D. Athanasius Schneider: Homem branco quer abolir celibato sacerdotal – não os povos da Amazônia

Fonte: LifeSiteNews

Tradução e grifos por salvemaria.com

Em outubro será realizado o Sínodo sobre a Amazônia no Vaticano. Excelência, o senhor viveu no Brasil por um tempo e tem familiaridade com a região. É dito que há escassez de padres na Amazônia, o que, muitos dizem, justifica a introdução de padres casados [viri probati]. É verdade que tal crise sacramental e escassez de padres existe?

Bem, há escassez de padres na Amazônia, mas há também escassez em qualquer lugar. É crescente a escassez de padres na Europa.

Mas a escassez de padres é apenas um pretexto óbvio para abolir na prática (não na teoria) o celibato na Igreja Latina. Este tem sido o objetivo desde Lutero. Entre as seitas e inimigos da Igreja, o primeiro passo é sempre abolir o celibato. O celibato sacerdotal é o último bastião a ser abolido na Igreja. A vida sacramental é apenas um pretexto para se fazer isso.

Em minha própria experiência na União Soviética, passamos por longos anos sem uma única Missa sequer. E sobrevivemos fortes na fé. A fé era vivida na Igreja doméstica que é a família. A fé era transmitida através do catecismo. Nós rezávamos. Fazíamos comunhões espirituais, através das quais recebíamos muitas graças. Quando, de repente, um padre apareceu depois de um ou dois anos, foi realmente uma festa, e ficamos tão felizes, recebemos a confissão sacramental e Deus nos guiou. Então, eu tive uma experiência pessoal dessa em minha vida, na União Soviética.

Sobre o Brasil: eu também vivi e trabalhei no Brasil por sete anos. E eu conheço os brasileiros. Eles são pessoas realmente piedosas, pessoas simples. Eles nunca pensariam por conta própria em clero casado. Não, esta é uma ideia colocada em suas cabeças não pelos povos indígenas, mas por pessoas brancas, por padres que por si mesmos não vivem uma profunda vida apostólica e sacrificial. Sem uma verdadeira vida sacrificial de um apóstolo, não é possível fortalecer a Igreja. Jesus Cristo nos deu o exemplo de Sua entrega sacrificial, como também deram os apóstolos, os Padres da Igreja, os santos, os missionários. Isto desenvolveu a Igreja com frutos espirituais duradouros por gerações inteiras.

O decréscimo de padres na Amazônia é pra mim um exemplo do oposto: talvez os padres não tenham uma vida profundamente sacrificial e comprometida no espírito de Jesus, dos apóstolos e dos santos. Eles, portanto, buscam por substitutos humanos. Um clero indígena casado não irá gerar um aprofundamento e crescimento da Igreja na Amazônia. Outros problemas certamente surgirão com o advento de um clero casado na cultura indígena da Amazônia e em outras partes do mundo da Igreja Latina.

O que é mais necessário é aprofundar as raízes da fé e fortalecer a igreja doméstica na Amazônia. Precisamos iniciar uma cruzada na Amazônia dentre essas famílias indígenas, dentre os cristãos católicos, pedindo por vocações – implorando a Deus por vocações para o sacerdócio celibatário e então elas virão.

Nosso Senhor nos diz para rezarmos, então esta falta (de vocações) é um sinal de que não estamos rezando o suficiente. E as pessoas serão tentadas a rezar ainda menos porque estão enchendo suas cabeças com a promessa de que em outubro eles receberão a possibilidade de ter padres casados. Então eles não rezam mais para que seus filhos se tornem sacerdotes como Jesus, que era celibatário. E Jesus é o modelo para todas as culturas.

Até mesmo um padre indígena celibatário, um homem de espiritualidade, poderia transformar tribos, como os santos fizeram. S. João Maria Vianney transformou quase a totalidade da França. Padre Pio é outro exemplo. Eu não estou dizendo que devemos esperar este padrão de santidade, mas estou os oferecendo como exemplo de fecundidade espiritual que pode vir de um sacerdote santo. Até mesmo um simples homem de profundidade espiritual que é dedicado a Jesus Cristo e às almas no celibato, um sacerdote indígena da Amazônia, pode certamente desenvolver muito a Igreja ali e despertar novas vocações pelo seu exemplo.

Este tem sido o método da Igreja desde os tempos apostólicos. E este método tem sido testado e provado através dos dois mil anos de experiência missionária da Igreja. E isto será verdadeiro até que Cristo volte. Não há outra forma. Adaptar-se a abordagens puramente humanistas e naturalistas não irá enriquecer a Igreja da Amazônia. Nós temos dois mil anos de história para provar isto.

Eu repito: o povo brasileiro é profundamente consciente da sacralidade do sacerdócio. Isto é o que o Sínodo da Amazônia deveria fazer: aprofundar a consciência da sacralidade do celibato sacerdotal. A Igreja tem tão belos exemplos de missionários. Deveria também aprofundar e fortalecer a igreja doméstica, isto é, a vida familiar. E o Sínodo deveria iniciar campanhas de adoração eucarística e de orações pelos padres e por novas vocações sacerdotais. Sem o sacrifício do amor, sem oração, nós não iremos desenvolver uma Igreja local. Com clero casado, não.

Não estou discursando contra o clero casado das Igrejas Ortodoxas ou das Igrejas Católicas Orientais. Estou falando da tradição da Igreja Latina na Europa e na América. Nós devemos manter este tesouro sem enfraquecê-lo através da introdução de um clero casado, porque isto já foi provado por muitos frutos, quando observamos de um ponto de vista compreensivo.

Comentário ao Recorte

Este é um trecho da entrevista de Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Astana no Cazaquistão, ao site de notícias LifeSiteNews após a visita dos bispos do Cazaquistão ao Papa. Sua resposta é límpida: não será através de um clero casado que se restaurará a fé na Amazônia ou em qualquer outro lugar do mundo da Igreja Latina. Isto certamente geraria outros problemas e agravaria a atual crise de fé pela qual a Igreja passa.

Percebe-se um modus operandi para se inserir novidades na Igreja: sempre através da exceção. Assim foi com a comunhão na mão, que sempre foi recebida na boca, uma vez que apenas o sacerdote tem as mãos consagradas para tocar o Santíssimo Sacramento; assim foi com toda a sorte de inovação na liturgia, como a língua vernácula, leitores leigos, instrumentos profanos, ministros extraordinários, etc. A sugestão de D. Scheider não é radical: sua sugestão é apenas voltar a fazer aquilo que a Igreja sempre fez nos seus mais de dois mil anos de história e que sempre rendeu abundantes frutos.

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