Da Castidade

Santo Afonso, no seu Tratado da Castidade, afirma que ninguém melhor que o Espírito Santo saberá apreciar o valor inestimável de uma alma casta, ou seja, da castidade em si. A castidade é chamada por Santo Efrém de “A Vida do Espírito” e uma pessoa que possui esse estado de vida consegue viver sem se abalar com nada pois “Todo o preço é nada em comparação duma alma casta” (Eclo 26, 20).

 

Já dizia Santo Efrém: “Esse estado de vida faz com que o homem possa ser comparado a um anjo”, “mas muito mais que isso”, já dizia São Bernardo, “porque o homem se difere do anjo por conta da bem-aventurança pois enquanto a castidade do anjo é mais ditosa a do homem é mais intrépida, ou seja, é destemida por conta da escolha de vida que a pessoa faz”.

 

Além disso, para viver esse estado, faz-se necessária muita oração, penitência e mortificação. Isso é importante porque a luta travada contra a carne, o demônio e o mundo são extremamente difíceis. Mas por que é difícil? Porque eles tentam de tudo para desvirtuar a alma que quer seguir a castidade e a perfeição cristã, e tentam até mesmo a que já segue nesse caminho. Por isso adverte São Carlos Borromeu: “Se não vigiares continuamente sobre ti mesmo, é impossível que te conserves casto, pois a negligência traz juntamente de si a perda da castidade de forma demasiada fácil”.

 

Por isso, para conservar a castidade, são extremamente necessárias:

  • A vigilância dos pensamentos
  • A modéstia dos olhos
  • A guarda do coração

 

A vigilância dos pensamentos

 

Santo Agostinho ensina que não pode haver pecado onde não existe o consentimento da vontade. Por isso, nem todos os maus pensamentos em si são pecados, pois, para isso acontecer, deve haver a sugestão do pensamento. Essa sugestão nada mais é do que imaginar a situação pecaminosa. Ao imaginá-la e nela se delongar, a pessoa peca. Mas quando a combate e a rejeita, evita-se o pecado. Logo, a sugestão nada mais é do que o motivo que leva a praticar o mal que vem à mente. Seguida da sugestão vem a deleitação. Essa já é mais perigosa pois se não combatida de imediato a pessoa acaba caindo no consentimento, que é quando já existe o pecado de fato e a morte da alma para a Graça de Deus.

 

A modéstia dos olhos

 

Santo Agostinho afirma que os olhos são a janela da alma, por isso, é o primeiro foco onde o demônio busca tentar a alma que quer seguir o caminho da castidade, pois já disse Santo Afonso: “Olhar, desejar e consentir”. “As primeiras setas que ferem as almas castas, e não raro as matam, entram pelos olhos” já dizia São Bernardo. Por isso a guarda dos olhos e a procura por manter um olhar mais rebaixado são a guarda principal, pois até mesmo um olhar voluntário lançado para uma pessoa do sexo oposto acende uma faísca infernal que pode levar a alma à perdição eterna;

 

A guarda do coração

 

Aqui se deve procurar ter muito cuidado com as amizades perigosas, e dentre elas, um cuidado especial e redobrado deve ser dado às amizades sensuais. Sobre este tópico alerta São Francisco de Sales em Filotéia: “A amizade fundada sobre os prazeres sensuais ou sobre certas perfeições vãs e frívolas é tão grosseira que nem merece o nome de amizade.”. Isso porque quase sempre elas se baseiam na questão pura dos prazeres dos sentidos. Continua o mesmo Santo:

 

“Chamo prazeres sensuais aqueles que provêm imediata e principalmente dos sentidos exteriores, como o prazer natural de ver uma bela pessoa ou de ouvir uma voz melodiosa, de apalpar outros prazeres semelhantes. Chamo perfeições vãs e frívolas certas habilidades ou qualidades, quer naturais, quer adquiridas, que os espíritos fracos têm em conta de grandes perfeições”.

 

Logo, quem conserva esse tipo de amizade cai facilmente no abismo, segundo Santo Agostinho, pois esse tipo de amizade está fortemente ligada às relações perigosas. Mas, para poder manter a guarda dos sentidos e da castidade, faz-se necessária a verdadeira prudência, evitando as possíveis ocasiões em que o pecado pode superabundar. Deve-se sempre procurar agir com prudência tanto nas falas quanto no comportamento e assim sucessivamente.

 

Outros meios muito eficazes

 

Uma outra forma de poder fortalecer o espírito, além das armas citadas anteriormente, a Comunhão e Confissão frequentes são verdadeiros remédios para a alma, uma vez que renovam as forças que foram perdidas durante a árdua luta contra o demônio, o mundo e a carne.

 

Além dessas duas supracitadas, vale-se a oração mental, em especial na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os santos fortemente recomendam essa meditação, em especial no momento da tentação, ela é um verdadeiro remédio para a alma por ser extremamente eficaz principalmente contra a sensualidade.  Lembrar do interrogatório, flagelação, abandono de Nosso Senhor pelos Seus apóstolos é de retalhar o coração. Lembrar que foi justamente por nossa causa que Nosso Senhor foi crucificado e suportou todas as dores e tormentos faz com que espantemos de perto todo e qualquer tipo de pensamento pecaminoso.

 

Portanto, se suplicarmos o auxílio da graça de Nosso Senhor, pensarmos e recorrermos à Nossa Senhora e a todos os Santos, em especial os que tem a Pureza como virtude exemplar, i. e. São Luís Gonzaga, os que temos particular devoção e que apliquemos todas as ferramentas aqui sugeridas e utilizar da fuga das ocasiões perigosas, pois, quando a tentação contra ela ocorre, é extremamente necessário que não se pense a respeito, e que se fuja do local se ele for completamente propício ao pecado.

 

Por fim, lembremos que a Pureza e a Castidade são duas pérolas preciosas, que são frutos do Amor e da Paixão de Cristo e que seus valores consistem justamente em refrear aquela má inclinação que temos por conta do pecado de Adão. Recordemo-nos que a Pureza faz da nossa alma um santuário protegido do mundo e de toda a perversidade que existe, pois aquele que é puro procura sempre ir contra as seduções e vaidades do mundo e procura sempre desprezar tudo o que não é de Deus e sempre velar sobre seus sentidos.

 

“Venerunt mihi omnia bona pariter cum illa – Vieram-me todos os bens juntamente com ela” (Sap. VII, 2)

Escrito por um Congregado Mariano.

 

Fontes

Tratado da Castidade – Santo Afonso Maria de Ligório

A Pérola das Virtudes – Pe. Adolfo de Doss, S.J

Tratado sobre a Prudência – Santo Alberto Magno

Filotéia – São Francisco de Sales

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