A Devoção ao Anjo da Guarda

Porque mandou seus anjos em teu favor, para que te guardem em todos os teus caminhos, eles te levarão nas suas mãos, para que teus pés não tropecem em alguma pedra. Sobre o áspide e a víbora andarás, e calcarás aos pés o leão e o dragão

Salmo 91, 11

Uma das mais confortantes verdades de nossa santa religião é o que ela ensina sobre os anjos, enviados por Deus para serem nossos protetores. Estes seres angélicos, superiores em natureza ao homem, são postos por Deus a nosso serviço, atestando ao mesmo tempo a importância que dá Deus à nossa salvação e a sua infinita bondade. A consciência dessa realidade e a devoção ao anjo da guarda que dela fluiria, porém, têm sido progressivamente obscurecidas na mente e coração do homem do nosso tempo, ora por um ceticismo naturalista, ora por um sentimentalismo fenomenologista. Para que não corramos esse risco, convém considerarmos o que nossa santa fé ensina sobre os anjos, o que eles fazem por nós e qual deve ser nossa atitude a respeito deles.

O que ensina nossa fé sobre os Anjos da Guarda

Anjos são os ministros de Deus. São, nas palavras do Pe. Schouppe, vasos de glória e luzes sempre acesas. Legiões inumeráveis de puros espíritos (Dn 7, 10), eles estão divididos em três hierarquias e nove coros, imagem da tripla hierarquia eclesiástica:

  • A hierarquia suprema, constituída dos serafins, querubins e tronos;
  • A hierarquia intermediária, constituída das dominações, virtudes e potestades;
  • A hierarquia baixa, constituída dos principados, dos arcanjos e dos anjos, este último sendo o coro de nossos anjos da guarda.

A diferença em ordem e hierarquia encontra sua razão na diversidade de graus de comunicação efetuadas por Deus a eles: somente a hierarquia suprema recebe as ordens diretamente de Deus. A intermediária as recebe da hierarquia suprema, a baixa, da intermediária.

Assim como os homens, os anjos foram criados como seres puramente naturais e, imediatamente, foram agraciados com a graça santificante, tornando-se filhos adotivos de Deus. Assim como os homens, os anjos foram também postos à prova antes de serem admitidos à Visão Beatífica, e por sua natureza puramente espiritual, livre dos enganos da carne e da volatilidade da Vontade, aqueles anjos que aceitaram a Deus, o fizeram de maneira definitiva, não podendo, portanto, pecar. São os santos anjos. De igual modo, os que  recusaram a Deus o fizeram de maneira definitiva, condenando-se eternamente. São estes os demônios.

Deus enviou-nos os anjos para serem nossos guardiões. Assim como São Rafael, em forma visível, acompanhou Santo Tobias em sua jornada (Tb 6), assim cada um de nós é acompanhado, espiritualmente, por um anjo da guarda. A presença do anjo da guarda conosco, todavia, não se dá em modo físico, mas de intelecto e ação. Um anjo está onde direciona sua inteligência e age. Em adição, os Doutores da Igreja ensinam que Deus designa também um anjo para cada nação, diocese, ordem religiosa e associação canonicamente instituída1.

Assim fez Deus para nosso auxílio. Pois o anjo das trevas, o Demônio, tendo caído do céu por seu orgulho, atravessa o caminho de nossa vida, como atravessou o de nossos primeiros pais. Fracos como somos, como o resistiríamos? Dignou-se, assim, a Divina Majestade dar-nos contra o ataque diabólico a ajuda angelical. Que pelos olhos da fé – e não os da carne – sejamos capazes de ver sua presença constante conosco.

 

O que nosso Anjo da Guarda faz por nós?

Os Santos Anjos da guarda nos defendem do mal, não apenas dos males do corpo, mas especialmente dos males da alma, através da sugestão de bons pensamentos, admoestações e inspirações. Aos que estão em estado de graça, auxiliam no aumento da graça e na conquista da virtude. Aos que estão em pecado convidando-os ao arrependimento  e conversão.

É esta sugestão de bons pensamentos e boas inspirações que chamamos de iluminação: Sendo os anjos de natureza superior aos homens, eles podem fortificar nosso entendimento e nos tornar cientes, de alguma maneira sensível, das verdades a que devemos corresponder, agindo assim sobre nosso intelecto.

Os anjos, porém, não podem agir em nossa Vontade, sendo esta campo de ação exclusivo de Deus. Isso se dá sobretudo pela sugestão de imagens na imaginação humana — campo em que anjos e demônios podem agir — e pela excitação dos sentidos exteriores, assumindo, por exemplo, uma forma visível ou fazendo que o homem veja ou sinta algo que não é real, mas reside apenas em sua imaginação.

É por meio dessas inspirações e sugestões de bons pensamentos que os anjos participam ativamente – e, poderíamos dizer, quase de modo essencial – em nossa salvação. Quão grande a misericórdia de Deus! Quão grande a humildade e a caridade de nosso Anjo Guardião para conosco!

 

Que atitude devemos ter para com nosso Anjo da Guarda?

Antes de tudo, nas palavras de São Bernardo, devemos reverenciar sua presença, ter devoção a sua benevolência e confiança em seu cuidado para conosco.

Mostramos reverência ao nosso anjo recordando continuamente de sua presença ao nosso lado e agindo de modo a nunca ofendê-lo; Mostramos essa reverência, ainda mais, considerando não apenas a presença do nosso anjo da guarda, mas também dos anjos das pessoas ao nosso redor, evitando qualquer coisa que possa causar escândalo ou desedificação aos outros (Mt 18, 10)

Mostramos devoção a sua benevolência sendo gratos ao nosso guardião, tendo docilidade e submissão a suas inspirações e imitando suas virtudes — sua obediência a Deus e conformidade com sua vontade, sua ardente caridade, seu zelo e constância, sua união com Deus. De igual modo, frequentemente invocando-o – pela manhã e pela noite, na desolação e tentação, e mesmo se nos encontramos – Deus não permita – no miserável estado de pecado.

Mostramos, por fim, nossa gratidão e confiança por seu cuidado não apenas por nossas orações e súplicas aos anjos, mas fazendo o que lhe é agradável: oração, visitas ao Santíssimo Sacramento e participação na liturgia e boas obras, em particular as obras que eles também fazem: auxiliando os demais homens, especialmente os jovens, a amar o bem e evitar o mal e os guiar, pelo exemplo e pela palavra, a Deus.

 

Ó Santo Anjo que assiste a minha pobre alma e preside à minha vida tão plena de paixões, não abandoneis o pecador que eu sou e não vos afasteis de mim em virtude de minha intemperança. Não dês espaço ao maligno demônio para reinar sobre mim, dominando com força este corpo mortal. Fortificai minha pobre e miserável mão e conduzi-me na via da salvação. Ó santo Anjo de Deus, Guardião e Protetor tanto de minha pobre alma como de meu corpo, perdoai-me tudo que Vos ofendi em todos os dias de minha vida; se pequei à noite passada, defendei-me neste dia e protegei-me de toda tentação diabólica, afim de que eu não encolerize por pecado algum meu Deus: Rogai por mim ao Senhor para que Ele me consolide em Seu temor e faça de mim um servo digno de Sua bondade. Assim seja.

  1. Como a congregação mariana

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