O Terço em Família e a guarda da Fé
Na Áustria, após a II Guerra Mundial, houve um completo colapso de vocações. Em um ano, não houve só uma entrada no seminário. Os bispos, então, organizaram um sínodo para buscar entender o que estava acontecendo. A conclusão que chegaram fora que a Guerra tinha de tal maneira afetado as famílias que a prática centenária do rosário em casa havia sido interrompida, e daí todo o traço de fé aos poucos ruía. Quando a oração em família do terço diminui, a fé logo colapsa.
Lembro-me de um caso em que um amigo, um grande católico e um dos pilares da paróquia, viu seus filhos abandonarem a fé um após o outro. Afastaram-se dos sacramentos e deixaram de ir à Missa. Eu o perguntei sobre a vida de oração da família, e ele me respondeu que desde criança rezava o terço em casa; quando casou e iniciou sua família, continuou a rezar o terço, todos os dias, em família. Mas um dia, no horário do terço, uma das crianças ligou a televisão, e pronto: o hábito da recitação do terço havia sido abandonado, e em pouco tempo a família inteira foi relaxando na prática da religião.
Em Fátima, Nossa Senhora pediu, em todas as aparições, a mesma coisa: “Continuai rezando o terço todos os dias“. Se Deus nos enviou sua Mãe para ensinar a necessidade da oração diária do terço, como poderíamos fazer diferente? Um leigo me disse uma vez que rezava o breviário todos os dias. Isso é bom. É a oração da Igreja, por isso é, sob certo aspecto, melhor que o terço. Mas o breviário não foi o que Nossa Senhora pediu. Ela nos pediu o terço. Se uma mãe manda seus filhos para o mercado comprar um pote de leite e o filho volta com um pote de sorvete, estará ela satisfeita? Sob certo aspecto, o sorvete é melhor que o leite, mas não foi isso que foi pedido.
Na Santa Casa de Nazaré, tinha Nossa Senhora que pedir as coisas duas vezes ao seu Divino Filho? Se queremos ser como Jesus, devemos fazer o que sua Mãe pede, pois sabemos – a teologia nos ensina – que nada que Nossa Senhora quer é contrário à vontade de Deus. Se a desobedecermos, podemos esperar que as coisas fiquem bem? Ela conhece melhor que nós os perigos que no combate espiritual nos assaltam. Ela nos avisa: Rezai o terço todos os dias; não apenas uma, mas seis vezes. Poderíamos ignorar este pedido? Se o fizermos, somos os únicos culpados pela perda de fé nossa e de nossos filhos.
Eu sei bem que Fátima é apenas uma revelação privada e o grau de assentimento que devemos ter para com revelações privadas. Mas esta aparição foi aprovada e recomendada pela Igreja como nenhuma outra. Se a Igreja diz ser autêntica a aparição, devemos levar suas palavras a sério. Os judeus foram duramente castigados por não darem importância às palavras do profeta Jeremias. Em Fátima, porém, Deus envia não um profeta, mas sua Imaculada Mãe. Se esta tão boa mãe se mostra tão preocupada com a oração diária do terço, mormente em família, não posso senão concordar com os bispos austríacos: o abandono ou a ausência do terço diário em família é um dos principais motivos para a perda da fé.
Não tenho dúvidas que a Igreja no futuro de perseguição se restringirá àquelas famílias que se mantiveram fiéis ao Terço diário. O Demônio teme o Rosário mais que qualquer outra devoção, dizem-nos os santos e muitos possuídos, obrigados, o confessaram. A água benta e outras devoções o fazem fugir, mas o santo terço os afasta definitivamente. Assim como os ratos temem o simples odor do gato, o demônio teme a família onde se reza o terço, pois conhecem sua impotência diante de Nossa Senhora. Por causa disso, talvez, cante o adágio: A família que reza junta, permanece junta. Por isso, gostaria de conclamar mais uma vez: a recitação diária do terço é indispensável. É o santo remédio que Nossa Boa Mãe nos deu para manter nossa fé forte e firme.
Artigo do Pe. Hugh Thwaites, SJ
No panfleto “Nossa Fé Gloriosa e como perdê-la”