando-lhe as feridas que preservou em Seu corpo glorioso. Legiões de anjos O cercam, prostrados em adoração; é a corte celestial que acompanha seu rei.

A Missa é fonte de propiciação – isto é, de perdão aos vivos e aos mortos. Nós somos todos  pecadores e precisamos de perdão durante a vida e depois da morte. Durante a vida, obtemos através os méritos da Vítima Divina a graça de um conversão sincera. Mas a malícia dos homens é tão grande, seus pecados tão multiplicados, que continuamente invocam sobre si o castigo de Deus. Agora, o que é que retém O braço de Deus, que aplaca Sua ira? Ah! isto é a divina vítima da propiciação que nunca cessa, enquanto os pecados clamam por vingança, de chorar com uma voz mais alta por misericórdia: Pai, perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem. (Lc 23, 34)

Depois que a morte chega, para a maioria dos fiéis que partiram, a expiação no purgatório. Deve haver um meio de confortar os pobres almas em seus sofrimentos; o grande meio estabelecido pelo Salvador é o Santo Sacrifício da Missa. As almas a quem se aplica são aspergidas, por assim dizer, com o sangue de Jesus Cristo; e este orvalho divino as refrigera, tempera o ardor de suas chamas, e até as extingue completamente. O santo sacrifício da Missa é, portanto, uma fonte de propiciação para os vivos e os morto. Mas para colher os seus preciosos frutos devemos oferecer isso com devoção.

II. Como devemos oferecer o santo sacrifício da Missa?

Propriamente falando, o sacrifício da Missa só é oferecido pelo sacerdote decretado por Jesus Cristo para cumprir esta função augusta. Ao mesmo tempo, num sentido mais amplo e análogo, podemos dizer, os fiéis oferecem o Santo Sacrifício por um intermediário e através as mãos do padre. Isso podem os fiéis fazer encomendando a missa por suas intenções ou assistindo-a com devoção.

Quando temos o santo sacrifício da Missa oferecido para uma determinada intenção, a mais poderosa súplica sobe ao trono de Deus pelo favor que desejamos. É Jesus Cristo Mesmo, a Divina Vítima, que suplica a seu Pai e entrega-lhe seu Sangue e suas Feridas por nossa necessidade. Nada é mais louvável que ter missas celebradas para si mesmo ou para os outros, para o vivos ou mortos.

Quando assistimos à Missa, participamos na ação santa que o sacerdote realiza no altar. Como o sacerdote é delegado pela Igreja a oferecer publicamente o sacrifício em nome de todos os fiéis, estes últimos concorrem verdadeiramente na sacrifício pelo próprio fato de ajudá-lo por unindo-se na mente e no coração com o sacerdote. Isto é claramente manifestado pela palavras que o sacerdote pronuncia no oferecimento do cálice durante o Ofertório: Offerimus tibi, Domine: “Oferecemo-vos, Senhor, o cálice da salvação”. E não “Eu vos ofereço, Senhor“.

Portanto, para assistir bem à Missa devemos unir a nossa intenção com a do sacerdote, dizendo silenciosamente em nossos corações ou com nossos lábios:

Senhor Deus Todo-Poderoso, uno-me ao sacerdote, o ministro de vosso altar, para oferecer a Vossa divina Majestade o sacrifício do Corpo e Sangue de Vosso único Filho, nosso Senhor Jesus Cristo”.

Depois de unir nossa intenção com o padre, devemos colocar diante de nossos olhos, por um ato vivo de fé, o grande mistério que está sendo cumprido colocado no altar, e lembrando que o a missa é a renovação incruenta do sangrento sacrifício que foi oferecido na cruz.

Como seria bom se, conhecendo Jesus Cristo como conhecemos agora, pudemos permanecer com São João aos pés de Sua Cruz quando ele estava nela pregado! Mas temos a felicidade de ajudar no sacrifício desta mesma Vítima, que é imolado sob as aparências de pão e vinho. Vamos. então, em espírito com o sacerdote para este novo Calvário; deixe-nos permanecer lá com os anjos e com todas as almas verdadeiramente cristãs para sermos aspergidas com o sangue do Cordeiro imaculado.

Quando o sacerdote chega ao momento da comunhão, se não tivermos a felicidade da comunhão sacramentalmente é uma prática muito santa fazer a comunhão espiritual. Ela consiste no desejo de um coração piedoso que suspira para a verdadeira recepção do Corpo de Jesus Cristo. Então, quando o momento da comunhão chega, repetimos piedosamente com o sacerdote estas palavras do centurião do Evangelho: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma palavra e minha alma será salva”. Ao mesmo tempo nós produzimos em nossa alma um desejo santo e sincero de receber Nosso Salvador na comunhão sacramental, dizendo: “Dignai-vos, Senhor, o mais rápido possível nutrir-me com Vossa carne vivificante, para que eu possa ser cheio de Vossa vida”.

Durante a Missa devemos rezar com recolhimento e devoção. Todas as orações são boas e a Igreja não prescreve nada em particular para ser recitado durante a Missa. O fiéis em geral recitam aquelas que encontram em um livro piedoso aprovado, rezam o rosário, ou meditam sobre os mistérios do Paixão que a Missa lhes recorda.

Embora a Igreja não obrigue os seus filhos a ouvir missa senão aos domingos e dias santos de guarda, ela deseja sinceramente, porém, que eles a assistam quantas vezes puder durante o semana. Nada é mais conforme ao espírito cristão do que ouvir missa todos os dias quando nossas ocupações nos permitem fazê-lo, e nada atrai mais abundantemente as bênçãos de Deus sobre uma família do que estar diariamente representada no sacrifício divino por alguns de seus membros.

Que possamos compreender plenamente o tesouro que possuímos no santo sacrifício da Missa, e por uma devoção viva encontraremos nela abundantemente as consolações e graças para todos os dias de nossa vida!

Pe. F. X. Schouppe 
em Sodality Director’s Manual, 1882, pg.  314-322
Tradução e grifos por um Congregado Mariano

 

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