As virtudes da Castidade e Virgindade

A Castidade sempre foi tida como uma forma de manter-se ao lado de Deus, e em relação a relação conjugal, é tida como a pureza espiritual, tanto que na etimologia da palavra, “casto” vem do latim e significa “puro”. A virtude da castidade desabrocha-se do princípio da amizade, pois ela se expressa na proximidade das pessoas, tanto entre as do mesmo sexo quanto de sexo oposto e, acima de tudo, conduz à comunhão espiritual entre elas. Isso também acontece porque a castidade combate o vício da luxúria, o que é possível porque toda pessoa batizada é chamada a viver a castidade, pois o Espírito Santo concede o dom de imitar a pureza de Cristo, haja vista a regeneração advinda pela água do Batismo.

Como Nosso Senhor Jesus Cristo foi o exemplo supremo da castidade, forneceu aos seus seguidores três formas de seguimento deste estado de vida: a) A virgindade ou celibato consagrado, como a forma de se dedicar de modo total a Deus; b) Castidade de acordo com a Lei Moral; e por último c) a viuvez. Somente a partir destas três vias, torna-se possível crescer na castidade.

Percebe-se o crescimento da pessoa por meio da melhora em evitar suas imperfeições e o pecado. Tende-se a crescer nesta virtude quando a vida espiritual começa a alavancar, pois ela está diretamente relacionada e apoiada na oração, ou seja, numa vida espiritual frutuosa. Além disso, um homem virtuoso acaba conhecendo mais a si mesmo e tendo mais consciência de suas fraquezas, e na vivência da virtude adquire o conhecimento moral e espiritual, podendo assim colocar em prática tudo o que aprendeu.

Sobre os noivos, o seu estado de castidade é um período de provação, no qual tem-se a descoberta do respeito mútuo. Eles aprendem a fidelidade e a esperança para se receberem mutuamente diante de Deus. O tempo em que vivem esse período de castidade total fará com que, no tempo matrimonial, sejam bem aproveitados os atos anteriormente não lícitos, onde as manifestações de ternura exclusivas do amor conjugal poderão ser demonstradas. O objetivo maior desse período é para ambos terem um crescimento mútuo no controle da castidade e saberem respeitar os limites do estado atual em que se encontram.

No caso das pessoas homossexuais, estas são chamadas a viver a castidade por meio do autocontrole, ou seja, de uma amizade sem interesse em relacionamento, mediante a prática da oração com o auxílio da graça sacramental, podendo assim se aproximarem de forma gradual e resoluta da perfeição cristã. Isso se deve ao fato de que elas são chamadas a realizar a vontade de Deus em suas vidas por meio do sacrifício unido ao sacrifício da Cruz de Nosso Senhor, incluindo-se todas as dificuldades e tentações que sofrem durante a sua vida. Em relação ao relacionamento, ele não deve ser aprovado em hipótese alguma, por fechar-se o ato sexual ao dom da vida, além de serem relações contrárias à lei natural.

Santo Atanásio, ao falar da castidade, afirma o seguinte: “Ó santa pureza, és tu o templo do Espírito Santo, a vida dos Anjos e a Coroa dos Santos!” porque ninguém melhor que o Espírito Santo para saber o real valor da castidade, pois este estado faz da pessoa como um anjo, logo, vivem isentos de todos os deleites carnais, sendo assim, puros por natureza e suas almas castas por virtude.

O Verbo Eterno de Deus, quando estava para vir a este mundo, escolheu para Sua Mãe uma virgem, para seu pai adotivo um homem virgem e como seu precursor, também um virgem. Também amou com predileção a São João Evangelista porque este era virgem e a ele confiou Sua Santa Mãe.

No Tratado da Castidade de Santo Afonso Maria de Ligório, é dito que devemos vigiar nossos pensamentos e jamais concordar com eles, pois é neste concordar que se encontra a malícia do pecado e também é assim que se perde a graça de Deus levando a pessoa à condenação eterna. Existem 6 formas que podem ser utilizadas para combater esta tentação, vejamos:

  1. Humilhar-se continuamente diante de Deus;
  2. Recorrer imediatamente a Deus sem entrar em diálogo com a tentação, ou seja, se deleitar de tais pensamentos;
  3. Receber de forma assídua os Santos Sacramentos da Confissão e Comunhão;
  4. A devoção à Imaculada Mãe de Deus;
  5. A fuga da ociosidade, pois ela ensina muita coisa má, ou seja, abre as portas para se cometer muitos pecados; e
  6. Empregar todas as precauções exigidas pela prudência como a Modéstia dos Olhos e a Vigilância Sobre as Inclinações do Coração e a fuga das ocasiões perigosas

É tido como necessário também utilizar-se da modéstia dos olhos, porque é por meio deles e da liberdade desenfreada que se acaba por despertar as sensações e desejos desregrados, pois o demônio, primeiramente, faz de tudo para nos tentar com os olhares, levando ao desejo e por fim ao consentimento. Logo, se é necessário ter uma vigilância redobrada.

Além desta forma de combate, devemos ficar atentos às inclinações do coração e também fugir das ocasiões perigosas, porque, conforme a máxima utilizada pelos Santos Doutores, em citação por Santo Afonso, que diz: “Se existe afeição no coração para com uma pessoa do sexo oposto, não existe outro remédio melhor para se libertar dela senão por meio do corte de relações com essa pessoa, pois, se houver a tentativa de se desfazer dela de pouco a pouco, nunca esse fim será atingido pois essa ligação é difícil de se romper, e só conseguirá quem romper de uma vez só de forma violenta.

Esta máxima é aceita por todos os mestres da vida espiritual, pois ao se chegar nesse ponto não existe mais outra forma além da fuga e afastamento da ocasião de pecado, tendo em vista que a nossa natureza sempre tenderá para a concupiscência da carne, advinda da queda do homem pelo pecado original. E mesmo que a pessoa sinta seu coração livre e sem qualquer resquício de tais afeições, deve-se ter um cuidado redobrado para que tais laços afetivos não sejam criados. Para exemplificar a afirmativa acima, não existe citação melhor que a de São Jerônimo, que diz: “Se, no trato com alguém, notares que alguma afeição desregrada se quer apoderar de teu coração, apressa-te a sufocá-la antes que se torne um gigante. Enquanto o leão é ainda pequeno, pode ser facilmente trucidado; uma vez crescido, torna-se-á mui difícil e humanamente impossível“.

Existem cinco indicações mencionadas por São Boaventura, que podem ser utilizadas para que se possa deduzir que a afeição que uma pessoa tem para conosco é impura ou não, elas são:

  1. O entretenimento com conversas inúteis;
  2. Olhares e louvores mútuos;
  3. A desculpa de faltas reciprocamente (evitando correção para não desagradar);
  4. Pequenos ciúmes; e
  5. A inquietação provocada pela separação.

Santo Afonso complementa com:

  1. Grande prazer e gosto nas maneiras e gentilezas naturais da pessoa amada;
  2. Desejo de correspondência da afeição; e
  3. Não gosta quando os outros observam, ouçam e falem disso.

O Sumo Pontífice Papa Pio XII afirma, em sua encíclica intitulada Sacra Virginitas, a virgindade consagrada ao serviço de Deus está entre os bens mais preciosos deixados como herança à Igreja pelo Seu Fundador. A sua doutrina sempre foi ensinada pelos Santos Padres de forma que, a virgindade não é uma virtude cristã se não praticada “por amor ao reino dos céus”, então para isso, precisa haver uma entrega completa para as coisas divinas de forma a nos fazer alcançar a bem-aventurança. Assim, de forma mais livre e eficaz, nos conduzirá aos reinos dos Céus. Outra razão para se abraçar este estado é que ele oferece uma grande vantagem na vida espiritual para todos aqueles que querem se dedicar totalmente a Deus e à salvação do próximo, isso porque se tem uma completa renúncia aos prazeres da carne.

São Cipriano denomina a multidão de virgens que consagraram a sua virgindade para Nosso Senhor como “a mais nobre porção da Igreja de Cristo”, por isso que essa virtude merece o nome de Virtude Angélica porque essas almas, que assim optaram, possuem um olhar especial de Deus, tornando-se mais belas, pois acabam por se tornar que nem os Anjos de Deus no Céu, por terem renunciado ao casamento para se dedicarem de forma exclusiva ao amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, tornando-se verdadeiras esposas do Filho de Deus. O Santo também lembra com razão às virgens que: “O que nós havemos de ser todos, já vós o começastes a ser. Possuis já neste mundo a glória da ressurreição; vós passais através do mundo sem as manchas do mundo. Enquanto perseverais castas e virgens, sois iguais aos anjos de Deus“.

Muitos pensam que a castidade é nociva ao organismo humano, mas muito pelo contrário, ela ajuda, juntamente com a oração, a conquistar o domínio perfeito do espírito sobre a vida dos sentidos, porque após o pecado de Adão, as faculdades e paixões do corpo se alteraram e procuram não apenas dominar os sentidos, mas também o espírito, podendo-se perder a razão e enfraquecer a vontade. Por isso, faz-se necessário renunciar a tudo o que ofende a virtude da castidade.

Como consequência desse estado de vida, a vida é conduzida com maior certeza e facilidade à perfeição evangélica e ao reino dos céus, apesar de ser uma virtude difícil, para abraçá-la não basta apenas querer renunciar de forma completa e perpétua aos prazeres do matrimônio, mas sim saber dominar e acalmar de forma vigilante aos combates incessantes e as revoltas da carne somadas às paixões do coração, é preciso também saber fugir das aberturas que o mundo oferece e, acima de tudo, vencer as tentações demoníacas. Porém, apesar de todos os perigos que existem para quem segue essa virtude, com a graça e auxílio de Deus, essas almas que correspondem de forma generosa ao convite feito pelo Pai Celestial, receberão o dom da graça para cumprirem o propósito firmado.

Por isso, Santo Ambrósio afirma que a castidade “Não se impõe, mas propõe-se” e o seu estado perfeito “exige que os cristãos a escolham de forma livre antes de se oferecem totalmente a Deus e, da parte de Deus, que Ele comunique o Seu dom e a Sua graça”.

Por fim, verdadeiramente felizes são aquelas virgens que se consagram de forma inteira e exclusiva ao Divino Salvador, porque seus corações encontram-se desembaraçados dos bens transitórios, ao luxo vão e as coisas do mundo.

São José, castíssimo esposo da Virgem Maria, rogai por nós!

Referências

Encíclica SACRA VIRGINITAS do Sumo Pontífice Papa Pio XII.

Tratado da Castidade – Santo Afonso Maria de Ligório.

Catecismo da Igreja Católica.

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