A segunda virtude do Congregado deve ser o desapego das coisas terrenas

À humildade, primeira virtude do congregado, juntará este um grande desinteresse ou desapego das bens temporais, pois é este desapego que arranca a raiz de todos os males, a cobiça: radix enim omnium malorum est cupiditas (1 Tm 6, 10).

Para consegui-lo e desprezar às coisas da terra, basta que considere e reconheça por um lado a duração de todas elas, tão breves quanto a nossa vida: Porque nada trouxe­mos ao mundo, como tampouco nada poderemos levar. nihil enim intulimus in hunc mundum, haud dubium, quod nec auferre quid possumus (1 Tm 6,7); e por outro lado, as inquietudes, os desassossegos e o triste paradeiro em que vão os que se deixam levar pelos afetos terrenos: caem nas armadilhas do demônio e em muitos desejos insensatos e nocivos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição: interitum et perditionem (1 Tm 6, 9).

E já que as coisas a que mais se sente naturalmente inclinado o coração com facilidade ofuscam a razão para que não perceba as verdades mais sólidas e o mais fortes desenganos, o Congregado deve fazer uma firme resolução de não se deixar dominar pelas preocupações temporais nem no manejo de bens, exceto por necessidade [do estado de vida] ou obediência, pois a não ser por esse motivo, nenhum soldado de Jesus Cristo pode implicar-se em negócios da vida civil, se quer agradar ao que o alistou (2 Tm 2, 4).

Assim podemos ver a Imaculada Virgem aos três anos desprendendo-se de todo o mundo para consagrar-se a Deus no templo. Assim podemos ver São Luís Gonzaga, levado pelo mesmo desejo, solicitando com insistência a entrega de seus estados em favor de seu irmão Rodolfo, incessantemente, até ver aceita pelo imperador esta renúncia.

Como, exceto por milagre, não pode abster-se o homem de todas as coisas terrenas, o Congregado Mariano poderá tomar parte daquelas que forem necessárias para seu decente sustento e porte, cuidando de preservar seu coração delas – tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isso: alimenta et quibus tegamur (1 Tm 6,8)

Se, com o trabalho e o tempo, obtiver bens acima do que é necessário a uma vida honesta e decente para si e para os seus, o Congregado cuidará de emprega-los naquilo que a Justiça ou a Caridade exigirem, consultando, na distribição deles, uma prudência desapaixonada, ou um sábio e discreto diretor.

 

 

Excerto da obra de Santo Antônio Maria Claret à Congregação de Nossa Senhora da Imaculada Conceição e São Luís Gonzaga, em Barcelona
Tradução por um congregado mariano

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