A Modéstia Cristã
Dentre tantos valores perdidos pela sociedade atual, o mais desprezado, ou senão um dos mais esquecidos, é a modéstia. Esta virtude ligada à temperança consiste na moderação dos atos exteriores e por isso geralmente quando falamos acerca do modo de vestir tratamos dela.
Ocorre que a modéstia não engloba somente as vestes, mas todo nosso comportamento, ou seja, gestos, fala e atitudes em geral, pois como cristãos, precisamos buscar ser virtuosos interna e externamente, a fim de sermos testemunho e incentivo aos outros, já que por meio desta virtude é possível nos identificarmos com os que procuram agradar a Deus em todas as coisas, inclusive nas menores.
Há quem diga que Nosso Senhor olha apenas o nosso coração e por isso não devemos nos preocupar com a aparência nossa ou de nossos atos, importando apenas a intenção que trazemos. Porém esquece-se de que “a boca fala do que lhe transborda do coração” (Mt, XII, 34), de maneira que nossas ações são espelho de nossos pensamentos, portanto, é bom que nos dediquemos a refletir sobre nosso comportamento e adequá-lo àquilo que corresponde à vontade de Deus para seus filhos.
É claro que, de algum modo, podemos falar de “níveis” de modéstia, no sentido de que a modéstia de um sacerdote não é a mesma da de um pai de família, de uma religiosa igual a de uma jovem solteira. Cada fase e estado de vida exige um comportamento que lhe é próprio. Entretanto, por certo há um nível mínimo que é obrigatório a todos, uma maneira de se portar e vestir que é exigida tanto pelos bons modos como pela moral cristã.
Com efeito, ao conversarmos precisamos nos afastar de palavras indecentes ou de baixo calão e até mesmo de inutilidades, e não apenas ao falar, mas também de ouvi-las; ao nos vestirmos, de roupas imodestas ou desleixadas; ao nos expressarmos, de gestos caricatos ou escandalosos; e tantas outras coisas que precisamos nos abster pois configuram comportamentos que buscam apenas atenção para nós mesmos.
Mais especificamente quanto às vestimentas, seguem algumas orientações básicas. Quanto às mulheres, que usem saias e vestidos que cubram os joelhos – inclusive ao sentar, nunca calças, exceto por exigência profissional. Tal restrição, dentre outros motivos, deve-se à distinção entre roupas masculinas e femininas, bem como ao fato de a calça marcar o corpo feminino. A parte superior da roupa, sempre com mangas, preferencialmente até os cotovelos. O decote mais ou menos até dois dedos abaixo do pescoço, ou pelo menos, de tal modo que ao se inclinar, não venha a mostrar o busto. Para os homens, camisas sempre com mangas, curtas ou compridas, complementadas por calças. Para ambos, não usar roupa colada ao corpo, que defina a silhueta, nem transparentes. Deve-se levar em conta também os diversos movimentos que fazemos durante dia, de modo que a roupa permaneça modesta em todos eles.
Tudo isso não só para “aparentar” modéstia, senão estaríamos apenas mudando a forma de chamar atenção. Ao contrário: que estas ações estejam em consonância com o desejo de repetirmos o que disse São João Batista: Importa que Ele cresça e que eu diminua (Jo, III, 30). Sim, pois este é o fim último da modéstia: a discrição em nós mesmos e o destaque apenas a Nosso Senhor.
Obviamente, isto não quer dizer que para sermos modestos devemos nos esconder de tudo, de todos e de todas as formas. Em nossa vida social, por certo devemos nos aplicar em executar bem nossas obrigações e nos apresentarmos adequadamente nas ocasiões, e talvez isso nos conceda alguma honraria. Se estas vierem, ofereceremos a Deus, pois é Dele que provém a graça de realizarmos tais feitos.
Por esta razão, um grande auxílio para a modéstia é a humildade, ou melhor, esta é a origem daquela. Da mesma forma que um pecado ou vício atrai outro, uma virtude complementa a outra. Buscar ser modesto é igualmente perseguir ser humilde, colocando-se no lugar de filho de Deus e deixando Ele tomar seu lugar como Causa de todas as coisas. Sem humildade não há modéstia verdadeira.
Assim, percebemos que modéstia não se trata de farisaísmo, em se importar apenas com o exterior e excessivas regras descabidas. Longe disso! É uma virtude que brota da alma que ama a Deus e decide esforçar-se para dizer como Santo Inácio: Ad majorem Dei gloriam! Tudo para maior glória de Deus. E não somente como ele, pois ao olharmos para todos os santos, em especial Nossa Senhora, temos grandes exemplos da verdadeira modéstia cristã que tanto nos é necessária para sermos luz nas trevas deste mundo. Que a Virgem Maria e seu castíssimo esposo São José sejam nossos modelos e intercessores. Assim seja.